sexta-feira, 31 de agosto de 2018

MOTOQUEIROS DE PARNAÍBA (ANOS 50/70)

Fonte: Google.

MOTOQUEIROS DE PARNAÍBA 
(ANOS 50/70)

ALCENOR CANDEIRA FILHO

     Na Parnaíba da década de 1950 o número de carros era pequeno e menor ainda o de motocicletas. Carroças, bicicletas e pedestres circulavam tranquilamente pelas ruas e avenidas da cidade. Nenhum risco no trânsito. Não havia semáforos nem placas indicativas de mão e contramão. Nos cruzamentos a buzina era sempre acionada. Não se falava em poluição sonora. Até as bicicletas tinham buzina encaixada no guidão ora em forma de corneta ora de campainha.

     Os amantes de motocicleta usavam-na como meio de transporte e de lazer,  permitindo-se passeios em que se integravam plenamente à paisagem percorrida: marítima, lacustre, rural, fluvial e urbana.

     Duas motocicletas da época me ficaram na memória: uma pertencente a Franklin Veras (Indian) e a outra a Antônio Vieira (Java).
     A moto de Franklin era mais possante. Tanto ele quanto Antônio Viera gostavam de percorrer a rua Grande (presidente Vargas) em alta velocidade ziguezagueando por entre os postes de iluminação elétrica então existentes no meio da comprida e estreita via.
     Lembro-me também  de algumas bicicletas com pequeno motor acoplado abaixo  dos pedais, ou no eixo da roda dianteira ou sobre a mesma. O livro-álbum “Mergulho nas Lembranças da Minha Parnaibinha  -  Anos 40/60”, de Raimundo Nonato Caldas – Cavour, contém fotografias desses modelos, pertencentes ao professor Augusto Bauer, Anisinho Sampaio e Chicão Correia.
     Nos anos 60  começou na cidade a onda de lambretas e de vespas, que a Europa fabricava desde os anos 40, com a novidade do pneu sobressalente no estepe. Meu vizinho Francisco Pessoa, conhecido como professor Baiano, possuía uma.
     O mais conhecido mecânico de lambretas era o Pimenta, com oficina no bairro São José.
     A partir dos anos 70 a cidade passou a conviver com motocicletas japonesas, inicialmente  importadas e depois  montadas no país: Honda,  Yamaha e Suzuki, todas de 50, 125 e 250 cilindradas.
     O empresário Onofre Martins de Sousa Filho vem-se destacando desde então como o principal re/vendedor de motocicletas em Parnaíba e cidades circunvizinhas.
     Foi nos anos 70 que aderi ao motociclismo, chegando a possuir motos nas três categorias mencionadas. Nunca participei de competições em respeito às minhas limitações. Contentava-me com passeios pela orla marítima e com viagens até cidades cearenses e maranhenses próximas de Parnaíba.
     Mesmo montado em XLX – 250 R, apropriada para trilha, areia, lama e morro, fui sobretudo motoqueiro de asfalto e de beira de mar.
     Nas décadas de 1970 e 1980 o melhor motoqueiro era Genilson Veras. Arrojado, técnico, competitivo, muito treinamento e talento  -  qualidades sempre presentes nos grandes campeões. Genilson transmitiu ao filho Mateus Portela o amor pelo motociclismo e os segredos para ser um vencedor. Genilson está aí firme e forte; o filho voou para o céu.
     Outros bons motoqueiros da época: Jorge Rezende, Capitão Caverna, Ariosto Ibiapina, Tote Ibiapina, Evandro Mourão, Renato Machado, Roberto Pilin, Ronaldo Lobão.
     Havia os que, como eu, curtiam motocicleta sem espírito competitivo: Guido Moreira, Felipe Pires, Onofre Filho e outros.
     Sobre motocicleta aprendi o básico: usar o acessório (capacete, botas, colete, náilon, luvas), seguir a técnica (farol aceso, habilitação, mãos no guidão,  pé na pedaleira, freio revisado) e cumprir a regra (faixa do trânsito, placa do trânsito, guarda do trânsito, multa do trânsito, semáforo do trânsito).
     Essas recomendações tão simples estão presentes em vários versos do seguinte poema que escrevi em 1985:

      BALADA  DO  MOTOQUEIRO

Dizem-me os amigos
que não querem que eu morra:
“não andes de moto”.
Mas, ó diletos amigos
que não admitem que eu morra,
eu ando de moto
eu corro  de moto
eu paro de moto
eu disparo de moto
-  e não morro de moto.
Sim, amigos,
eu não morro de moto
nunca pelo capacete
nunca pelas botas
nunca pelo colete
nunca pelo  náilon
nunca pelas luvas
eu não morro de moto
não pelo farol aceso
não pela habilitação
não pelas mãos no guidão
não pelos pés na pedaleira
não pelo freio revisado
nem pela faixa do trânsito
nem pela placa do trânsito
nem pelo guarda do trânsito
nem pela multa do trânsito
nem pelo semáforo do trânsito:
afinal de contas
nunca valeria a pena morrer pelo acessório
não valeria a pena morrer pela técnica
nem valeria a pena morrer pela regra.

Em verdade, amigos,
eu não morro  de moto
porque nela eu varo o vento
que acaricia o sol e as estrelas
porque nela eu varro a poeira
que alvoroça o galo e a coruja
porque nela eu viro a paisagem
que desenha o dia e a noite
porque nela eu desnudo as conchas
que se ocultam entre colchas e coxas.

Eu não morro de moto,
meus queridos amigos,
porque é com ela
que (ultra)passo  a praia
                               a pedra
                               a trilha
                               o morro
                               a rua
e
(insisto persisto e não desisto)
-  de moto eu não morro.

É isso aí, amigos,
É de moto que eu ando
                                 e caio
                                 e corro
                                 e paro
                                 e disparo
                                                   na praia
                                                   na pedra
                                                   no morro
                                                   na rua
-  e não morro.

(Minha moto não é cruz: é cross).

Definitivamente, amigos,
de moto eu não morro
porque a praia que passa
na rota da moto
a pedra que passa
na roda da moto
a trilha que passa
no rush da moto
o morro que passa
no ronco da moto
a rua que passa
na ronda da moto
- transformam-me em pássaro.

(Pássaro não morre: VOA).   

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

CATÁLOGO DE LITERATURA

Fonte: Google/Blog do Didi Galvão

CATÁLOGO DE LITERATURA

Des. Valério Chaves
Da Academia de Letras da Magistratura Piauiense e da UEB-PI
             
            “A MAGIA DO CONTO” e “RIACHO NOSSO CHÃO” são os títulos das  mais recentes publicações do desembargador, poeta, escritor e acadêmico José Soares de Albuquerque.

            1. Em “A Magia do Conto” (158 págs. editora Funcor/2017), o autor identifica-se com o universo temático centrado no conflito cultural existente entre a ciência, veio poético, sentimentos, costumes e as formas tradicionais de sabedoria popular do homem sofrido e pacífico.

             Os casos, os acontecimentos sociais, a criação de personagens ingênuas e estruturadas na unidade de espaço e tempo, parecem assumir ao mesmo tempo o clássico poder do autor de narrar e descrever lugares e cenas comandando a ação usando verbo fluente.

            A frase de Madame de Genlis, constante da p. 61, “A virtude, em toda sua pureza, é simples, natural, sem vaidade, sem ostentação, e em si própria acha a sua glória e recompensa”, pode ser apresentada como sintetizadora tanto da personalidade do autor como do conteúdo das histórias contidas na obra.

            Realista, como já demonstrara em seu romance de estreia “Os Cupins”- 2000, José Soares Albuquerque, usando de sutileza rara, faz dos seus textos autênticos documentários de vida ao conferir universalidade psicológica e social às histórias hilariantes apresentadas com pleno domínio de sua habilidade literária, mesmo os casos mais extremados (como assassínios, cangaço, desgraça amorosa e até tortura através de castração humana).

            Merece destaque, também, a capacidade do autor de narrar ambientes ambíguos e obscuros dando voz a diferentes personagens, cada qual integrada numa estrutura unitária definidora da ação principal onde os diálogos são misturados numa bela orgia linguística. E, claro, é divertido, porém menos pretensioso do que Machado de Assis em “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

            É neste sentido que o gaúcho Rochemberg - personagem principal de  “A Mulher Furada” (págs. 57/60) - se destaca do alto de sua ingenuidade. Depois de saber que a moça com quem ia se casar por amor era “furada de homem” dissera para Claudionor revelador do segredo: “não se vexe não Claudionor, pois não quero minha mulher para apanhar água não”.

            2. Em “Riacho Nosso Chão” (artigo/coletâneas, 296 págs. Press Color/2018), José Soares Albuquerque resgata com liberdade criadora, fatos vividos em sua meninice e o espírito de peregrinação de gente determinada passeando entre pontos de vista e focos narrativos de lugares geograficamente distantes desse “pedaço de mundo”, talvez querendo nos ensinar como nós nos entregamos a nossas preocupações diárias e esquecemos a criança que fomos.

            Usando linguagem e estilo simples entre a narração cultural e rigor histórico, José Albuquerque esgota o tempo vivendo-o no presente com os olhos postos nas memórias existenciais da terra berço ao tempo em que alimenta lembranças das peraltices da infância, retratando pessoas, paisagens e lugares com saudades de entes queridos que lhe ensinaram a viver.

            Em fim, as publicações desse já consagrado autor merecem uma leitura atenta. Mesmo quem não concorde com a linguagem e a estética, decerto acaba se tornando tributário.   

terça-feira, 28 de agosto de 2018

CAMPANHAS ELEITORAIS ACADÊMICAS (*)

Fonte: Google

CAMPANHAS ELEITORAIS ACADÊMICAS (*)

Elmar Carvalho

Devo dizer, inicialmente, que os oito candidatos às duas vagas da Academia Piauiense de Letras, com relação a mim, se comportaram com muita ética. Nenhum me pediu voto, muito menos com insistência, seja diretamente, seja através de meus parentes e amigos. Submeteram, sim, seus nomes, sua vida, seu currículo e/ou seus livros a meu exame. A situação me é um tanto difícil, porque tenho amizade a vários dos postulantes, e a todos admiro e considero. Entretanto, tenho apenas um voto para cada vaga, assim como também os demais acadêmicos.

No romance Farda, Fardão, Camisola de Dormir, Jorge Amado conta a saga e as peripécias de dois candidatos à imortalidade acadêmica, em que o autor destila certo humor ferino e satírico. Em seus Diários, em vários registros, Josué Montello revela alguns episódios de vários candidatos à Academia Brasileira de Letras, da qual foi ele presidente. Do mesmo modo, Humberto de Campos, que também foi imortal da ABL, em seu Diário Secreto, revela curiosos e pitorescos episódios dos bastidores de algumas campanhas para ingresso no secular sodalício. Alguns poderiam ser considerados hilários ou ridículos, ou até mesmo degradantes.

Pertencendo a mais de uma dúzia de entidades culturais, nove delas academias, creio ter alguma experiência para discorrer sobre o assunto assinalado no título deste texto. Muitas vezes o sucesso de um candidato depende das circunstâncias. Certos candidatos, numa outra disputa, poderiam ser eleitos, mas, ressentidos ou não, não mais concorrem. Alguns, ante o insucesso eleitoral, proferem palavras que lhe inabilitam para uma outra disputa. Já houve mesmo o caso de um candidato, que retirou sua candidatura, e com uma metralhadora giratória saiu atirando contra tudo e contra todos, dizendo que naquela agremiação acadêmica as cartas já estavam marcadas. Naturalmente, sentiu que o “clima” não lhe era propício; entendia, creio eu, que as cartas só não seriam marcadas se os imortais lhe houvessem prometido sufragar o nome.

Numa outra disputa, determinado candidato teve apenas um voto. Esse candidato declarou, em alto e bom som, que esse único voto lhe impedira de cometer suicídio. No meu entendimento, esse sufrágio solitário, embora discrepante dos demais, foi o mais importante, porquanto impediu que um intelectual viesse a óbito por suas próprias mãos. Teve também o caso, em certa academia de algum lugar do Brasil, em que um acadêmico resolveu votar por correspondência, e entregou o seu voto a um confrade. Consta que este imortal substituiu o voto por um outro que sufragava o seu candidato. A notícia se espalhou, de modo que chegou ao conhecimento do votante, que lhe determinou a devolução do voto, sob pena de ir votar pessoalmente, e ainda fazer um escândalo no local da votação, ao denunciar o fato.

Por outro lado as fofocas contam que em algumas academias já teria ocorrido barganha, e que alguns acadêmicos teriam votado em troca de emprego ou de alguma outra benesse. Não sei se isso realmente já aconteceu ou se ainda acontece, em alguma remota academia de nosso país, mas o fato é que existem comentários sobre essa, digamos, prática. Se é verdade, entendo que o eleitor e o candidato reciprocamente se merecem, na mesma intensidade. Prefiro acreditar que isso nunca aconteceu, e muito menos possa ainda acontecer.

Todos sabem que os critérios para uma pessoa se tornar “academiável” são vários, e não exclusivamente o do mérito literário. Como em tudo na vida, a amizade também possui o seu peso. A personalidade de cada candidato é levada em conta. Até mesmo a idade pode ter a sua influência, porquanto, como se diz, um candidato muito jovem “teria a vida inteira pela frente”, enquanto um de idade provecta poderia não ter outra oportunidade. De qualquer sorte, a longevidade pode significar experiência e serviços prestados à cultura.

A situação de acadêmico é vitalícia. Logo, pergunto: quem gostaria de conviver com uma pessoa problemática, de difícil convivência, turbulenta, encrenqueira, irascível, fofoqueira, cheia de arestas e de traumas pelo resto de sua vida? Quem responder afirmativamente a essa indagação, que atire a primeira pedra nas academias e em outros órgãos colegiados, de membros vitalícios. Por outro lado, quem já posou de antiacadêmico, e com sua baladeira estilhaçou as vidraças das academias, em desabrida e furiosa iconoclastia, provavelmente não irá ter a simpatia dos acadêmicos, na hora do voto. Sequer teria condições morais de pleitear ingressar em algo que denegriu com suas palavras mordazes e insultuosas.

Há os que criticam o fato de que uma academia nem sempre tem os melhores escritores de sua circunscrição territorial. Ora, para ter assento em uma associação acadêmica é condição sine qua non que o escritor se candidate a uma vaga. Se os pretensos grandes ficcionistas e poetas não se inscrevem, como poderiam fazer parte do silogeu (palavra repudiada pelos autoproclamados antiacadêmicos)? Soube que determinado medalhão esperou por muitos anos ser aclamado imortal; como isso nunca aconteceu, ele terminou tendo uma crise de humildade e tomou a iniciativa de inscrever-se a uma vaga. Para seu contentamento, terminou sendo eleito, mas não por aclamação, já que essa modalidade eleitoral não existe nos estatutos acadêmicos.

Dizem alguns, com ou sem razão, que no passado, em alguns momentos, predominou  o critério do expoente. Ou seja, vencia a eleição o candidato que era famoso ou pelo menos notável em determinada profissão, e não na cultura ou nas letras. Pelo que tenho observado, esse critério, de muitos anos a esta parte, nunca mais foi observado isoladamente. Ao que me consta, os acadêmicos levam em conta vários critérios, como já disse acima. De qualquer sorte, como já tive oportunidade de dizer, o fato de uma pessoa ingressar numa academia não a tornará maior ou menor por causa disso; se era um grande escritor, continuará a sê-lo, mesmo que não seja eleito. E se era medíocre, continuará  com a sua mediocridade, mesmo que seja vitorioso. 

Atribuem-se a esses critérios determinado “peso” ou valoração, que pode variar de acadêmico para acadêmico, conforme seu ramo de atividade intelectual, seu grau de amizade e relacionamento com o candidato, sua individualidade e idiossincrasias. É feita, de modo subjetivo, uma espécie de média aritmética ponderada das qualidades pessoais e intelectuais de cada candidato. Cabe ao candidato aceitar o veredicto da contenda, porquanto todo postulante sabe que poderia ganhar ou perder a eleição. É como uma causa judicial, sobre a qual sempre pesa a possibilidade do ônus da sucumbência.

11 de abril de 2012

(*) Republiquei esse texto em virtude de que, no momento, se encontram vagas (excepcionalmente) três cadeiras da Academia Piauiense de Letras, que deverão ser preenchidas nos próximos meses, em face do falecimento dos confrades Paulo Freitas, Herculano Moraes e Raimundo Nonato Monteiro de Santana.

domingo, 26 de agosto de 2018

MAR(ULHO) NO TABOCAL

Fonte: Google


MAR(ULHO) NO TABOCAL 

Elmar Carvalho

Manhosa
manhã de domingo.
Sorvendo
solvendo uma cerveja
estupidamente gelada
sob a sombra redonda
redoma levemente
verde-transparente
o sol ruiva
o vento uiva
            ondula e marulha
nas afiadas espadas e agulhas
            do tabocal
e me emerge um mar
            imerso no temporal
quebrado nos arrecifes
            esvaído no tempo
e nas distâncias esquecidas.

           Te. 23.06.91   

sábado, 25 de agosto de 2018

As mentiras sobre o azeite de coco e a campanha política no Brasil

Fonte: Google


As mentiras sobre o azeite de coco e a campanha política no Brasil 

Pádua Marques 
Jornalista e escritor

Andava eu escacaviando ontem na internet e me veio notícia de que uma epidemiologista alemã de nome Karin Michel, presidente de um tal  de Instituto para a Prevenção e Epidemiologia de Tumores, na Universidade de Freiburg e pesquisadora da Universidade de Harvard que andou descobrindo coisas horríveis sobre o nosso tão querido e gostoso óleo de coco. Disse poucas e boas.

Disse pra uma pá de gente pelo mundo que o óleo de coco é mais perigoso que a banha porque contém quase que exclusivamente ácidos graxos saturados que aumentam os níveis de colesterol, o bom e o ruim, o que pode entupir as artérias. Portanto, na opinião dela, o óleo de coco é um veneno. Quem sou eu que não sou médico nem nada pra discutir com tão alta autoridade?

Óleo de coco. Sim, aquele mesmo que até outro dia era usado e abusado na nossa cozinha, agora passou a ser espinho de garganta! Qual é o filho de Deus aqui no Nordeste que não conhece? Qual é o cristão aqui em cima da terra que já morreu porque havera de ter comido um capitão de feijão temperado com azeite de coco, uma manjubinha frita, um mandi, um feijão verde, me diga? Conversa mais besta essa, dizer agora que azeite de coco causa alguma doença!

Desde que me entendo por gente, e quando e quando ainda não tinha por aqui esse tal de óleo de soja, que no interior, aqui do Bom Princípio, Cocal, Buriti dos Lopes, Marruás, Brejinho, que se tempera comida com azeite de coco ou banha de porco. E vem um e diz uma coisa e vem outro e desmente ou acrescenta mais! E em quem se pode acreditar numa hora dessas, meu Deus do Céu! Aonde é que inventaram mais essa, botando culpa no azeite de coco?

Azeite de coco que servia até pra passar no cabelo das meninas. A gente via no final de tarde nas portas das casas, as mães sentadas com as filhas menores entre as pernas, catando piolho. E aquele pente fino ia tirando os piolhos e as lêndeas que iam caindo aos montes num pano encardido. Horas e mais horas naquela arrumação besta na porta de casa. Uma coisa sem fim. Se pegava piolho que nem nuvem. Depois vinha o banho de azeite de coco. Shampoo era coisa de astronauta!

Aquelas meninas com olhinhos de bribas, reclamando às vezes de algum puxão mais duro. Era ocasião pra duas, três mulheres ficarem na porta de casa falando da vida alheia ou delas próprias. Se pabulando disso ou daquilo. Estava ali mais uma serventia do azeite de coco. E a mãe ali, matando piolho com aquela sensação de pegador de jacaré, com aquela faca no cós da calça, pronto pra rasgar a goela do bicho.

Tudo assim sem pestanejar e sem muita conversa. Depois o jacaré ia ferver na panela ou frito com azeite de coco. Agora mais essa de dizer que faz mal. Faz mal e muito é neste tempo de pouca confiança os políticos andarem na rua prometendo isso e aquilo. Dizendo que vão fazer porto, ponte, dar luz e água de graça, escola, aumento de salário pra professor e hospital de primeiro mundo. Isso é que faz mal. Queria ver era essa pesquisadora subir no coqueiro e ir derrubando coco pra tirar azeite. 

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

MALAGRIDA: Missões no Nordeste, morte na fogueira da Inquisição

Fonte: Google


MALAGRIDA: Missões no Nordeste, morte na fogueira da Inquisição

José Maria Vasconcelos
Cronista, josemaria0o1@hotmail.com
  
         Iniciei o antigo Primário na ESCOLA PADRE MALAGRIDA, na Avenida São Raimundo Nonato, no centro comercial da Piçarra. Antes do início da aula, 24 de agosto, a notícia: “Morreu o presidente Getúlio Vargas... aulas dispensadas”.

Não me interessam detalhes históricos do notável estadista brasileiro. Aquele esquisito nome MALAGRIDA não me sairia da memória e curiosidade. Fui completar o Primário no DOMINGOS JORGE VELHO, sem esquecer MALAGRIDA. Aos 12 anos, fui internado no seminário capuchinho de Messejana. MALAGRIDA na cabeça. Até hoje, só não entendo por que o fantástico jesuíta pouco aparece nos registros do Piauí. Aliás, o o bandido Lampião é mais festejado pelas esquerdas do que  MALAGRIDA, uma certidão amorfa.

PIRACURUCA sabe que o jesuíta PADRE MALAGRIDA  transformou uma modesta casa de farinha em magestosa IGREJA DE NOSSA SENHORA DO CARMO, às expensas dos IRMÃOS DANTAS e das esmolas dos fiéis? Não só em PIRACURUCA. O missionário construiu igrejas, escolas e conventos da Bahia a Belém.

Nascido na Itália em 1689, GABRIEL MALAGRIDA demontrou, desde cedo, tendências místicas, recebendo avisos em sonhos e orações. Entrou na COMPANHIA DE JESUS. Estudioso profundo, logo se dedicou ao ensino de Humanidades. Transferiu-se para Lisboa. Empolgado com a missão jesuítica no Brasil, embarcou para São Luís, onde lecionou no colégio dos jesuítas. Missionou em tribos indígenas ferozes, no sul daquele estado, quase morria a flexadas. O infatigável MALAGRIDA exerceu apostolado em Belém. Multidão de fiéis o acompanhava, seduzido pelo sermão, orações, avisos divinos e curas, daí o apelido de TAUMATURGO.

PADRE GABRIEL MALAGRIDA decidiu cruzar todo o Nordeste, durante catorze anos, quase oito mil kilômetros, embrenhando-se pelos sertões, deixando a marca da missão jesuítica, na construção de igrejas, conventos, seminários e escolas, inclusive para prostitutas. Em João Pessoa, a rua dos prostíbulos chama-se PADRE MALAGRIDA. Missionou quase todo o Piauí, depois na Serra Grande, entre índios Tabajaras. Tentou a construção de um seminário em Buriti dos Lopes. Faltaram verbas e clérigos educadores.

A exemplo PADRE ANTÔNIO VIEIRA e ANCHIETA, MALAGRIDA e a missão jesuítica combatiam a escravidão de índios e negros, além de desenvolver o melhor projeto educacional do país: cultivar a leitura e conhecimentos para construir a sociedade. A missão custou caro, devido aos interesses do estado e da elite escravagista.

PADRE GABRIEL MALAGRIDA regressou a Portugal, admirado e festejado na Corte, pelas obras no Brasil, além dos milagres operados. O primeiro ministro MARQUÊS DE POMBAL andava às turras com a COMPANHIA DE JESUS, que lhe condenava o tratamento despótico aos negros e índios do Brasil. PADRE MALAGRIDA o criticava severamente. POMBAL acusou-o ao TRIBUNAL DA  SANTA INQUISÃO de bruxo, condenado à fogueira.   

terça-feira, 21 de agosto de 2018

A BIENAL E O MUNDO MARAVILHOSO DOS LIVROS

Fonte: Google/Folhas Avulsas


A BIENAL E O MUNDO MARAVILHOSO DOS LIVROS

José Pedro Araújo
Romancista, cronista e historiador

Quando ainda na ativa, no meio da ciranda da vida em que temos pouco tempo para o que realmente nos diverte, posto que todo o nosso tempo esteja cedido ao trabalho profissional, pegava-me a pensar quando teria tempo suficiente para ler todos os livros que gostaria. E quando esse tempo chegou, vi que precisaria de bem mais do que vinte e quatro horas por dia para dar vazão à minha vontade de me debruçar sobre todos os assuntos do meu interesse. Mais que isso. Precisaria combater o sono que costuma nos acompanhar quando a vista já se mostra cansada, e até mesmo me desligar das outras atrações que teimam em chamar a nossa atenção. Como a internet, por exemplo, que traz para junto de nós um mundo de perspectivas sem fronteiras. Ou mesmo os games, para aqueles aficionados.

Por conta disto – já que o tempo de que disponho não será suficiente – resolvi ser mais seletivo com relação ao que vou ler. Nessa nova fase estão fora do meu catálogo de leitura os best-sellers, ou quase todos os livros que aparecem nas listas de mais vendidos. Sobre os outros, não costumo lançar olhos por razões que não gostaria de falar nessas poucas linhas. E como me sobra pouco tempo para ver tudo o que gostaria, tenho me dedicado, isso sim, aos clássicos, principalmente à releitura de alguns livros que considero ter acrescentado algo de positivo na minha vida.

A atração pelas ideias postas no papel tem me atraído desde sempre, quando passei a me apegar às revistas em quadrinhos lá nos distantes dias da minha infância. Costumo dizer que gosto, desde sempre, até mesmo do cheiro da tinta sobre um livro novo. Aprecio, sobretudo, manusear uma brochura, ler suas orelhas e prefácio, admirar alguma gravura ou fotografia que porventura ela contenha. Talvez por isso, não acredite que o livro um dia venha a desaparecer frente às novas propostas tecnológicas da escrita. Como os e-books, por exemplo. Aliás, também tenho o meu leitor de livros digitais recheado com alguns títulos que aprecio, e o carrego comigo sempre, sobretudo quando estou viajando. Dá para levar junto comigo uma biblioteca quase completa, sem comprometer o peso da bagagem. Por isso, não gosto de entrar muito na discursão sobre esse negócio de o que é melhor, o livro físico ou digital. Mas posso adiantar que tenho alguma preferência pelo livro físico, de papel.

Por tudo o que afirmei acima, toquei tambores quando se anunciaram – há dezesseis anos passados – que alguns abnegados estariam organizando a primeira feira de livros do Piauí. Mal esperei pela sua abertura, e lá estava eu para conferir tudo. Não é preciso dizer que fiquei deveras feliz com o que vi. E mal começou o evento, uma multidão de jovens e crianças saia de todas as ruas para desaguar no local do acontecimento literário do ano. Anui que dali sairia muitos leitores, e que muitos se apegariam aos livros como um náufrago à tábua salva-vidas.

Todos os anos volto ao SALIPI, várias vezes em cada edição, sempre que o mês de junho chega, para apreciar a festa em que se transformou o nosso salão literário.

Poucas semana atrás, estava eu em São Paulo quando uma notícia mais do que interessante me chamou a atenção no jornal que tinha em mãos: começaria naquela sexta-feira a Bienal do Livro de 2018. Quase não me contive. Sem querer, sem programar nada, estava em vias de visitar a maior feira de livros da América Latina. Era inacreditável que isso estivesse acontecendo comigo. Como já havia feito uma programação de visitas que eu gostaria de realizar em Sampa, tive que alterar tudo para incluir uma visita ao Anhembi, local em que a Bienal aconteceria. Só me preocupava uma coisa; será que a minha netinha de cinco anos gostaria da mudança de programa? Não só gostou, ficou encantada. E eu mais que todos.

A Bienal realmente merece todos os elogios que vêm recebendo todos os anos. É um lugar de encantamento e de prazer para os aficionados; um espaço em que as pessoas transitam felizes pelas ruas bem delineadas, largas, identificadas pelas letras do alfabeto que vai de A a O. Aqui um pequeno reparo. Ou uma ideia. Talvez ficasse melhor se ao invés de caracteres, dessem nomes de grandes autores nacionais às ruas. Rua Ariano Suassuna, Rua Bandeira Tribuzi, Rua Gonçalves Dias, Rua Machado de Assis, e assim por diante. Ou até mesmo se homenageassem escritores paulistas, quem sabe. No mais, nenhum outro reparo a fazer.

Transitar pelas ruas da Bienal e encontrar tantas pessoas com um largo sorriso estampado no rosto era uma coisa tão prazerosa e cheia de encantamento que não vi o tempo passar. Cada estande edificado com tanto esmero e beleza era motivo para uma parada e uma consulta em busca de algum título que me agradasse. Precisaria de mais de um dia para apreciar tudo de bom que vi por lá.

Minha netinha Bela, alvo da minha preocupação inicial, ficou também encantada com o que viu, e não reclamou uma única vez de cansaço. Tirou de letra. De resto, observar famílias inteiras passeando entre livros como se aquilo as transportasse para o sétimo céu, o céu de saturno, tornava-me o dia muito feliz. Enquanto isso, pessoas organizavam-se em grupos em um espaço livre para degustar um lanche como se estivessem em um piquenique ao ar livre. Nada mais agradável. Em suma, a festa do livro de São Paulo foi uma experiência incrível e que posso catalogar como uma das mais agradáveis da nossa viagem.  

domingo, 19 de agosto de 2018

PARNAÍBA REVISITADA

Fonte: Google/Joranl da Parnaíba

PARNAÍBA REVISITADA 

Elmar Carvalho

Pelos labirintos
de antigas ruas perdidas
caminho sem destino
e mergulho no temporal
das cavernas inescrutáveis
do deus Cronos
e o que se chama passado
intacto resgato
num pequeno pedaço de um
velho azulejo desbotado.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

PASSANDO PELO CENTRO DO RIO

Fonte: Google/Alexandre Macieira

PASSANDO PELO CENTRO DO RIO

Cunha e Silva Filho

       Não  foi  hoje nem ontem, nem anteontem. Foi numa das vezes nos últimos dias que dei um pulo pelo Centro do Rio. Tenho-o evitado por uma razão mais forte: um pouco de medo da violência. Contudo, não é esse o motivo pelo qual tenho deixado de ir sempre a essa parte  da Cidade Maravilhosa que me é tão cara por tantas razões que daria uma outra crônica. Considero-me um bom ou mesmo  ótimo amigo dessa cidade  que escolhi pra viver. Nela resido há meio século e quebrados. Dizem que quem ama não encontra defeitos na pessoa amada e o Rio é mais do que uma cidade. É uma pessoa amada.  Com o  longo tempo de convívio com ela sei quais são os seus  defeitos e as suas qualidades, estas bem maiores de que aqueles. É por amar o Rio e querer-lhe bem que me ponho com um pé atrás e por isso  faço questão de apontar-lhe os defeitos que ora pude constatar na mencionada vez  que andei pelo Centro

             É óbvio, leitor, que tenho direito de mostrar onde  o Centro está ruim, péssimo mesmo. Não por culpa da cidade em si, i.e., da alma dessa metrópole, alma essa   que estão querendo  matar por absoluta  falta de amor à cidade, que não merece tal descarte da autoridade municipal, do alcaide de plantão, de alguém que não sei por cargas dágua virou prefeito do Rio. Chegando ao Centro, me deparo com um lugar feio, apinhado de camelôs surgidos alarmantemente país com a situação deplorável da crise  de recessão  e desemprego que se abateu pelo país.

             Andando  pelas ruas principais do Centro, ruas que aprendi a amar -  vejo um ar de pobreza, de decadência, de falta de energia, de vitalidade,  tão diferente daquela vez em tempo longínquo  quando um jovem de dezoito anos  andava pelas  linda Avenida Rio Branco, movimentada, feérica, cheia de pessoas bonitas, bem vestidas  animadas, cuidando  de suas vidas  e problemas. No Centro havia muitas lojas abertas, funcionando plenamente, a todo vapor.  Havia muitas livrarias e muitos bons sebos espalhados por todo o entorno. Na Rua da Carioca,  era grande o número de lojas com diferentes tipos de comércio bem movimentado, com muita clientela. Hoje, o que encontrei: a Rua da Carioca  feito um fantasma perdido nos braços da decadência, com portas fechadas, rua  morta diante dos meus olhos divididos entre o passado alegre e ruidoso  e o presente entristecido e silencioso.Não é possível tanta quebradeira.

            Diante de mim, o presente são ruínas de um antigo Centro sucateado pelos maus tratos que um governador vilão dispensou velhacamente ao Rio de Janeiro e por um governo municipal e outro federal  que  teimam em tornar mais  moribundo  uma cidade e um Centro que eram o orgulho dos cariocas, dos brasileiros e estrangeiros que por aqui nos vêm ainda visitar.

          É evidente também que o Centro dispõe de algumas  reservas de beleza a oferecer ao ilustre visitante. Se a Praça Tiradentes  está desmilinguida,  sem graça, nem beleza é ainda possível estender a vista para a belíssima Praça Paris, em frente da qual existe  um lugar ainda   aprazível ao olhar, que é o Parque do Flamengo, a Baía da Gunabara. As marinas e, ao longe, o belo bairro da Urca, já à altura de Botafogo, além do majestoso Pão de Açúcar. Entre o cenário grotesco da decadência do Centro e  e a paradisíaca  paisagem  natural  carioca bem se poderia bem  afirmar que o   Rio é uma recanto barroco no bom sentido desse estilo natural-artificial.

         Retorno às considerações sobre o estado de penúria e de fealdade que está  pedindo socorro: a Praça Tiradentes, o número altíssimo  de camelôs desordenadamente distribuído por todo  o Centro, a Rua da Carioca que clama para voltar ao seu  estado anterior  com comércio vivo e pulsante, o Largo da Carioca (antigo Tabuleiro da Baiana)  também infestado  por   camelôs, malandros,  batedores de carteiras, mendigos, desocupados, as ruas  antigas mais distantes que  não são nunca  reformadas  nas suas fachadas, como ocorre em cidades europeias e em outros países do mundo que preservam  o legado da arquiteturas de seus prédios   e casas.

         Espero que os próximos  prefeitos do Rio de Janeiro  não só cuidem do que ainda  presta no Centro da cidade mas também  priorizem um plano de governo que faça  do Centro do  Rio um cartão de visitas  recuperando o antigo encanto  e a alma dessa cidade que não pode ser vítima da incompetência a um só tempo de péssimos governantes como o atual prefeito, um governador venal já preso e um atual governador  incompetente e omisso.

       Não resta dúvida de que o ex-prefeito Eduardo Paiva, com todos os muitos  defeitos  que nele podemos apontar, em muitos aspectos,  soube conduzir a sua gestão  com resultados relativamente  positivos, como a revitalização  da área do Porto do Rio de Janeiro,  da Praça Mauá, os bondes elétricos que cortam o Centro, os ônibus das linhas do BRT, o pagamento dos funcionalismo em dia, alguns  pequenos reajustes nos vencimentos,  bônus de Natal, presença da Guarda Municipal  nos bairros, melhor ordenamento  dos camelôs pela cidade, entre outras obras.

      Espero ainda ver  o meu Centro da cidade revigorado, um lugar em que se possa  andar sem medo  de  ser assaltado, com uma vida comercial dinâmica, com belas  livrarias,  teatros em funcionamento, vida noturna, uma Lapa segura e com interna vida noturna, sem cracudos nem bandidagem, com bons cinemas,  casas de shows,  feiras de  livros  como antigamente e outras atrações  de diversões  diurnas  e  noturnas.          

     Enfim,  um Centro festeiro brincalhão,  bem policiado, cheio do bom humor carioca, um Rio moderno sem perder os velhos traços de uma cidade com alma e coração aberto e sincero, um Centro de uma cidade que nasceu para  ser bela e hospitaleira,  amante do samba de raça, do sotaque chiante, das  lindas mulatas, das mulheres de  curvas perfeitas, do invejável carnaval carioca e dos refúgios de um boteco requintado e  pujante de vida. Rio quarenta graus,  Rio brasileiro. Por um Centro de   nossos sonhos  irradiando belezas e contentamento aos  bairros  tanto os mais humildes quanto os mais  refinados.  Um Rio de todos os brasileiros e de todos que o venham visitar. O Centro da cidade é o  ponto de partida e de retorno do que queremos   para ele, por ele e com ele. Viva o Centro! Um   abraço carinhoso deste “carioca”por opção e antiguidade.   

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Julião Afonso Serra, um dos quatro grandes sesmeiros do Piauí.

Fonte: Portal Entretextos

Julião Afonso Serra, um dos quatro grandes sesmeiros do Piauí.

Reginaldo Miranda * 

O nome desse sertanista foi sempre ofuscado pelo de seu afamado irmão, Domingos Afonso Sertão. No entanto, seus feitos não foram menos eloquentes do que os deste. Ambos foram amigos inseparáveis e sócios nas entradas pelo sertão e no assentamento das inúmeras fazendas, assim como no comércio de gado nas principais feiras do Nordeste, muitas delas por eles fundadas. Por essa razão, esse pioneiro não poderia faltar nesse inventário de figuras notáveis que influenciaram em nossa formação histórica e social.

Julião Afonso, o moço, nasceu cerca de 1642, na freguesia de São Domingos da Fanga da Fé, vulgo Encarnação, então pertencente ao Concelho de Mafra, depois passando ao de Torres Vedras, mais tarde retornando ao de Mafra, ambos no arcebispado de Lisboa, filho de Julião Afonso e de sua mulher Jerônima Francisca, ambos falecidos na mesma freguesia, onde cultivavam uma vinha na ribeira do Barril.

No ano de 1670, ou pouco antes, acompanhou o irmão primogênito na travessia do mar oceano, em busca de oportunidades no Novo Mundo. Nesse aspecto, seguia uma tendência dos jovens portugueses de antanho, que vinham buscar oportunidades na colônia. Era a busca pelo eldorado. Embarcando no porto de Lisboa, depois da travessia marítima aportaram na cidade da Bahia. Dali, rumaram para o sertão, estabelecendo fazenda de nome Sobrado, na margem esquerda do rio São Francisco, banda de Pernambuco. E prosperaram no criatório bovino, amanhando o gado curraleiro ou pé-duro, oriundo das ilhas costeiras de Portugal, então adaptados no Brasil.

No entanto, ao romper do dia quando ordenhavam vacas paridas nas mangas e currais ou ao cair da noite, nas poucas horas de descanso, em que se reuniam para trocarem ideias no pátio da fazenda, defronte à casa rústica, não tiravam os olhos da serra que vislumbravam no ocidente desconhecido. Aquela cordilheira serrana forçava o rio São Francisco a infletir bruscamente para o mar. Além, muito além daquela serra, como diria o grande romancista José de Alencar, existia um mundo desconhecido que aguçava a curiosidade daqueles dois irmãos guerreiros lusitanos. Dos índios aliados, certamente ouviam relatos de rios perenes que corriam entre o capim mimoso e campinas verdejantes. Era o suficiente para aguçar a curiosidade desses conquistadores lusitanos e fazem-nos sonhar em conquistar esse mundo desconhecido. E quem sonha de verdade arruma forças para a execução, principalmente quando esse sonho se transforma em ideia fixa. Um homem de ideia fixa é um homem inquebrantável. Já dizia Machado de Assis: “Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa!” A essa altura, acreditamos que as noites desses dois irmãos se tornaram indormidas, rolando na cama rústica de couro ou na rede aprendida a deitar com os índios. Era a maturação do plano de conquista, formação de tropa e munição de arma e boca.

Então, com as ideias em ordem procuraram os senhores da Casa da Torre, para ajudarem-nos no empreendimento da jornada. Foram bem recebidos e seu plano aprovado pelos irmãos Francisco Dias d’Ávila e Bernardo Pereira Gago, senhores daquele morgado. Por esse tempo, já era conhecida a capacidade de trabalho e empreendimento dos irmãos Domingos Afonso e Julião Afonso, os mafrenses, como lhes alcunhavam os contemporâneos. Por essa razão, fácil foi o financiamento da jornada lhes tendo sido fornecido por aqueles empreendedores gente armada, inclusive indígenas aliados e munições de boca.

Foi no verão de 1671, que os irmãos Domingos Afonso e Julião Afonso, alcançaram a cumeada daquela serra desconhecida e desceram pelo vale de um rio de pouca água mas terreno fértil. Essa conquista faria história, sendo o marco inicial da colonização do Piauí. O rio por eles descoberto receberia nome alusivo aos peixes pescados em suas águas, piaus, daí recebendo o nome de rio Piauí, isto é, rio dos piaus. Por questão de pioneirismo esse nome seria estendido a todo aquele vasto sertão e depois à capitania que seria criada por carta régia. A serra por eles transposta receberia o nome de Dois Irmãos, em homenagem à conquista. E desde então esses dois mafrenses receberiam nova alcunha: Domingos Afonso Sertão e Julião Afonso Serra.

Três anos depois, em 1674, com a repercussão da primeira entrada, esses irmãos acompanham o coronel Francisco Dias d’Ávila e Bernardo Pereira Gago, em nova entrada ao mesmo território, desta feita pelo vale do Gurgueia, em perseguição aos índios de mesmo nome, razão de assim terem-no batizado aquele importante curso d’água. Estava, assim, por eles descoberto o Piauí, iniciando-se uma fase dura de devassamento e conquista na chamada guerra aos bárbaros, em cujas lutas iam sobressair-se muitos outros denodados conquistadores em diversas fases da luta.

Como recompensa do empreendimento, por concessão de 13 de outubro de 1676, do governador de Pernambuco, D. Pedro de Almeida, esses quatro conquistadores recebem de sesmaria quarenta léguas de terras em quadra, que as dividiram em partes iguais. Em 30 de janeiro de 1681, foi feita outra concessão de igual tamanho, pelo governador Aires de Souza e Castro. Em 29 de dezembro de 1683, mais uma concessão de doze léguas a cada um, fora feita pelo governador D. João de Sousa. O mesmo governador concedeu vinte léguas em quadra a cada sócio, em 23 de outubro de 1684. Por fim, nessa última data de 13 de outubro de 1684, novamente este mesmo governador de Pernambuco, D. João de Souza, concedeu a cada um dos mesmos sócios, entre outros, mais “dez léguas a cada um, resolvendo em todas as Datas, caatingas e terras inúteis de criar gado, com cuja declaração, que se vê nas mesmas sesmarias, compreendendo estas, duzentas quarenta e duas léguas em quadra, pode ser, que seiscentas léguas não sejam bastantes para preencherem as léguas concedidas em campos e terras próprias, para a criação e conservação dos gados”. De certa forma, essas excessivas concessões, algumas com subterfúgios para alargá-las, como a última, era a compensação da coroa pelo empreendimento por eles realizado. Mais terra conquistada, resultavam em mais fazendas e, consequentemente, mais impostos para o erário real. Assim, todos ganhavam com a conquista, menos os indígenas massacrados. Essas terras recebidas em sesmarias eram arrendadas a posseiros que as cultivavam e nelas situavam fazendas mediante o pagamento de rendas anuais. A constituição desse latifúndio iria assinalar indelevelmente a formação histórica do Piauí, com repercussões até os dias de hoje em sua vida política e administrativa.

Foi na fazenda da Passagem, de sua propriedade, no rio Canindé, que teve início a fundação de um arraial e criação da primeira freguesia da nova conquista, denominada Nossa Senhora da Vitória do Brejo do Mocha do Sertão do Piauí. A escolha do local era estratégica por ser o centro do território, dando-se por eleição entre os primeiros posseiros, coordenada pelo padre Miguel de Carvalho, em 1697. No entanto, a esse ato se opôs o sesmeiro Julião Afonso Serra, ingressando com ação de reintegração de posse na Relação da Bahia. Houve litígio demorado, com muitos recursos e embargos, no foro da Bahia e na corte de Lisboa. Foi a mais demorada contenda judicial do Piauí colonial. Nela tomaram parte, de um lado o sesmeiro Julião Afonso Serra, sucedido pelo sobrinho e herdeiro universal, Domingos Jorge Afonso, e de outro a Igreja, sob a liderança do vigário da nova freguesia da Mocha, Pe. Tomé de Carvalho e Silva. Porém, com a criação da vila e instalação do senado da câmara, este interveio na disputa, opondo-se aos dois lados, o que tornou o litígio mais complexo. É este o mais importante capítulo da luta entre posseiros e sesmeiros no Sertão de Dentro.

No início da contenda, o referido sobrinho Domingos Jorge Afonso, então atendendo pelo nome de Domingos Afonso Serra, chegou a praticar atos de desforços possessórios, invadindo a povoação e lançando fogo sobre as choupanas que se construíam. No entanto, em sinal de resistência o vigário as reconstruiu com maior grandeza.

Porém, não sobreviveu o nosso biografado ao desfecho dessa disputa territorial, tendo falecido pouco antes de seu irmão primogênito e sócio nos empreendimentos, isto por volta de 1705, pouco antes ou pouco depois. Não encontramos registro de seu casamento, provavelmente tendo permanecido solteiro. Contudo, se convolou núpcias, o que não acreditamos, já era viúvo ao tempo do óbito, porque seu único herdeiro, instituído a título universal, foi o aludido sobrinho Domingos Jorge Afonso, também natural de Mafra, que o acompanha ao menos desde a última década do século XVIII, tendo com ele se oposto à fundação da Mocha. Esse herdeiro vai sucedê-lo em todo o seu patrimônio, inclusive no domínio de todas as suas sesmarias no Piauí. Fora casado com dona Antônia Florência de Jesus, que lhe sucedeu na administração desse imenso patrimônio, juntamente com o filho João Jorge Afonso. Foi este o destino do patrimônio de Julião Afonso Serra, um dos quatro conquistadores e primeiros grandes latifundiários do Piauí seiscentista e setecentista.

Segundo uma relação de todos os possuidores de terras no Piauí, datada de 16 de novembro de 1762, que fora elaborada pelo conselheiro Francisco Marcelino de Gouveia, a mando de Sua Majestade:

“Restam das que declara a dita Provisão, Francisco Dias de Ávila, seu irmão Bernardo Pereira Gago, Francisco de Souza Fagundes, que também parece era seu parente, e Domingos Afonso Sertão, os quais todos obtiveram as datas, juntamente com Julião Afonso Serra, mas é certo, que destes só entraram no descobrimento das terras, e conquista dos índios silvestres, os sobreditos dois sócios Ávila, e Sertão, e este interessado com o dito  irmão Julião Afonso Serra, o que se alcança da Escritura Letra A, porque se manifesta a composição, que o Administrador das capelas do dito Sertão fez com Domingos Jorge Afonso, dando a este a parte que tocava nas datas ao dito Serra, de quem foi herdeiro, e cedendo-lhe por esta razão, a quarta parte dos sítios descobertos pelo dito Sertão/cujos bens, estão pertencendo às capelas que este instituiu, e administram os Regulares da Companhia denominada de Jesus,/por ter em todas a metade o dito Ávila/os bens do qual, administra a Casa instalada da Torre da cidade da Bahia;/e todos três, ou seus herdeiros, e sucessores, e de seus bens administradores, são os únicos, que atualmente possuem as terras e Datas nesta Capitania,/ no meu sentir/ que pelas resoluções de Sua Majestade se acham anuladas; e é o que posso certificar, quanto aos chamados sesmeiros da mesma Capitania” (AHU. ACL. CU. 018. Cx. 8. D. 513).

A fim de dirimir conflitos, por escritura pública de composição datada de 22 de julho de 1696, Domingos Afonso Sertão dividiu em partes iguais com a Casa da Torre, essas terras por ele descobertas. Depois de sua morte, conforme se viu, foi esta metade dividida entre seus sucessores, isto é, os administradores da capela por ele instituída e o herdeiro universal de seu irmão Julião Afonso Serra, que era sobrinho de ambos mas só herdou de um dos tios. Por essa informação documentada fica patente que enquanto viveram os irmãos Afonso conservaram o patrimônio indiviso.

Segundo o mesmo documento, da lavra do conselheiro Francisco Marcelino de Gouveia, datado de 16 de novembro de 1762, depois de anuladas diversas concessões, ainda existiam muitas fazendas desse sertanista, a saber:

“As fazendas que pertenciam ao dito Julião Afonso Serra, e por ele foram povoadas nesta Capitania, e por seu falecimento a seu sobrinho e herdeiro universal, Domingos Jorge Afonso, por morte do qual, ficou na posse delas sua mulher Dona Antônia Florência de Jesus, e João Jorge Afonso, são as seguintes:

‘A fazenda chamada a Maravilha, situada na ribeira da Itaueira, freguesia de Santo Antônio da Gurgueia, termo da vila de Jerumenha do Piauhy, que tem duas léguas de comprido e uma de largo.

‘A fazenda chamada o Peripery, situada na mesma ribeira, que tem três léguas de comprido e duas de largo.

‘A fazenda chamada o Saco, na mesma ribeira, que tem duas léguas de comprido, e o mesmo de largo, as quais todas, que no tempo em que se povoaram era uma só com o nome de Maravilha, venderam a dita Dona Antônia Florência de Jesus, e João Jorge Afonso a Antônio Pereira de Sampaio e João Rodrigues Bezerra, que atualmente as possuem, como em seu lugar se dirá.

‘A fazenda das Salinas, na dita freguesia e ribeira, que tem duas léguas e quarto de comprimento, e três léguas de largura, a qual vendeu o sobredito João Jorge aos padres da Companhia denominada de Jesus, da qual se acha hoje de posse o capitão Luiz Miguel dos Anjos, pela razão que também em seu competente lugar se dirá.

‘A fazenda chamada São Romão, sita em um riacho de mesmo nome, que faz barra em outro chamado Jacutiara, que dizem tem de comprimento sete léguas, e de largura três, a qual passou para o domínio dos ditos Padres, por execução que fizeram à viúva de Domingos Jorge Afonso, e hoje se acha no do tenente-coronel João do Rego Castelbranco, pelo título, que também em seu lugar se declarará.

‘E não há notícia, nem por modo algum consta que o sobredito Julião Afonso Serra, povoasse com gados seus, ou seja possuída fazenda alguma por essa razão, em virtude das Datas que se acham anuladas, mais que as sobreditas, e só sim se faz certo, que os seus herdeiros, não só têm cobrado rendas de terras, como vendido sítios, em muitos dos quais, estavam já estabelecidas fazendas, com o pretexto de lhe pertencerem, como herdeiros do dito sesmeiro Julião Afonso Serra, os quais em seu lugar se declaram” (AHU. ACL. CU. 018. Cx. 8. D. 513).

Em outro local do mesmo documento, referente à freguesia de Santo Antônio do Gurgueia, da vila de Jerumenha, constam os seguintes esclarecimentos: Manuel Paes de Brito, possui a fazenda chamada a Batalha, nas margens do rio Itaueira, a qual possuiu Domingos Jorge Afonso e lha vendeu o herdeiro João Jorge Afonso; Antônio Pereira de Sampaio e João Rodrigues Bezerra, possuem as fazendas Maravilha, Peripery e Saco, na mesma ribeira, pela mesma razão; Luiz Miguel dos Anjos, capitão de cavalos do Regimento Auxiliar desta Capitania, possui a fazenda Salinas, que foi dos Regulares, à qual tinham comprado ao dito João Jorge Afonso, herdeiro de Domingos Jorge, a qual lhe foi dada por ordem de Sua Majestade; Gonçalo de Barros Taveira, possui a fazenda Jacaré, na ribeira do Itaueira, comprada a Baltazar Carvalho, de que fora cobrada renda por Domingos Jorge Afonso, sendo o possuidor desobrigado por sentença judicial; João do Rego Castelbranco, possui  a fazenda São Lourenço, entre a Gurgueia e a Itaueira, com cinco léguas de comprimento e um quarto de légua de largura, que foi dada em dote a sua mulher pelo pai, Gonçalo de Barros Taveira, que inicialmente pagara renda a Domingos Jorge, depois ficando desobrigado por sentença; pela mesma razão, possui o mesmo a fazenda São Francisco, no riacho chamado Uhica, entre as duas citadas ribeiras, de que seu sogro foi obrigado a pagar renda a Domingos Jorge e a João Jorge, porém, eles nunca requereram execução da sentença; nesta mesma situação estava a fazenda Uhica, de Dona Antônia Gomes Travassos, sogra de João do Rego Castelbranco, também com sentença concedida àqueles, mas sem execução; também, dona Thereza da Silva, se viu obrigada a pagar renda da fazenda Papagaio, com quatro léguas de comprido e outras tantos de largo, à qual comprou a José Garcia Paz, comprando também os direitos de Domingos Jorge Afonso. Na freguesia de Nossa Senhora da Vitória, também cobrou renda o herdeiro Domingos Jorge Afonso, das fazendas o Frade e o Fradinho, na ribeira do Itaim, a Miguel de Araújo Reimão, que depois viu-se por sentença desobrigado a pagar; na mesma freguesa e ribeira do Canindé, Julião Afonso possuía a fazenda dos Poções, em o Riacho Seco, com seis léguas de comprido e três de largura e a fazenda da Volta, com cinco léguas de comprimento e largura variada, que seu herdeiro Domingos Jorge as vendeu a Hilário Vieira de Carvalho, o velho; na mesma fazenda e ribeira, os herdeiros de Julião Afonso e Domingos Jorge Afonso cobravam renda da fazenda o Retiro, de Manoel Fernandes Guimarães; também, da fazenda Arraial, hoje cidade de mesmo nome, de Miguel de Araújo Reimão; Aldeia, de Mathias de Araújo Veloso, que depois a venderam ao mesmo; Boa Vista, que depois a venderam ao possuidor Francisco Cardoso Rosa; Passagem, de que se pagou renda sucessivamente a Domingos Jorge, ao vigário da Mocha como passais de sua igreja e ao senado da câmara, conforme as decisões judiciais; na mesma freguesia e vale do rio Piauí, fazenda Curral do Campo, do possuidor Manoel Antônio Campelo, que pagou renda até alcançar sentença que o desobrigou; também os herdeiros de Manoel de Sá de Araújo, pagaram renda da fazenda Angicos, a Domingos Jorge, até que a compraram ao seu herdeiro, João Jorge Afonso.

Também, é fato incontroverso que outros membros da família Afonso, fixaram residência no Piauí. É o caso de outro sobrinho daqueles sertanistas, que não teve a mesma sorte do irmão Domingos Jorge Afonso, nada herdando dos tios. Segundo os registros analisados, no riacho dos Poções, afluente do rio Piauí, Ignácio Gomes Afonso possuía a fazenda de mesmo nome, com quatro léguas de comprimento e meia de largura, que lhe tinha passado seu irmão Domingos Jorge Afonso, que na mesma se introduziu, expulsando dela a Vicente Ferreira Morgado, que a tinha povoado. Com seu óbito, passou a mesma fazenda à viúva Domingas Rodrigues Flores, que ali permaneceu residindo com os filhos Diogo, Miguel, Manoel, Helena, Eugênia, Joana, Victória e a sobrinha Theodózia, além de cinco escravos, duas escravos e dois forros.

Sem a mesma informação de parentesco, nas cabeceiras do riacho dos Pilões, afluente do Canindé, João Jorge Afonso possuía a fazenda Brejo, também chamada Brejinho, cum uma légua de terra em quadra, por ele povoada. Nela residia com a esposa Maria da Silva de Jesus, além de um escravo e uma escrava. Pensamos que este não é o filho do capitão Domingos Jorge Afonso, mas um primo homônimo. Provavelmente, é um sobrinho-neto daqueles sertanistas, filho do mafrense Ignácio Gomes Afonso. Foi filho daquele casal o capitão Roberto Ramos da Silva, fundador da fazenda Cachoeira do Roberto, no atual Município de Afrânio, em Pernambuco, onde deixou numerosa descendência.

Com essas notas resgatamos a memória do sertanista Julião Afonso Serra, fazendo-lhe justiça perante a história. E demonstramos com prova documental que familiares seus se estabeleceram em nossa terras, deixando descendência.

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* REGINALDO MIRANDA, autor de diversos livros e artigos, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Atual presidente da Associação de Advogados Previdenciaristas do Piauí Contato: reginaldomiranda2005@ig.com.br