UM POLÍTICO DE MUITA SORTE
Antônio Francisco Sousa
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Não
há como negar que o atual chefe do poder executivo federal é um homem de sorte.
E não pelo motivo que alguns possam estar lucubrando: ter uma jovem e bela
mulher a seu lado. Primeiramente, o mandato lhe caiu às mãos graças à
ineficiência, à turra, birra, à teimosia, falta de tato e traquejo, à
antipatia, ausência de empatia da presidente de quem foi vice. Notadamente,
para a parte mais esclarecida da população, foram esses defeitos, aliados a
inegável incompetência para bem administrar qualquer coisa, ainda mais um país
com as peculiaridades e singularidades do nosso, que a fizeram perder o
mandato; por não saber, nem querer negociar com o congresso nacional, não ouvir
as diversas forças econômicas e políticas nacionais, às quais todo e qualquer
dirigente ou gestor deve dar crédito, acatar sugestões ou decisões; preferiu
decidir por moto e conta próprios, baseada, mais em ponto de vista ou opinião
particular, do que em fatos, sem escutar auxiliares, subordinados, nem mesmo o
povo quando este precisava ser ouvido.
Pragmático
– como não? Em nenhum momento, tirou de foco a manutenção de sua condição de
presidente -, contrariamente à sua antecessora, ouviu auxiliares mais próximos,
instituições judiciais, enfim, pessoas e entidades que pudessem clarear situações
julgadas, a princípio, pouco cristalinas, questionáveis. Não se furtou em, valendo-se do tesouro
nacional, melhor dizendo, dos recursos providos pelo conjunto dos brasileiros,
negociar, barganhar - quando a situação exigia isso, o que ocorreu e, ainda
ocorre, visando, e aqui reiteramos, não perder o status quo conquistado - com
todo e qualquer parceiro havido por útil. Fato é, igualmente inegável, que se
mostrou obstinado e, graças à nata condição de hábil negociador, conseguiu
algumas vitórias. Dobrar o congresso nacional, amansar o poder judiciário e
diminuir a pretensa força do ministério público foi uma delas, talvez, nem a
mais difícil. Fez parte das reformas a que se propôs, possibilitou que a
economia desse uma guinada positiva, um salto considerável, reduzindo juros o
que, por sua vez, induziu uma queda na inflação e estagnação no nível de
desemprego; afastou um pouco o país da ingrata e nefasta situação em que o
recebeu da presidente expurgada pelo parlamento e judiciário federais.
Não
resta dúvida de que a mais dura das batalhas, a pela reforma da previdência
social, seguiu, não raro, por caminhos e vielas que quase o fizeram perdê-la de
vista; no que disse respeito a ela, em nenhum momento, o processo amainou ou
navegou em águas calmas; o parlamento, que se mostrara flexível, senão,
obediente, diante de outras de suas proposituras, não quis ser co-protagonista
de uma missão tão grave quanto radical. Há que se ressaltar que os subterfúgios
com os quais tentaram obnubilar o assunto, muita mentira, ficção,
desonestidade, demagogia, enodoaram as discussões sobre tema tão paradigmático
em relação ao serviço público federal.
Ainda
que não admitisse, restava muito claro que a reforma previdenciária, nos moldes
a que se propunha fazê-la – aprovada com os remendos de agora, após tantas e
tão descabidas negociatas, manutenção de privilégios espúrios, logo, logo
precisaria ser reformada -, drástica e, invasivamente radical, através de
emenda constitucional não assimilada, não compreendida, nem aceita com a
facilidade que se queria, não lograria êxito: o congresso nacional não se
sentia à vontade para chancelar fato de tamanha importância e
envergadura para a vida da nação,
mormente, em ano de eleições gerais.
Novamente,
a sorte esteve ao lado do “presidente golpista”, “não legítimo”, como ainda
apregoam brasileiros que, nem às decisões do poder judiciário e do parlamento
de um país que pratica o beatificado estado democrático de direito, aceitam:
uma intervenção federal na segurança do estado fluminense – a pedido, consoante
souberam todos que de, algum modo tiveram acesso às diversas modalidades de
mídia informativa, nos últimos dias - caiu-lhe no colo e decretou uma trégua na
dificílima negociação, tramitação e votação da proposta de emenda constitucional
de reforma da previdência, enquanto durar a situação: coincidentemente,
até o fim do mandato do presidente da
república e do governo carioca.
Fato
é, queiramos ou não o admitir, o atual presidente de todos os brasileiros,
dentro do conceito usualmente admitido para o que vem a ser a política que por
aqui se pratica – na qual, invariavelmente, os fins justificam os meios -, é um
hábil político, exímio negociador – melhor ainda, claro, quando se vale de
recursos que não oriundos do próprio patrimônio -, além de um sortudo contumaz:
primeiramente, ao se unir a uma pessoa de difícil convivência, como foi sua
antecessora, de quem, no curso do mandato, por impeachment jurídico-parlamentar
dela, gratuitamente, herdou o cargo; depois, ao encontrar no congresso
nacional, ministério público e parte do poder judiciário, leitores ou
seguidores de sua cartilha política; e, agora, quando já se fazia quase
iminente sua derrocada na aprovação da maior de suas obras administrativas, a
reforma previdenciária, eis que um ato de força maior, uma intervenção federal,
o livra de derrota, ao impedir o congresso nacional de dar sequência em tal
proposta de emenda constitucional.
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