terça-feira, 19 de novembro de 2013

Como vai o espírito republicano?


José Maria Vasconcelos
josemaria001@hotmail.com

     Deleitar-se, neste feriado, à sombra das árvores da Praça da Liberdade, da República, do Largo do Amparo, da Praça Deodoro, o mesmo logrador onde Teresina nasceu, refletir sobre ideais republicanos. A Proclamação da República, há 124 anos, defendia propostas democráticas, e, como a praça de nossa capital, pouca coisa mudou. O espírito republicano ainda  tem de exercitar valores esquecidos.
     Os brasileiros desfrutam um feriado republicano insosso, desencantados com o estado de risco, até para atravessar o quarteirão da sua residência. O país registra média de 50 mil assassinatos ao ano, milhares de assaltos e sequestros ao mês, denúncias diárias de corrupção de autoridades. Milhares de crianças e jovens escravos das drogas e traficantes. O noticiário, mais atento aos traumas sociais, não sobra tempo para a esperança de melhores dias.  
   Em 1889, o Brasil adotou o regime republicano,  com o fim da realeza e da hereditariedade da chefia de Estado. Um conjunto de valores inspirava os republicanos, em especial: igualdade em relação a todos os cidadãos; ausência de privilégios e distinções;  laicização do Estado, com a abolição do caráter oficial religioso e instauração das liberdades de crença e de descrença; dedicação de todas as forças sociais ao serviço da comunidade; moralidade na política; fraternidade como critério das relações humanas; plenitude da liberdade de expressão.
    124 anos depois da Proclamação da República, todos os ideais democráticos propostos, na época, vigoram até hoje, mas carecem de outros, além dos já proclamados em 1889: eles incluiriam, certamente, as liberdades de costumes e de votar ou não; a inteira laicização do Estado, a moralização da vida política e a elevação da qualidade dos políticos e gestores públicos. Ainda falta ao cidadão se conscientizar de que direitos e deveres andam acasalados, porém só no que se fala é defender direitos.
     Enorme corrente de pensadores modernos prega a extinção completa da influência das passagens bíblicas, pregadas por igrejas, na formação do espírito republicano. Apontam, especialmente, a repressão à união homoafetiva, o controle da natalidade, divórcio. Para os pensadores, maioria agnóstica e marxista ateu, o veto ao casamento homossexual corresponde a uma interferência direta da religião de alguns na vida privada de outros e à manutenção de uma desigualdade injusta.
     A república deve completar-se com a moralização da vida pública, ou, mais exatamente, do comportamento dos políticos e dos agentes governamentais, pela presença do senso de dedicação à sociedade e do escrúpulo que leve à repugnância de servir-se o governante do Estado, por meio de salários e aposentadorias elevados, de foro especial, de benesses parlamentares, do peculato e do clientelismo, que constituem os políticos em uma casta privilegiada pelas suas prerrogativas legais, frequentemente corruptas, moral e materialmente. Talvez lhes falte o que eles se declaram contra: a formação ético-religiosa.
    O foco da formação e construção democráticas começa com a educação do espírito, que se faz necessária para a convivência em sociedade. Sem educação do espirito republicano e democrático, atrelado a valores espirituais, a sociedade sofre de conflitos que se veem hoje. À sombra das altaneiras árvores da Praça Deodoro, que tal aproveitar o feriado para uma sadia e realista reflexão?

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