C@ARTA AO POETA CHICO MIGUEL
Elmar Carvalho
Remexendo em velhos papéis, encontrei o convite que o
bardo Francisco Miguel de Moura me havia enviado para as bodas de ouro de seu
casamento com dona Mécia. A comemoração estava marcada para o dia 08.12.2009,
dia de N. S. da Conceição. Por ser feriado nacional, confirmei-lhe a minha
presença, tanto por telefone, como pessoalmente, quando nos encontramos em nossa
reunião na Academia.
Infelizmente, em virtude da Semana da Conciliação, o
Tribunal de Justiça transferiu o feriado para a segunda-feira seguinte. De modo
que, não podendo comparecer às bodas do casal amigo, que conheço desde o final
da década de setenta, resolvi encaminhar-lhes, de minha Comarca, um e-mail, na
data do jubileu matrimonial, a que dei o
título de C@RTA AO POETA CHICO MIGUEL, que para honra minha foi lido na festa.
Julgo importante transcrevê-lo:
“Caro poeta Chico Miguel: Deveres profissionais me
impedem de participar de sua festa de Bodas de Ouro, comemorativa de seu meio
século de feliz união conjugal, como era meu desejo, para confraternizar com o
amigo, dona Mécia, seus filhos e nossos vários amigos comuns. Entretanto, nada
me impede de lhe dirigir algumas palavras, que calo no peito há muito tempo,
aguardando o momento propício para deixá-las aflorar.
Você é um típico sertanejo, apesar da pele clara e dos
olhos azuis. E como bom sertanejo, é antes e acima de tudo um forte, no dizer
euclidiano. Nascido em Francisco Santos, então povoado de Jenipapeiro, estudou,
mourejou, você que é um Moura, estirpe de boa fama, e venceu. Criou os filhos
com dignidade, sobretudo através da boa palavra e do bom exemplo.
Sob sua liderança, reerguemos, nós, um punhado de
escritores, a União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE-PI. Você promoveu
vários eventos em sua profícua administração e legalizou a entidade, para que
ela existisse de fato e de direito.
Diria que o amigo é um poeta do coração e da razão, no
perfeito equilíbrio dessas duas vertentes. Sem ser um cerebralista, cultiva a
inteligência, a criatividade, o labor, a leitura e a lapidação perfeccionista
dos seus escritos, desbastando a sua fatura literária dos lugares comuns, das
construções insípidas e da mesmice. Mas sem deixar de lado a emoção e a paixão,
e os sentimentos desprovidos de pieguice.
Creio seja você o último remanescente dos polígrafos,
a esgrimir a prosa e os versos com invulgar habilidade, e tanto na prosa como
no verso produzindo diferentes gêneros da arte de escrever. Em textos
eminentemente literários tem cometido belos poemas, urdido admiráveis versos, e
enfrentado com galhardia e desembaraço o romance e o conto. Na teoria
literária, na crítica e na historiografia, escreveu um notável livro de nossa
história literária, elaborou percucientes e instigantes ensaios e crítica
literária, em que se percebe a sua avantajada cultura humanística e o seu
invejável lastro de conhecimento em literatura.
Considero-o, sem nenhum favor, um de nossos mais
honestos intelectuais e críticos, porque não faz concessões espúrias, nem
tampouco ignora aqueles que realmente têm merecimento, dando a cada um o seu
justo valor, entretanto sem achincalhes desnecessários e desumanos, e sem alardes
laudatórios.
Sem dúvida é o amigo um legítimo escritor e poeta, por
devoção e vocação incontrastável. E alimentou essa vocação e devoção através de
longas leituras, perquirições e ruminações reflexivas, mediante uma
inteligência poderosa, porém cultivada no constante esforço pessoal, de que sou
testemunha.”
27 de janeiro de 2010
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