José
Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Peregrinar
à Terra Santa exige dose de conhecimentos bíblicos, senão vira
apenas aventura turística. Cada nesga do solo israelense evoca
milenares histórias da epopeia humana, rica de revelações
sobrenaturais.
Rochas
e montes abundam no solo onde Jesus, patriarcas, profetas, reis e
dominadores, apóstolos, árabes, magos orientais e belas mulheres
compuseram fantásticos capítulos da Bíblia. Montes e penhascos
íngremes exigem possantes carros ou táxis mercedes benz para
escalá-los. No alto do monte Tabor, 800 metros, Jesus
transfigurou-se. Vê-se, lá embaixo, a pequena cidade de
Naim, onde ressuscitara o filho da viúva. Dondoca de Teresina, mais
entendida em novelas do que em leitura bíblica, encantava-se com as
mercedes. Fotografava-as, incessantemente, sem se ligar às
explicações do guia.
Grutas,
no passado, serviam de moradia às pessoas e animais domésticos.
Construíam-se casas sobre rochas. Debaixo delas, cavava-se a gruta.
Espalhavam-se pelo deserto, servindo de guarida e repouso aos
viajantes e animais. Jesus compara o homem prudente ao que
ergueu sua residência sobre a rocha, e o inconsequente, sobre a
areia. Na Bíblia, encontram-se dezenas de referências às pedras e
rochas, símbolos dos corações endurecidos ou da firmeza na fé
(“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja”) . Nas
montanhas, o encontro com o divino: Abraão no monte Mouriá; Moisés
no monte Sinai; Elias no monte Carmelo; Jesus no monte das Oliveiras
e Calvário. Rei Davi escreveu belo salmo (120 ou 121) , que eu,
antes de viajar, repito: “Para os montes levanto os olhos: de onde
virá o meu socorro? O meu socorro virá do Senhor, Criador do céu e
da terra. Ele não permitirá que teus pés resvalem...” Sirvo-me
também do salmo 90 (ou 91), aprendido com minha mãe, Dedé: “Anjos
te sustentarão para que não tropeces em alguma pedra”.
Provavelmente,
a jovem Maria tenha residido em gruta de Nazaré, vila miserável e
desprezada, na época. Na gruta, o anjo Gabriel anunciara-lhe a
fecundação do Messias.
Difícil
aceitar o nascimento de Cristo em dezembro. O frio da estação não
permitia pastores vigiar rebanho à noite, nos campos, conforme
relata o evangelista Lucas (cap. 2). Jesus nasceu no verão de março.
Provavelmente.
José
e Maria recolheram-se a uma gruta de Belém. Tinham dinheiro para
custear hospedaria, mas faltavam vagas. A cidade, que fica a 5 km de
Jerusalém, encontrava-se lotada de visitantes para o recenseamento
imposto pelo imperador romano. O casal acomodou-se em uma gruta, em
geral, do tamanho de uma sala social. José e Maria eram pobres, mas
não miseráveis, como exalta o sentimentalismo religioso.
Profetas
e patriarcas souberam descobrir, nas pedras, penhascos e montanhas, o
sentido da vida pelo esforço, fé e sublimação. Peregrinar pela
Terra Santa renova a esperança aprendida na Bíblia. Como diz padre
Tony: “A gente nunca volta a mesma pessoa, nem lê a Bíblia, como
antes”.
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