segunda-feira, 31 de março de 2014

A guerra das águas


Edmar Oliveira

Eu tinha até uma impressão de que a guerra ia acontecer, mas achava que não iria viver tanto para vê-la. Além do que também achava que a guerra ia começar noutros países e até chegar neste Brasil e sua imensa riqueza hídrica ia demorar mais ainda. Vez por outra lia notícias de falta d’água em outros continentes que provocavam algumas escaramuças, mas a guerra não tinha começado.

Por bem da verdade a falta d’água expulsou levas de nordestinos pobres, mas só os desvalidos, que a indústria da seca sempre foi rentável para as elites. Tinha a guerra da fome, não por água. Os miseráveis acalmavam-se com a polícia.


Mas nesse verão a água das duas grandes metrópoles ficou escassa. Por um fenômeno meteorológico não choveu, como de costume. As chuvas retidas fizeram a cheia do rio Madeira no Amazonas e as represas do sudeste ficaram em estado crítico. São Paulo deixou morrer o Tietê como o Rio deixou agonizar a Guanabara e toda sua bacia hídrica. O Rio só tem um rio – doente, mas ainda vivo – que saindo de São Paulo corta todo o estado e vai até perto do Espírito Santo desaguar no mar. Mas só este rio Paraíba alimenta todas as cidades deste estreito estado. Pois o governador de São Paulo ameaça tirar água dos afluentes e do começo do Paraíba no estado de São Paulo. Acha que tem o direito de sangrar o Paraíba para matar a sede dos paulistas. O governador do Rio, acostumado às bravatas, responde que no Paraíba ninguém mete a mão. O governo federal não se mexeu para legislar a guerra d’água. O pau vai comer feio. Foi dado a largada para a guerra das águas. Com a poluição avançando tanto, o precioso líquido logo vai valer mais que petróleo. Aliás, em alguns restaurantes do Sudeste, meio litro de água vale mais que um litro de gasolina. O bicho vai pegar!



E fico aqui imaginando como era rica de água a minha Teresina nascida entre dois rios. O Parnaíba está morrendo a olhos vistos, desde a construção da barragem de Boa Esperança e assoreado nas duas margens. Os esgotos da Teresina velha sempre poluíram as águas do “velho monge” – como o poeta o chamava – e sua batina barrenta tá ficando podre. Pior destino teve o outro rio. O Poty recebe “in natura” os esgotos dos prédios da Teresina dos novos ricos e a água ficou tão suja, que um tapete verde de aguapés – que crescem em contato com a merda – cobre todo o espelho d’água. Eu mesmo já desci debaixo da ponte velha que sai da avenida Frei Serafim e constatei que a merda dos ricos é jogada sem tratamento no rio Poty. Teresina tem o seu próprio Tietê e já, já, vai entrar numa guerra das águas com o Maranhão!    


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