sábado, 27 de setembro de 2014

GHOST, a sublimação do amor


GHOST, a sublimação do amor

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria001@hotmail.com
  

         Ronaldo Terra prepara-se para enfrentar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM): “O professor de redação estabeleceu que desenvolvêssemos um tema de crítica à banalização do amor, nas novelas, músicas e relações afetivas entre os jovens. Professor, dê uma mãozinha, pois ainda não me apaixonei por uma garota”.

         É, Ronaldo, você sabe muito bem utilizar suas mãozinhas para desnudar a intimidade das garotas, especialmente das safadinhas. Vocês traduzem essa relação, de “ficar”, a fórmula mágica do amor. No entanto, Ronaldo, a liturgia do amor não antecede com liberdade sexual, que deveria ser aguardada, prudentemente, para a mais tarde, depois de uma série de convivência disciplinada. Sentimento amoroso não combina com a paixão, que, frequentemente, desemboca nos versos de Carlos Drummond de Andrade: “O amor bate na porta/o amor bate na aorta/fui abrir e me constipei”.

         A agitação moderna, na tentativa estressante de conquistas profissionais e materiais, vem brutalizando relações afetivas, rejeitando trivial bom-dia, desculpem, por favor, a bênção papai e mamãe. Músicas que retratam afetos sublimes ou estimulam raro prazer são substituídas por conteúdos animalescos, sem algo de sublimação. Quer exemplo de música saudável? Ligue o som da trilha sonora do filme Ghost, do outro lado da vida, 1990, estrondoso sucesso até hoje. Observe a tradução da letra e se arrepie, umedeça os olhos, como eu: “Oh meu amor, minha querida!/Eu estou faminto pelo seu toque/O tempo passa devagar, tão devagar/E ao mesmo tempo pode fazer tanta coisa/Será que você ainda é minha?/Eu preciso de seu amor/Que Deus mande logo seu amor para mim/Os rios solitários fluem para o mar/ Para o mar, para os braços abertos para o mar/Ao lado dos rios solitários, espere por mim/Estarei voltando para casa/Espere por mim, oh meu amor, minha querida/Estou faminto de seu toque/Por um longo e solitário tempo/O tempo passa tão devagar/E ao mesmo tempo fazer tanta coisa!/Será que você ainda é minha?/Eu preciso de seu amor/Que Deus mande logo o seu amor para mim.”

         O ser humano carece de sonhos que estimulem vértices de felicidade, somente encontrada no afeto, especialmente familiar, na generosidade e exercício das virtudes. No momento em que se rompem laços fraternos e sentimentos amorosos, a angústia e pesadelos rompem as fronteiras da paz interior. Não há cura, senão no exercício do afeto. O espírito desce ao inferno quando busca o sonho sublime nas drogas.

         Louvável a ideia do professor de redação ao estimular os estudantes a elaborarem um texto que aborde o sentimento amoroso da atual juventude. Bom começo para se estender aos círculos de debate, em programas de rádio, na escolha de repertório musical mais decente, em vez das canções insossas, vazias de nobres sentimentos. Nas instituições de recuperação de viciados, inclusive nos presídios, podem-se conseguir ótimos resultados de cura, utilizando canções que fecundem o espírito de sentimentos afetivos. Em casa, os pais tentassem estabelecer vínculos com os filhos, ouvindo e interpretando músicas que toquem fundo as fibras de saudáveis sentimentos. Infelizmente, o tom maior é a agressão, que não cola como tema de uma produção de texto. 

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