10 de maio Diário Incontínuo
A DERROCADA DE
NOSSA SELEÇÃO
Elmar Carvalho
Quando o Dr.
Alfredo Nunes, que exerceu a presidência da Confederação Brasileira de Futebol,
me deu um distintivo da CBF/Seleção Brasileira, alguns anos atrás, disse-me
estas palavras, que jamais esquecerei: “Estou lhe dando este escudo porque
tenho notícia de que você foi um bom goleiro do futebol amador.” Durante esta
Copa do Mundo, passei a usá-lo, com mais frequência, tentando incutir em mim mesmo uma confiança,
que na verdade não tinha, em nossa seleção canarinho.
Pela mesma
razão, na véspera dos jogos contra as seleções da Colômbia e da Alemanha, fui
caminhar na Raul Lopes, envergando a camisa de nosso escrete nacional; na
primeira vez usei a amarela, e na segunda, a azul. Em ambas, estavam estampadas
as cinco estrelas representativas do pentacampeonato conquistado.
Um conhecido,
sorrindo, algo
ironicamente, chamou-me de patriota, ao que, de imediato, lhe retruquei: “Estou
usando esta camisa hoje, porque não sei se a partir de amanhã ainda poderei vesti-la.”
Contei esse episódio anedótico a um outro amigo caminhante, que me garantiu,
com muita ênfase, com o polegar para cima, em sinal de positivo: “Vai
continuar, sim.” Não sei se realmente ele tinha fé em nosso escrete, ou se
apenas simulava.
Dias antes, no
auditório da Academia Piauiense de Letras, eu havia conversado com o grande
comentarista esportivo Carlos Said, e ele me revelou o seu pessimismo em
relação à possibilidade de conquista do hexacampeonato. Declinou os fundamentos
de sua descrença, que não irei aqui alinhavar; certamente ele próprio o fará,
em sua coluna jornalística. Eu comungava de suas mesmas razões, e lhe disse
isso, embora não tenha os conhecimentos do sapientíssimo mestre.
Não irei, neste
breve registro, dissertar sobre táticas, técnicas e estratégias futebolísticas,
mesmo porque não sou a pessoa mais indicada para esse mister. Apenas direi
algumas palavras, ao sabor do improviso e do correr da pena, ou melhor, da
digitação e do teclado. Ontem, ao ligar para um amigo, o Natim Freitas,
sobrinho de minha mulher, disse-lhe que achava que o Brasil iria vencer a
Alemanha pelo placar de 2 a 0 ou 2 a 1. Falei isso sem muita convicção, claro,
pois acrescentei que se os germânicos viessem a vencer não seria uma surpresa
para mim.
O que me levava
a acreditar na possível vitória alemã era o fato de que, em nenhuma partida da
copa, o nosso time nacional me passara a convicção de que era uma equipe forte,
bem entrosada, segura, confiante. Ao contrário, me parecia insegura, imatura,
com jogadores à beira de um ataque de nervos, excessivamente entregues a choros
e emoções, e, o que é pior, cuja frágil confiança parecia repousar em um único
craque, o Neymar. Louve-se a ética e o respeito dos craques alemães, que foram
muito comedidos nas comemorações, e não tripudiaram sobre a nossa acachapante
derrocada.
Ora, o futebol é
um esporte por excelência associativo, em que todos os onze jogadores devem
funcionar a contento. Quando as jogadas coletivas não predominam sobre as
individuais toda esperança é frágil ou sem sentido. O certo é que o resultado
dos jogos não me agradou, inclusive chegando ao cúmulo de haver uma decisão por
pênalti (após uma prorrogação em que o placar continuou sem gol), na qual
dois de nossos atletas desperdiçaram as cobranças. Em síntese, mesmo nos
pênaltis, os nossos “amarelinhos” amarelaram. Até o nosso gol
de honra, contra os sete da goleada alemã, foi envergonhado, e não mereceu
sequer a comemoração de seu autor.
Trago ao leitor
um pequeno trecho, por sinal muito pertinente, de um abalizado comentário que
li no portal da UOL, da autoria de Júlio Gomes: “(...) somos arrogantes no
futebol. Mais até do que os americanos são com o basquete. Não aceitamos a
superioridade alheia. O Brasil precisa perder por 7 a 1 para que as pessoas se
deem conta de que o rival é superior (e ainda tem muita gente usando o
argumento do “resultado atípico''). Se perdesse por 2 a 0 ou 3 a 1, teria sido
por culpa do Neymar, do juiz, do Zuñiga, do vento, da trave, do sal grosso.
Sempre encontra-se uma justificativa para a derrota.”
Esse
comentarista acrescentou que um seu amigo lhe dissera que, se o brasileiro para
quase tudo tem um complexo de vira-lata, no futebol torna-se arrogante, e passa
a ter um complexo de pitbull. Acrescento eu, para não perder o bonde da gozação
e da rima: e pitbull energizado por red bull. E para piorar o que já era trágico,
o torcedor brasileiro adquiriu um novo “complexo canino”; agora tem pânico de
encontrar um pastor alemão.
O goleiro Júlio
César, em entrevista à rede Globo, disse que era difícil explicar o
inexplicável. Não acho que tenha havido algo de “inexplicável”. Tudo está bem
explicado; basta que se confrontem as boas atuações da Seleção Alemã e os
insatisfatórios resultados dos jogos da nossa, considerando-se o nível dos
escretes contra os quais ela atuou.
Não nos foi
bastante a derrota; tínhamos que perder pelo humilhante escore de 7 a 1. Com
esse vexatório fiasco, o falastrão Galvão Bueno, que exibia um exacerbado ufanismo,
sem base em fatos reais, por iniciativa própria ou por recomendação da rede
Globo, passou a reconhecer os erros e o baixo rendimento de nossa seleção em
todos os jogos da copa, até com certa ênfase, coisa que jamais fez nas fases
anteriores, quando sempre acenava para a conquista do “hexa”, com os seus
famigerados sete passos, que sempre se desenharam capengas.
Conta-se o fato,
ao que parece um tanto lendário, de que o holandês Adriaen Pater, ao se sentir
na iminência de morrer em uma batalha naval, teria exclamado: “O oceano é o
único sepulcro digno de um almirante batavo.” Por falar em Holanda, restava-nos
torcer pela seleção desse país, mas esta também soçobrou, e contra ela vamos
disputar a terceira colocação.
Não temos sequer
o melancólico consolo de uma frase de efeito, uma vez que não pode existir
nenhuma consolação para nosso humilhante naufrágio, o maior da história de
nossa Seleção.
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