GHOST, a sublimação do amor
José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Cronista, josemaria001@hotmail.com
Ronaldo Terra
prepara-se para enfrentar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM): “O professor
de redação estabeleceu que desenvolvêssemos um tema de crítica à banalização do
amor, nas novelas, músicas e relações afetivas entre os jovens. Professor, dê
uma mãozinha, pois ainda não me apaixonei por uma garota”.
É, Ronaldo,
você sabe muito bem utilizar suas mãozinhas para desnudar a intimidade das
garotas, especialmente das safadinhas. Vocês traduzem essa relação, de “ficar”,
a fórmula mágica do amor. No entanto, Ronaldo, a liturgia do amor não antecede
com liberdade sexual, que deveria ser aguardada, prudentemente, para a mais
tarde, depois de uma série de convivência disciplinada. Sentimento amoroso não
combina com a paixão, que, frequentemente, desemboca nos versos de Carlos
Drummond de Andrade: “O amor bate na porta/o amor bate na aorta/fui abrir e me
constipei”.
A agitação
moderna, na tentativa estressante de conquistas profissionais e materiais, vem
brutalizando relações afetivas, rejeitando trivial bom-dia, desculpem, por
favor, a bênção papai e mamãe. Músicas que retratam afetos sublimes ou
estimulam raro prazer são substituídas por conteúdos animalescos, sem algo de
sublimação. Quer exemplo de música saudável? Ligue o som da trilha sonora do
filme Ghost, do outro lado da vida, 1990, estrondoso sucesso até hoje. Observe
a tradução da letra e se arrepie, umedeça os olhos, como eu: “Oh meu amor,
minha querida!/Eu estou faminto pelo seu toque/O tempo passa devagar, tão
devagar/E ao mesmo tempo pode fazer tanta coisa/Será que você ainda é minha?/Eu
preciso de seu amor/Que Deus mande logo seu amor para mim/Os rios solitários
fluem para o mar/ Para o mar, para os braços abertos para o mar/Ao lado dos
rios solitários, espere por mim/Estarei voltando para casa/Espere por mim, oh
meu amor, minha querida/Estou faminto de seu toque/Por um longo e solitário
tempo/O tempo passa tão devagar/E ao mesmo tempo fazer tanta coisa!/Será que
você ainda é minha?/Eu preciso de seu amor/Que Deus mande logo o seu amor para
mim.”
O ser humano
carece de sonhos que estimulem vértices de felicidade, somente encontrada no
afeto, especialmente familiar, na generosidade e exercício das virtudes. No
momento em que se rompem laços fraternos e sentimentos amorosos, a angústia e
pesadelos rompem as fronteiras da paz interior. Não há cura, senão no exercício
do afeto. O espírito desce ao inferno quando busca o sonho sublime nas drogas.
Louvável a
ideia do professor de redação ao estimular os estudantes a elaborarem um texto
que aborde o sentimento amoroso da atual juventude. Bom começo para se estender
aos círculos de debate, em programas de rádio, na escolha de repertório musical
mais decente, em vez das canções insossas, vazias de nobres sentimentos. Nas
instituições de recuperação de viciados, inclusive nos presídios, podem-se
conseguir ótimos resultados de cura, utilizando canções que fecundem o espírito
de sentimentos afetivos. Em casa, os pais tentassem estabelecer vínculos com os
filhos, ouvindo e interpretando músicas que toquem fundo as fibras de saudáveis
sentimentos. Infelizmente, o tom maior é a agressão, que não cola como tema de
uma produção de texto.
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