Saraiva e Alberto Silva,
semelhanças empreendedoras
José Maria Vasconcelos
Cronista,
josemaria001@hotmail.com
Cid Castro Dias, engenheiro, escritor,
membro da Academia Piauiense de Letras, pesquisador, projetista de barragens,
irrigação e construções. Assessorou o governador Alberto Silva nas inumeráveis
obras públicas. Cid, habitualmente, senta-se à minha mesa, noTeresina Shopping,
às sextas. Adora plantar. Ensinou-me a cultivar Camu-Camu, frutinha amazônica,
semelhante a guabirabas, teor altíssimo de vitamina C, mais que acerolas. Cid
me fala da próxima edição do livro, ENGENHARIA PIAUIENSE, em que aborda as
obras mais importantes da engenharia de todos os governadores do Piauí e e dos
prefeitos de Teresina. Centenas de fotos históricas, einformações, dignas de
estudos escolares. Dois governadores despertram-me atenção, pela semelhança de
espírito empreendedorista, raça e desafios em prol do Piauí.
José Antônio Saraiva, baiano,
advogado, 27 anos, presidente da Província do Piauí, por escolha e amizada de
D.Pedro II, em 1850. Logo descobriu que a capital, Oeiras, instalada em pleno
sertão, sem rios navegáveis nem fontes produtivas para alimentar e abastecê-la,
no futuro, uma metrópole. Desde o século VIII, antecessores de Saraiva
discutiam e aprovavam planos de transferência da antiga capital para a Vila do
Poti, futura Teresina. Interesses políticos, porém, esbarravam em obstáculos.
Ademais, Parnaíba, Piracuruca e Amarante disputavam a sede da capital. Saraiva
e e antecessores conheciam a imensa flora e fauna entre os rios Parnaíba e
Poti, ricas em madeira peixes e mananciais, solo agrículturável, além da navegação
fluvial. Somente Saraiva convenceu adversários na instalação da nova capital,
mais centralizadora do estado. Sem muitos recursos do império, tomou decisões,
impensáveis na época, hoje tão comuns: privatizou a construção de prédios
públicos, em troca da concessão de terrenos ou aluguéis dos prédios. Convenceu
moradores da Vila do Poti a abandonarem a região, sujeita a enchentes dos rios
e se estabelecerem no centro da capital, com direito à posse de terrenos e
demais benesses. Para alimentar a vaidade da imperatriz Tereza Cristina, em
troca de verbas, batizou a capital de Terezina (hoje, com S). Saraiva demorou
só dois anos na Província. Governou outras: Alagoas, São Paulo e Pernambuco.
Assumiu vários ministérios. Morreu em 1895, aos 72 anos.
Engenheiro e governador Alberto
Silva, ex-prefeito e filho de Parnaíba. Como Saraiva, trouxe a experiência da
gestão pública em outros estados. Alavancou a autoestima do Piauí, ao construir
dezenas de obras, inimagináveis num estado apagado e ridicularizado, nacionalmente.
Imagine Teresina, em 1972, asfalto apenas no aeroporto. Sem Maternidade
Evangelina Rosa, importada da Inglaterra. Sem Universidade Federal do Piauí.
Sem prédio da Cepisa e avenidas bem iluminadas. Sem o Instituto de Educação
Antonino Freire. Sem a ponte, após o Balão da Tabuleta, sobre o Parnaíba. Sem
Estádio Albertão e futebol de projeção nacional. Sem terminal de combustível.
Sem metrô e túnel da Av. Frei Serafim. Sem Zoobotânico. Sem o Campus de 60
hectares na distante Ininga (loucura na época). Sem HDIC e terceiro pavimento
do Hospital Getúlio Vargas. Sem o atual prédio do Fórum Judiciário. Sem reforma
e jardins do Palácio do Karnak, Av. Frei Serafim, Teatro 4 de setembro e Hotel
Piauí (Lúxor). Sem diques do Poti e Parnaíba contra inundações. Imagine o Piauí
sem estradas asfaltadas, de norte a sul. Sem hotéis e atração turística no
litoral. Sem Sete Cidades para turismo. Sem autoestima, envergonhando a origem.
Dupla semelhança, Saraiva e
Alberto Silva, dois nomes justapostos, espécie rara de Camu-Camu, mil vezes
vitaminada, sem administradores que só entendem de prato, em vez da
pátria.
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