O contraste de um cartão postal
Chico Acoram Araújo *
Final
da tarde de domingo de um dos meses “B-R-O BRÓ”, resolvi visitar novamente um
dos pontos turísticos de Teresina – O Parque Municipal do Encontro dos Rios,
situado no bairro Poti Velho, zona Norte da cidade. Nesse horário, o clima
beirava quarenta graus centígrados. “Vou respirar um pouco o ar do encontro das
águas”, pensei. Chegando lá, o infalível e belo pôr do sol começava a reluzir
no longínquo horizonte a Oeste. Era uma paisagem crepuscular de tirar o fôlego,
fenomenal. Permaneci na beira do rio por algum tempo, admirando aquele poente
dourado, um colírio para o final de mais um dia de trabalho.
Depois
de contemplar extasiado aquele esplêndido quadro da natureza, baixei os olhos
para a barra onde os rios Poti e Parnaíba se encontram. Confesso que fiquei
desapontado com o que vi ali. A minha felicidade foi quase ao chão. Enormes
bancos de areia cobertos de pequenos arbustos e outras plantas típicas de
vazantes entravavam a correnteza do canal do velho monge. Era o assoreamento,
implacável, que sufocava o rio. E o rio Grande dos Tapuias, outrora tão
caudaloso, estava ali a definhar-se lentamente.
Do lado do tributário Poti, a
poluição e os aguapés tomavam conta da sua desembocadura, dificultando a
respiração do rio, asfixiando-o. Era um mar de águas túrbidas, e não um espelho
d’água que pudesse refletir a beleza do céu, a lua cheia que começava a brilhar
no céu, a dança das árvores das ribanceiras, ou mesmo as acrobacias e piruetas
das aves que sobrevoavam o local. A escassez de peixes de ambos os rios são
reclamos recorrentes dos pescadores do antigo Arraial da Barra do Poti, posto
que sumiram do antigo paraíso.
Apenas
para ilustrar o presente texto, recorro ao imortal poeta piauiense Da Costa e
Silva em seu poema “Rio das Garças”:
“(...)
É
o Parnaíba, assim carpindo as suas mágoas,
- Rio da minha terra, ungido de tristeza,
Refletindo
o meu ser à flor móvel das águas.”
Ergui
as vistas novamente para o ocaso – e vi descortinado um céu ruivo fenomenal;
baixei-as novamente para o encontro dos rios – e mirei uma desolação total.
Aquele estranho quadro surreal fora pintado por um artista louco varrido? Ou
seria um cartão postal sobreposto por um anti cartão postal produzido por um
fotógrafo vesgo e míope? Mas as pessoas que por ali perambulavam não olhavam
para o pôr do sol, e tampouco para as águas da barra do Poti. E se olharam,
nada viram. Mas, todos observaram, admirados, a grande estátua do “Cabeça de
Cuia” (o jovem Crispim) que, penando por século, ainda vaga errante nas águas
dos rios Poti e Parnaíba.
Depois disso, entediado, retornei
para casa carregando na minha memória aquele triste cartão postal do Encontro
dos Rios.
(*)Chico Acoram é contador (inclusive de histórias, de Trancoso ou não),
funcionário público federal e cronista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário