quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

UM POLÍTICO DE MUITA SORTE



UM POLÍTICO DE MUITA SORTE

Antônio Francisco Sousa
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com) 

                Não há como negar que o atual chefe do poder executivo federal é um homem de sorte. E não pelo motivo que alguns possam estar lucubrando: ter uma jovem e bela mulher a seu lado. Primeiramente, o mandato lhe caiu às mãos graças à ineficiência, à turra, birra, à teimosia, falta de tato e traquejo, à antipatia, ausência de empatia da presidente de quem foi vice. Notadamente, para a parte mais esclarecida da população, foram esses defeitos, aliados a inegável incompetência para bem administrar qualquer coisa, ainda mais um país com as peculiaridades e singularidades do nosso, que a fizeram perder o mandato; por não saber, nem querer negociar com o congresso nacional, não ouvir as diversas forças econômicas e políticas nacionais, às quais todo e qualquer dirigente ou gestor deve dar crédito, acatar sugestões ou decisões; preferiu decidir por moto e conta próprios, baseada, mais em ponto de vista ou opinião particular, do que em fatos, sem escutar auxiliares, subordinados, nem mesmo o povo quando este precisava ser ouvido.

                Pragmático – como não? Em nenhum momento, tirou de foco a manutenção de sua condição de presidente -, contrariamente à sua antecessora, ouviu auxiliares mais próximos, instituições judiciais, enfim, pessoas e entidades que pudessem clarear situações julgadas, a princípio, pouco cristalinas, questionáveis.  Não se furtou em, valendo-se do tesouro nacional, melhor dizendo, dos recursos providos pelo conjunto dos brasileiros, negociar, barganhar - quando a situação exigia isso, o que ocorreu e, ainda ocorre, visando, e aqui reiteramos, não perder o status quo conquistado - com todo e qualquer parceiro havido por útil. Fato é, igualmente inegável, que se mostrou obstinado e, graças à nata condição de hábil negociador, conseguiu algumas vitórias. Dobrar o congresso nacional, amansar o poder judiciário e diminuir a pretensa força do ministério público foi uma delas, talvez, nem a mais difícil. Fez parte das reformas a que se propôs, possibilitou que a economia desse uma guinada positiva, um salto considerável, reduzindo juros o que, por sua vez, induziu uma queda na inflação e estagnação no nível de desemprego; afastou um pouco o país da ingrata e nefasta situação em que o recebeu da presidente expurgada pelo parlamento e judiciário federais.

                Não resta dúvida de que a mais dura das batalhas, a pela reforma da previdência social, seguiu, não raro, por caminhos e vielas que quase o fizeram perdê-la de vista; no que disse respeito a ela, em nenhum momento, o processo amainou ou navegou em águas calmas; o parlamento, que se mostrara flexível, senão, obediente, diante de outras de suas proposituras, não quis ser co-protagonista de uma missão tão grave quanto radical. Há que se ressaltar que os subterfúgios com os quais tentaram obnubilar o assunto, muita mentira, ficção, desonestidade, demagogia, enodoaram as discussões sobre tema tão paradigmático em relação ao serviço público federal.

                Ainda que não admitisse, restava muito claro que a reforma previdenciária, nos moldes a que se propunha fazê-la – aprovada com os remendos de agora, após tantas e tão descabidas negociatas, manutenção de privilégios espúrios, logo, logo precisaria ser reformada -, drástica e, invasivamente radical, através de emenda constitucional não assimilada, não compreendida, nem aceita com a facilidade que se queria, não lograria êxito: o congresso nacional não se sentia à  vontade  para chancelar fato de tamanha importância e envergadura para a vida  da nação, mormente, em  ano de eleições gerais.

                Novamente, a sorte esteve ao lado do “presidente golpista”, “não legítimo”, como ainda apregoam brasileiros que, nem às decisões do poder judiciário e do parlamento de um país que pratica o beatificado estado democrático de direito, aceitam: uma intervenção federal na segurança do estado fluminense – a pedido, consoante souberam todos que de, algum modo tiveram acesso às diversas modalidades de mídia informativa, nos últimos dias - caiu-lhe no colo e decretou uma trégua na dificílima negociação, tramitação e votação da proposta de emenda constitucional de reforma da previdência, enquanto durar a situação: coincidentemente, até  o fim do mandato do presidente da república e do governo carioca. 

                Fato é, queiramos ou não o admitir, o atual presidente de todos os brasileiros, dentro do conceito usualmente admitido para o que vem a ser a política que por aqui se pratica – na qual, invariavelmente, os fins justificam os meios -, é um hábil político, exímio negociador – melhor ainda, claro, quando se vale de recursos que não oriundos do próprio patrimônio -, além de um sortudo contumaz: primeiramente, ao se unir a uma pessoa de difícil convivência, como foi sua antecessora, de quem, no curso do mandato, por impeachment jurídico-parlamentar dela, gratuitamente, herdou o cargo; depois, ao encontrar no congresso nacional, ministério público e parte do poder judiciário, leitores ou seguidores de sua cartilha política; e, agora, quando já se fazia quase iminente sua derrocada na aprovação da maior de suas obras administrativas, a reforma previdenciária, eis que um ato de força maior, uma intervenção federal, o livra de derrota, ao impedir o congresso nacional de dar sequência em tal proposta de emenda constitucional.

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