José
Maria Vasconcelos
josemaria001@hotmail.com
Deleitar-se,
neste feriado, à sombra das árvores da Praça da Liberdade, da
República, do Largo do Amparo, da Praça Deodoro, o mesmo logrador
onde Teresina nasceu, refletir sobre ideais republicanos. A
Proclamação da República, há 124 anos, defendia propostas
democráticas, e, como a praça de nossa capital, pouca coisa mudou.
O espírito republicano ainda tem de exercitar valores
esquecidos.
Os
brasileiros desfrutam um feriado republicano insosso, desencantados
com o estado de risco, até para atravessar o quarteirão da sua
residência. O país registra média de 50 mil assassinatos ao ano,
milhares de assaltos e sequestros ao mês, denúncias diárias de
corrupção de autoridades. Milhares de crianças e jovens escravos
das drogas e traficantes. O noticiário, mais atento aos traumas
sociais, não sobra tempo para a esperança de melhores dias.
Em
1889, o Brasil adotou o regime republicano, com o fim da
realeza e da hereditariedade da chefia de Estado. Um conjunto de
valores inspirava os republicanos, em especial: igualdade em relação
a todos os cidadãos; ausência de privilégios e distinções;
laicização do Estado, com a abolição do caráter oficial
religioso e instauração das liberdades de crença e de descrença;
dedicação de todas as forças sociais ao serviço da comunidade;
moralidade na política; fraternidade como critério das relações
humanas; plenitude da liberdade de expressão.
124 anos
depois da Proclamação da República, todos os ideais democráticos
propostos, na época, vigoram até hoje, mas carecem de outros, além
dos já proclamados em 1889: eles incluiriam, certamente, as
liberdades de costumes e de votar ou não; a inteira laicização do
Estado, a moralização da vida política e a elevação da qualidade
dos políticos e gestores públicos. Ainda falta ao cidadão se
conscientizar de que direitos e deveres andam acasalados, porém só
no que se fala é defender direitos.
Enorme
corrente de pensadores modernos prega a extinção completa da
influência das passagens bíblicas, pregadas por igrejas, na
formação do espírito republicano. Apontam, especialmente, a
repressão à união homoafetiva, o controle da natalidade, divórcio.
Para os pensadores, maioria agnóstica e marxista ateu, o veto ao
casamento homossexual corresponde a uma interferência direta da
religião de alguns na vida privada de outros e à manutenção de
uma desigualdade injusta.
A
república deve completar-se com a moralização da vida pública,
ou, mais exatamente, do comportamento dos políticos e dos agentes
governamentais, pela presença do senso de dedicação à sociedade e
do escrúpulo que leve à repugnância de servir-se o governante do
Estado, por meio de salários e aposentadorias elevados, de foro
especial, de benesses parlamentares, do peculato e do
clientelismo, que constituem os políticos em uma casta
privilegiada pelas suas prerrogativas legais, frequentemente
corruptas, moral e materialmente. Talvez lhes falte o que eles se
declaram contra: a formação ético-religiosa.
O
foco da formação e construção democráticas começa com a
educação do espírito, que se faz necessária para a convivência
em sociedade. Sem educação do espirito republicano e democrático,
atrelado a valores espirituais, a sociedade sofre de conflitos que se
veem hoje. À sombra das altaneiras árvores da Praça Deodoro, que
tal aproveitar o feriado para uma sadia e realista reflexão?
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