quinta-feira, 10 de julho de 2014

A DERROCADA DE NOSSA SELEÇÃO


10 de maio   Diário Incontínuo

A DERROCADA DE NOSSA SELEÇÃO

Elmar Carvalho

Quando o Dr. Alfredo Nunes, que exerceu a presidência da Confederação Brasileira de Futebol, me deu um distintivo da CBF/Seleção Brasileira, alguns anos atrás, disse-me estas palavras, que jamais esquecerei: “Estou lhe dando este escudo porque tenho notícia de que você foi um bom goleiro do futebol amador.” Durante esta Copa do Mundo, passei a usá-lo, com mais frequência, tentando incutir em mim mesmo uma confiança, que na verdade não tinha, em nossa seleção canarinho.

Pela mesma razão, na véspera dos jogos contra as seleções da Colômbia e da Alemanha, fui caminhar na Raul Lopes, envergando a camisa de nosso escrete nacional; na primeira vez usei a amarela, e na segunda, a azul. Em ambas, estavam estampadas as cinco estrelas representativas do pentacampeonato conquistado.

Um conhecido, sorrindo, algo ironicamente, chamou-me de patriota, ao que, de imediato, lhe retruquei: “Estou usando esta camisa hoje, porque não sei se a partir de amanhã ainda poderei vesti-la.” Contei esse episódio anedótico a um outro amigo caminhante, que me garantiu, com muita ênfase, com o polegar para cima, em sinal de positivo: “Vai continuar, sim.” Não sei se realmente ele tinha fé em nosso escrete, ou se apenas simulava.

Dias antes, no auditório da Academia Piauiense de Letras, eu havia conversado com o grande comentarista esportivo Carlos Said, e ele me revelou o seu pessimismo em relação à possibilidade de conquista do hexacampeonato. Declinou os fundamentos de sua descrença, que não irei aqui alinhavar; certamente ele próprio o fará, em sua coluna jornalística. Eu comungava de suas mesmas razões, e lhe disse isso, embora não tenha os conhecimentos do sapientíssimo mestre.

Não irei, neste breve registro, dissertar sobre táticas, técnicas e estratégias futebolísticas, mesmo porque não sou a pessoa mais indicada para esse mister. Apenas direi algumas palavras, ao sabor do improviso e do correr da pena, ou melhor, da digitação e do teclado. Ontem, ao ligar para um amigo, o Natim Freitas, sobrinho de minha mulher, disse-lhe que achava que o Brasil iria vencer a Alemanha pelo placar de 2 a 0 ou 2 a 1. Falei isso sem muita convicção, claro, pois acrescentei que se os germânicos viessem a vencer não seria uma surpresa para mim.

O que me levava a acreditar na possível vitória alemã era o fato de que, em nenhuma partida da copa, o nosso time nacional me passara a convicção de que era uma equipe forte, bem entrosada, segura, confiante. Ao contrário, me parecia insegura, imatura, com jogadores à beira de um ataque de nervos, excessivamente entregues a choros e emoções, e, o que é pior, cuja frágil confiança parecia repousar em um único craque, o Neymar. Louve-se a ética e o respeito dos craques alemães, que foram muito comedidos nas comemorações, e não tripudiaram sobre a nossa acachapante derrocada.

Ora, o futebol é um esporte por excelência associativo, em que todos os onze jogadores devem funcionar a contento. Quando as jogadas coletivas não predominam sobre as individuais toda esperança é frágil ou sem sentido. O certo é que o resultado dos jogos não me agradou, inclusive chegando ao cúmulo de haver uma decisão por pênalti (após uma prorrogação em que o placar continuou sem gol), na qual dois de nossos atletas desperdiçaram as cobranças. Em síntese, mesmo nos pênaltis, os nossos “amarelinhos” amarelaram. Até o nosso gol de honra, contra os sete da goleada alemã, foi envergonhado, e não mereceu sequer a comemoração de seu autor.

Trago ao leitor um pequeno trecho, por sinal muito pertinente, de um abalizado comentário que li no portal da UOL, da autoria de Júlio Gomes: “(...) somos arrogantes no futebol. Mais até do que os americanos são com o basquete. Não aceitamos a superioridade alheia. O Brasil precisa perder por 7 a 1 para que as pessoas se deem conta de que o rival é superior (e ainda tem muita gente usando o argumento do “resultado atípico''). Se perdesse por 2 a 0 ou 3 a 1, teria sido por culpa do Neymar, do juiz, do Zuñiga, do vento, da trave, do sal grosso. Sempre encontra-se uma justificativa para a derrota.”

Esse comentarista acrescentou que um seu amigo lhe dissera que, se o brasileiro para quase tudo tem um complexo de vira-lata, no futebol torna-se arrogante, e passa a ter um complexo de pitbull. Acrescento eu, para não perder o bonde da gozação e da rima: e pitbull energizado por red bull. E para piorar o que já era trágico, o torcedor brasileiro adquiriu um novo “complexo canino”; agora tem pânico de encontrar um pastor alemão.

O goleiro Júlio César, em entrevista à rede Globo, disse que era difícil explicar o inexplicável. Não acho que tenha havido algo de “inexplicável”. Tudo está bem explicado; basta que se confrontem as boas atuações da Seleção Alemã e os insatisfatórios resultados dos jogos da nossa, considerando-se o nível dos escretes contra os quais ela atuou.

Não nos foi bastante a derrota; tínhamos que perder pelo humilhante escore de 7 a 1. Com esse vexatório fiasco, o falastrão Galvão Bueno, que exibia um exacerbado ufanismo, sem base em fatos reais, por iniciativa própria ou por recomendação da rede Globo, passou a reconhecer os erros e o baixo rendimento de nossa seleção em todos os jogos da copa, até com certa ênfase, coisa que jamais fez nas fases anteriores, quando sempre acenava para a conquista do “hexa”, com os seus famigerados sete passos, que sempre se desenharam capengas.

Conta-se o fato, ao que parece um tanto lendário, de que o holandês Adriaen Pater, ao se sentir na iminência de morrer em uma batalha naval, teria exclamado: “O oceano é o único sepulcro digno de um almirante batavo.” Por falar em Holanda, restava-nos torcer pela seleção desse país, mas esta também soçobrou, e contra ela vamos disputar a terceira colocação.


Não temos sequer o melancólico consolo de uma frase de efeito, uma vez que não pode existir nenhuma consolação para nosso humilhante naufrágio, o maior da história de nossa Seleção.     

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