sábado, 19 de dezembro de 2015

No Caminho de Volta pra Casa Ninguém se Perde


No Caminho de Volta pra Casa Ninguém se Perde

José Pedro Araújo
Cronista e historiador

Vivi menos de quinze anos na minha terra, na minha querência, dos mais sessenta que tenho hoje. No mais, minha convivência com o velho Curador tem sido menor do que eu desejava. A necessidade de batalhar pelo pão de cada dia me levou para longe da singeleza que tanto aprecio, lugar em que vi a claridade do sol pela primeira vez.

Todavia, mesmo para passar fugazes momentos, começo a sentir aquele friozinho gostoso na barriga desde o dia anterior ao da partida. Aliás, preciso fazer um parêntese aqui para justificar porque uso tão frequentemente o nome Curador no mais das vezes em que me refiro à terrinha. Querem mesmo saber? Porque tem maior sonoridade, é mais palatável, deixa sabor na língua. Acho-o mais poético até. Sinceramente, experimentem falar Presidente Dutra ao se referirem à terra querida. Depois, empreguem o termo Curador. Sou de Presidente Dutra. Sou do Curador. Gosto mais da segunda frase. Entretanto, não discuto com quem ache o contrário. Trata-se, apenas e tão somente, de um jeito de ver as coisas, de sentir gosto ao pronunciar o topônimo das duas maneiras. Já quanto ao gentílico, tenho dúvidas se presidutrense não é mais gostoso de pronunciar do que curadoense. Mas, voltemos à estrada que trafegávamos antes de investir por este atalho.

Falei que já sinto um friozinho leve na barriga ao se aproximar o dia da minha viagem à minha querência. Esse sentimento aumenta à medida que ultrapasso os chapadões de Caxias e começo a ver os coqueirais de Codó, ali bem antes do Dezessete. Notem que estou trafegando pela estrada habitual e de melhor condição, a BR-316. Em Peritoró então, já me sinto em casa. Pouco mais de uma hora depois já avisto a torre da matriz de São Sebastião, ai então o friozinho se transforma em pura adrenalina. A alegria de voltar para casa me faz entrar em profundo êxtase, em um estado de felicidade total.

Certo pensador inglês, George Moore, cunhou a seguinte frase: Um homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo. É como me sinto ao voltar para casa. Tal alegria só encontro lá. Caminhar pelas ruas da cidade é como reviver um passado que sempre teima em voltar à memória. Sinto-me andando pela minha casa de morada. Não preciso da claridade para andar firme e seguro pelas ruas por onde sempre andei, corri, tropecei e aprendi a me erguer a cada tombo.

Estar com os meus, abraçar a minha mãe e os meus irmãos e amigos, é um aditivo a mais nesse alegre exercício de voltar no tempo. Claro, a falta que meu pai me faz, não pode ser substituída por nenhum outro sentimento. Do mesmo modo, sinto a falta daqueles parentes e amigos que já nos deixaram. Consolo-me ao adentrar em  alguma das casas onde moraram. Requer forças redobradas para impedir que as lágrimas me toldem os olhos. Somos recompensados com a imagem dessas pessoas nas fotografias pregadas nas paredes ou postadas sobre os móveis na sala. Sei que eles ainda estão ali, em espírito, mas, estão e sempre estarão.

Tenho procurado, nos últimos anos, conviver diariamente com as coisas do meu querido torrão, através das pesquisas. Tudo o que aconteceu no passado me interessa. Quero reviver os acontecimentos que nortearam a nossa caminhada para recontar a todos que se interessam pela história de um povo que precisou superar todos os tipos de dificuldades para tornar aquela região deserta e insalubre em um lugar bom para se viver. Deste modo, todos os dias estou em contato com o meu passado. O presente também me interessa sobremaneira. E as novas tecnologias tem facilitado isso. A internet e o telefone são instrumentos que me ligam diariamente ao meu velho e querido Curador. As tristezas e as alegrias são vividas quase em tempo real. Portanto, estou sempre retornando ao meu pedaço de chão.

Como agora quando tento passar para o papel o presente texto.     

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