Fonte: Google/Blog do Didi Galvão |
CATÁLOGO DE
LITERATURA
Des. Valério Chaves
Da Academia de Letras da Magistratura Piauiense e da UEB-PI
“A MAGIA DO CONTO” e “RIACHO NOSSO
CHÃO” são os títulos das mais recentes publicações
do desembargador, poeta, escritor e acadêmico José Soares de Albuquerque.
1. Em “A Magia do Conto” (158
págs. editora Funcor/2017), o autor identifica-se com o universo temático
centrado no conflito cultural existente entre a ciência, veio poético, sentimentos,
costumes e as formas tradicionais de sabedoria popular do homem sofrido e
pacífico.
Os casos, os acontecimentos sociais, a criação
de personagens ingênuas e estruturadas na unidade de espaço e tempo, parecem
assumir ao mesmo tempo o clássico poder do autor de narrar e descrever lugares
e cenas comandando a ação usando verbo fluente.
A frase de Madame de Genlis,
constante da p. 61, “A virtude, em toda sua pureza, é simples, natural, sem
vaidade, sem ostentação, e em si própria acha a sua glória e recompensa”, pode
ser apresentada como sintetizadora tanto da personalidade do autor como do
conteúdo das histórias contidas na obra.
Realista, como já demonstrara em seu
romance de estreia “Os Cupins”- 2000, José Soares Albuquerque,
usando de sutileza rara, faz dos seus textos autênticos documentários de vida
ao conferir universalidade psicológica e social às histórias hilariantes
apresentadas com pleno domínio de sua habilidade literária, mesmo os casos mais
extremados (como assassínios, cangaço, desgraça amorosa e até tortura através
de castração humana).
Merece destaque, também, a
capacidade do autor de narrar ambientes ambíguos e obscuros dando voz a
diferentes personagens, cada qual integrada numa estrutura unitária definidora
da ação principal onde os diálogos são misturados numa bela orgia linguística.
E, claro, é divertido, porém menos pretensioso do que Machado de Assis em “Dom
Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.
É neste sentido que o gaúcho
Rochemberg - personagem principal de “A
Mulher Furada” (págs. 57/60) - se destaca do alto de sua ingenuidade. Depois de
saber que a moça com quem ia se casar por amor era “furada de homem”
dissera para Claudionor revelador do segredo: “não se vexe não Claudionor, pois
não quero minha mulher para apanhar água não”.
2. Em “Riacho Nosso Chão”
(artigo/coletâneas, 296 págs. Press Color/2018), José Soares Albuquerque
resgata com liberdade criadora, fatos vividos em sua meninice e o espírito de
peregrinação de gente determinada passeando entre pontos de vista e focos
narrativos de lugares geograficamente distantes desse “pedaço de mundo”, talvez
querendo nos ensinar como nós nos entregamos a nossas preocupações diárias e
esquecemos a criança que fomos.
Usando linguagem e estilo simples
entre a narração cultural e rigor histórico, José Albuquerque esgota o tempo
vivendo-o no presente com os olhos postos nas memórias existenciais da terra
berço ao tempo em que alimenta lembranças das peraltices da infância,
retratando pessoas, paisagens e lugares com saudades de entes queridos que lhe
ensinaram a viver.
Em fim, as publicações desse já
consagrado autor merecem uma leitura atenta. Mesmo quem não concorde com a
linguagem e a estética, decerto acaba se tornando tributário.
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