SERVIÇO PÚBLICO: UMA VIA DE MÃO ÚNICA
Jacob Fortes
Seria no mínimo
desairoso de minha parte, para não falar em agravo, pretender explicar ao nobre
leitor, e até mesmos aos brasileiros sem provisão de letras, o significado de
mão única. Pois é. O serviço público brasileiro é uma via de sentido único: só
vai, não vem. Isso ocorre de modo não manifesto; não há placa indicativa dessa
subjacente constatação. Envie correspondência a dez empresas privadas e
receberá dez respostas. Envie correspondências a dez entes públicos e, por obra
da sorte, que bafeja a poucos, ou amerceamento divino, receberá uma resposta,
no máximo duas. Essa apatia é da essência da cultura do serviço público: não
vê, e se vê não admite, a importância de respostar às indagações ou pleitos dos
contribuintes. Mas os cidadãos brasileiros, entregues à penitência de pagar
imposto de alto preço, merecem que as suas correspondências sejam respostadas
pelos entes públicos: municipal, estadual e federal, com certa rapidez. Se para isso há que se ter o amparo da força
irrefutável da lei que algum político, que não esteja ocupado em missões
corruptivas, apresente esse projeto. Ainda há tempo de pôr fim ao cometimento
dessa injustiça, que se caracteriza por manter o isolamento dos cidadãos;
sujeitos, aliás, a muitos deveres. É preciso corrigir essa visão estrábica: em
vez de manter os cidadãos afastados os entes públicos precisam interagir com
eles. Esses entes devem ser instados,
ainda que por imperativo de lei, a por em prática a via de mão dupla. É uma
imposição do justo; do conhecimento que se constrói através do diálogo.
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