quinta-feira, 30 de agosto de 2018

CATÁLOGO DE LITERATURA

Fonte: Google/Blog do Didi Galvão

CATÁLOGO DE LITERATURA

Des. Valério Chaves
Da Academia de Letras da Magistratura Piauiense e da UEB-PI
             
            “A MAGIA DO CONTO” e “RIACHO NOSSO CHÃO” são os títulos das  mais recentes publicações do desembargador, poeta, escritor e acadêmico José Soares de Albuquerque.

            1. Em “A Magia do Conto” (158 págs. editora Funcor/2017), o autor identifica-se com o universo temático centrado no conflito cultural existente entre a ciência, veio poético, sentimentos, costumes e as formas tradicionais de sabedoria popular do homem sofrido e pacífico.

             Os casos, os acontecimentos sociais, a criação de personagens ingênuas e estruturadas na unidade de espaço e tempo, parecem assumir ao mesmo tempo o clássico poder do autor de narrar e descrever lugares e cenas comandando a ação usando verbo fluente.

            A frase de Madame de Genlis, constante da p. 61, “A virtude, em toda sua pureza, é simples, natural, sem vaidade, sem ostentação, e em si própria acha a sua glória e recompensa”, pode ser apresentada como sintetizadora tanto da personalidade do autor como do conteúdo das histórias contidas na obra.

            Realista, como já demonstrara em seu romance de estreia “Os Cupins”- 2000, José Soares Albuquerque, usando de sutileza rara, faz dos seus textos autênticos documentários de vida ao conferir universalidade psicológica e social às histórias hilariantes apresentadas com pleno domínio de sua habilidade literária, mesmo os casos mais extremados (como assassínios, cangaço, desgraça amorosa e até tortura através de castração humana).

            Merece destaque, também, a capacidade do autor de narrar ambientes ambíguos e obscuros dando voz a diferentes personagens, cada qual integrada numa estrutura unitária definidora da ação principal onde os diálogos são misturados numa bela orgia linguística. E, claro, é divertido, porém menos pretensioso do que Machado de Assis em “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

            É neste sentido que o gaúcho Rochemberg - personagem principal de  “A Mulher Furada” (págs. 57/60) - se destaca do alto de sua ingenuidade. Depois de saber que a moça com quem ia se casar por amor era “furada de homem” dissera para Claudionor revelador do segredo: “não se vexe não Claudionor, pois não quero minha mulher para apanhar água não”.

            2. Em “Riacho Nosso Chão” (artigo/coletâneas, 296 págs. Press Color/2018), José Soares Albuquerque resgata com liberdade criadora, fatos vividos em sua meninice e o espírito de peregrinação de gente determinada passeando entre pontos de vista e focos narrativos de lugares geograficamente distantes desse “pedaço de mundo”, talvez querendo nos ensinar como nós nos entregamos a nossas preocupações diárias e esquecemos a criança que fomos.

            Usando linguagem e estilo simples entre a narração cultural e rigor histórico, José Albuquerque esgota o tempo vivendo-o no presente com os olhos postos nas memórias existenciais da terra berço ao tempo em que alimenta lembranças das peraltices da infância, retratando pessoas, paisagens e lugares com saudades de entes queridos que lhe ensinaram a viver.

            Em fim, as publicações desse já consagrado autor merecem uma leitura atenta. Mesmo quem não concorde com a linguagem e a estética, decerto acaba se tornando tributário.   

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