Arrocha,
professor!
José Maria
Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Acabo de receber mensagem da arquiteta Goretti Mendes, minha ex-aluna. O
convite é-me simpático: ”Estamos organizando o encontro de nossa turma. Será um
jantar no buffet... podemos contar com a sua presença, bem como da nossa colega
Rita?...”
Uma das gratas satisfações do exercício
do magistério é o convívio prazeroso com a geração adolescente, bela, saudável
e sonhadora, apesar dos rompantes de rebeldia da idade. Muito cedo, ainda no
primeiro ano de faculdade, fui para as salas de aula de escolas públicas e
privadas. Empolgado, vibrante, irreverente, cobrador de tarefas, saltitante,
ensinava sempre em pé.
Estudante pena, quando convocado para
falar em público, explicar como elaborou a tarefa de casa, quais os resultados
encontrados. Eu os “torturava”, exigindo-lhes exemplos extraídos de revistas,
fotografias dos locais onde garimparam informações, gravação com entrevistados,
para produção de texto. Eu não lhes permitia moleza, embromação ou pesca. A
aula virava circo, e, por incrível pareça, conquistava fãs, especialmente dos
mais desembaraçados e moleques. Eu me dava bem com eles, atazanando-me a
paciência. Promovia-os com tarefas e exaltação ao talento. Alunos traquinas
deixam saborosas recordações.
“Arroche,
professor! Não permita estudante sem atividade. Aproveite as inesgotáveis
fontes de energia dos jovens. Aluno problemático, professor despreparado”
- Advertia-me o diretor do Diocesano,
Padre Luciano. E eu repetia a lição em outras escolas, incluindo as públicas.
No final do ano letivo, generoso, não os reprovava.
A sala de aula surpreende , quando despontam perguntas para
aplicar rasteira no mestre. Djalma Filho, advogado e professor de Direito,
brilhante aluno, exibia raro talento, quando convocado para apresentar, em público,
resultado de sua pesquisa. Um dia, em pé, frente aos colegas, virado para a
lousa, pegou giz, escreveu: “O que dizes não é o que tu fazes”. E me desafiou,
autoritário e voz alta para envenenar os colegas: Professor, divida e
classifique este período. Senti a serpente engasgar-me com fruto da arrogância.
Pergunta típica para derrubar muitos professores de português. “Djalma, escolhe
outra, porque esta marmelada já comi. O período se divide assim: O/QUE DIZES/
NÃO É O/ QUE TU FAZES. Oração principal: O (isto, aquilo) NÃO É O (isto,
aquilo). As outras duas: orações subordinadas adjetivas.” Hoje, Djalma
abraça-me onde me encontra, mesmo em fila para comunhão, na missa.
Vale a pena encontrar amigos, ex-alunos e mestres. Na mesma
semana do falecimento de minha mãe Dedé e de meu aniversário, pude avaliar os
tentáculos e horizontes das redes sociais: quase duzentas mensagens e pouco
tempo para responder a todos. Graças ao milagre tecnológico, Goretti Mendes
descobriu-me para encontro com o passado. Irei abraçar a geração tostada pelo
tempo. Claro, Rita, aquela aluna com quem me casei, acompanhar-me-á. Uma paixão
forte quanto o entusiasmo em sala de aula.
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