Fonte: Google |
QUANDO NOS LIVRAREMOS DESSE COMPLEXO DE VIRA-LATAS?
Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Foi Nelson Rodrigues, dramaturgo
recifense, tricolor de coração, profundo conhecedor da alma e das coisas
brasileiras, quem disse que tínhamos o estranho complexo de vira-latas; o cão,
para quem não conhece, é um cachorro sem pedigree, que costuma se imiscuir com
o lixo à procura de restos, sobras, sobejos, enfim, migalhas, porcarias. Quanto
ao homem, talvez quisesse tachar assim o indivíduo que se satisfaz com pouco, de
baixa autoestima, sem orgulho próprio; que, facilmente, se deixa influenciar ou
conduzir; é um tipo de maria vai com as outras.
Infelizmente, estamos agindo
assim, aceitando que nos tratem como vira-latas, mais agora que antes, não só
no futebol, paixão lúdica nacional, ou no que tange à nossa condição sociocultural
ou humano-existencial, também e, principalmente, como indivíduo ou ser político:
governantes e parlamentares, que elegemos, fazem conosco, enquanto
cidadão-contribuinte, o que bem entendem; tomam-nos por idiotas, e não sem razão:
reclamamos tanto dessa corriola, mas quando
temos oportunidade de fazê-los arrependerem-se do que dizem, prometem e não
cumprem, o que costumamos fazer? Continuamos votando neles ou em indicados por
eles, tão ou mais demagogos e hipócritas do que os próprios. Sabem eles, melhor
que nós, que temos memória curta e, por isso nos desrespeitam, humilham,
espezinham, até que se lancem, novamente, candidatos a um cargo eletivo, quando,
então, transformam-se em pessoas da melhor qualidade, que nos ouvem e prometem,
em sendo reconduzidos ao governo ou parlamento, atender-nos, prontamente.
Acreditamos, e, como prova, damos-lhes, outra vez, nossos votos de confiança;
não raro, justificando que é melhor votar em quem se conhece, do que em
estranhos – nunca ouviram essa cretina desculpa, dada por alguns a quem quer
saber porque continuam elegendo aqueles que, ao longo de suas gestões, apenas
criticam? –, e o círculo vicioso se perpetua, realimentado.
No futebol, notadamente,
sul-americano, os outros países são coitadinhos, e nós, os vira-latas: punem
equipes e jogadores brasileiros, com extremo rigor e muita facilidade, e fica
por isso mesmo. Se nosso poder judiciário tivesse a força que tem uma tal de CONMEBOL
– Confederação Sul-Americana de Futebol, não precisaríamos de tantas instâncias
judiciais. Seus julgadores, com uma tacada só, penalizam, incluem, excluem
atletas ou clubes, e a decisão passa a valer imediatamente. O Santos Futebol
Clube foi a última vítima de uma esdrúxula sentença da entidade: amanheceu o
dia vinte e oito de agosto precisando de
um placar mínimo para prosseguir na disputa; almoçou já tendo que ganhar a
partida da noite por três ou mais gols de diferença, pois a confederação o punira
com a perda de pontos e naquele escore, relativamente à partida anteriormente
disputada com o mesmo adversário, por inclusão de jogador, pretensamente,
irregular, sendo que, conforme se aventou na oportunidade, ela mesma, antes,
autorizara o atleta a jogar; e terminou a noite defenestrado da Taça
Libertadores, uma vez que, quando ainda estava zero a zero, a arbitragem,
alegando falta de segurança no estádio Pacaembu, onde se realizava a disputa – violência que muitos afirmaram não seria
motivo suficiente para tão drástica decisão, caso a peleja se realizasse no
campo do adversário, La Bombonera –, encerrou o jogo bem antes de decorrido o
tempo regulamentar. Tudo indica que o Santos acatou a sentença, ou então
desistiu de recorrer contra a decisão da CONMEBOL, pelo menos, até dia trinta e
um de agosto, quando encerramos este texto, continuava alijado do torneio
intercontinental.
Outro exemplo de complexo de
vira-latas veio à tona na forma de crítica que certo jornalista teria feito a
um “poste”, candidato à presidência da república, por, segundo aquele, ter dito
o candidato que o Brasil não deveria se meter no conflito venezuelano. Por que
teria? Outras ditaduras, além de nações havidas como pobres, e a Venezuela,
principalmente, somente nos têm feito perder patrimônio ou gastar recursos dos cidadãos-contribuintes,
seja na elisão de dívidas monumentais contraídas conosco e não honradas por
eles; seja para cobrir calotes financeiros, como os decorrentes de
investimentos em refinarias multinacionais de que participariam, mas deram para
trás; assunção pela União de empréstimos não pagos por governos daqueles países
ao nosso banco nacional de desenvolvimento nacional. Ou seja, sempre nos
metemos com essa corja de ditadores, nos damos mal; até sucursais de empresas
brasileiras sediadas em seus domínios já nos surrupiaram.
Às vezes, impacientamo-nos
diante da absurda propensão que nossos legisladores têm por proibições. Seria
isso a explicitação de uma doentia fixação ditatorial; reflexo da extrema
deficiência cultural que nos atribuem esses falsos luminares, ou apenas recorrentes
tentativas de nos tomarem por idiotas cidadãos subservientes, vira-latas? Chega-se,
por aqui, ao auge de proibirem a comercialização a terceiros, empresa ou
cidadão comum, de material de expediente ou uso generalizado – clips, canetas,
papel, caixas, cola, etc. – por indústrias ou fornecedores que os forneçam como
objeto de licitação pública.
Chega de sermos vira-latas. E
mais, como dizia vovó: quem tem dó do “falso” coitadinho, termina no lugar
dele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário