sábado, 21 de dezembro de 2013

Grutas-moradia nos tempos bíblicos


José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com

          Peregrinar à Terra Santa exige dose de conhecimentos bíblicos, senão vira apenas aventura turística. Cada nesga do solo israelense evoca milenares histórias da epopeia humana, rica de revelações sobrenaturais.

          Rochas e montes abundam no solo onde Jesus, patriarcas, profetas, reis e dominadores, apóstolos, árabes, magos orientais e belas mulheres compuseram fantásticos capítulos da Bíblia. Montes e penhascos íngremes exigem possantes carros ou táxis mercedes benz para escalá-los. No alto do monte Tabor, 800 metros, Jesus transfigurou-se.  Vê-se, lá embaixo, a pequena cidade de Naim, onde ressuscitara o filho da viúva. Dondoca de Teresina, mais entendida em novelas do que em leitura bíblica, encantava-se com as mercedes. Fotografava-as, incessantemente, sem se ligar às explicações do guia.

          Grutas, no passado, serviam de moradia às pessoas e animais domésticos. Construíam-se casas sobre rochas. Debaixo delas, cavava-se a gruta. Espalhavam-se pelo deserto, servindo de guarida e repouso aos viajantes e animais.  Jesus compara o homem prudente ao que ergueu sua residência sobre a rocha, e o inconsequente, sobre a areia. Na Bíblia, encontram-se dezenas de referências às pedras e rochas, símbolos dos corações endurecidos ou da firmeza na fé (“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja”) . Nas montanhas, o encontro com o divino: Abraão no monte Mouriá; Moisés no monte Sinai; Elias no monte Carmelo; Jesus no monte das Oliveiras e Calvário. Rei Davi escreveu belo salmo (120 ou 121) , que eu, antes de viajar, repito: “Para os montes levanto os olhos: de onde virá o meu socorro? O meu socorro virá do Senhor, Criador do céu e da terra. Ele não permitirá que teus pés resvalem...” Sirvo-me também do salmo 90 (ou 91), aprendido com minha mãe, Dedé: “Anjos te sustentarão para que não tropeces em alguma pedra”.

          Provavelmente, a jovem Maria tenha residido em gruta de Nazaré, vila miserável e desprezada, na época. Na gruta, o anjo Gabriel anunciara-lhe a fecundação do Messias.

          Difícil aceitar o nascimento de Cristo em dezembro. O frio da estação não permitia pastores vigiar rebanho à noite, nos campos, conforme relata o evangelista Lucas (cap. 2). Jesus nasceu no verão de março. Provavelmente.

          José e Maria recolheram-se a uma gruta de Belém. Tinham dinheiro para custear hospedaria, mas faltavam vagas. A cidade, que fica a 5 km de Jerusalém, encontrava-se lotada de visitantes para o recenseamento imposto pelo imperador romano. O casal acomodou-se em uma gruta, em geral, do tamanho de uma sala social. José e Maria eram pobres, mas não miseráveis, como exalta o sentimentalismo religioso.

          Profetas e patriarcas souberam descobrir, nas pedras, penhascos e montanhas, o sentido da vida pelo esforço, fé e sublimação. Peregrinar pela Terra Santa renova a esperança aprendida na Bíblia. Como diz padre Tony: “A gente nunca volta a mesma pessoa, nem lê a Bíblia, como antes”.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário