sábado, 1 de setembro de 2018

QUANDO NOS LIVRAREMOS DESSE COMPLEXO DE VIRA-LATAS?

Fonte: Google


QUANDO NOS LIVRAREMOS DESSE COMPLEXO DE VIRA-LATAS?

Antônio Francisco Sousa – Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

                Foi Nelson Rodrigues, dramaturgo recifense, tricolor de coração, profundo conhecedor da alma e das coisas brasileiras, quem disse que tínhamos o estranho complexo de vira-latas; o cão, para quem não conhece, é um cachorro sem pedigree, que costuma se imiscuir com o lixo à procura de restos, sobras, sobejos, enfim, migalhas, porcarias. Quanto ao homem, talvez quisesse tachar assim o indivíduo que se satisfaz com pouco, de baixa autoestima, sem orgulho próprio; que, facilmente, se deixa influenciar ou conduzir; é um tipo de maria vai com as outras.

                Infelizmente, estamos agindo assim, aceitando que nos tratem como vira-latas, mais agora que antes, não só no futebol, paixão lúdica nacional, ou no que tange à nossa condição sociocultural ou humano-existencial, também e, principalmente, como indivíduo ou ser político: governantes e parlamentares, que elegemos, fazem conosco, enquanto cidadão-contribuinte, o que bem entendem; tomam-nos por idiotas, e não sem razão: reclamamos tanto dessa corriola,  mas quando temos oportunidade de fazê-los arrependerem-se do que dizem, prometem e não cumprem, o que costumamos fazer? Continuamos votando neles ou em indicados por eles, tão ou mais demagogos e hipócritas do que os próprios. Sabem eles, melhor que nós, que temos memória curta e, por isso nos desrespeitam, humilham, espezinham, até que se lancem, novamente, candidatos a um cargo eletivo, quando, então, transformam-se em pessoas da melhor qualidade, que nos ouvem e prometem, em sendo reconduzidos ao governo ou parlamento, atender-nos, prontamente. Acreditamos, e, como prova, damos-lhes, outra vez, nossos votos de confiança; não raro, justificando que é melhor votar em quem se conhece, do que em estranhos – nunca ouviram essa cretina desculpa, dada por alguns a quem quer saber porque continuam elegendo aqueles que, ao longo de suas gestões, apenas criticam? –, e o círculo vicioso se perpetua, realimentado.

                No futebol, notadamente, sul-americano, os outros países são coitadinhos, e nós, os vira-latas: punem equipes e jogadores brasileiros, com extremo rigor e muita facilidade, e fica por isso mesmo. Se nosso poder judiciário tivesse a força que tem uma tal de CONMEBOL – Confederação Sul-Americana de Futebol, não precisaríamos de tantas instâncias judiciais. Seus julgadores, com uma tacada só, penalizam, incluem, excluem atletas ou clubes, e a decisão passa a valer imediatamente. O Santos Futebol Clube foi a última vítima de uma esdrúxula sentença da entidade: amanheceu o dia vinte e  oito de agosto precisando de um placar mínimo para prosseguir na disputa; almoçou já tendo que ganhar a partida da noite por três ou mais gols de diferença, pois a confederação o punira com a perda de pontos e naquele escore, relativamente à partida anteriormente disputada com o mesmo adversário, por inclusão de jogador, pretensamente, irregular, sendo que, conforme se aventou na oportunidade, ela mesma, antes, autorizara o atleta a jogar; e terminou a noite defenestrado da Taça Libertadores, uma vez que, quando ainda estava zero a zero, a arbitragem, alegando falta de segurança no estádio Pacaembu, onde se realizava a disputa –  violência que muitos afirmaram não seria motivo suficiente para tão drástica decisão, caso a peleja se realizasse no campo do adversário, La Bombonera –, encerrou o jogo bem antes de decorrido o tempo regulamentar. Tudo indica que o Santos acatou a sentença, ou então desistiu de recorrer contra a decisão da CONMEBOL, pelo menos, até dia trinta e um de agosto, quando encerramos este texto, continuava alijado do torneio intercontinental.

                Outro exemplo de complexo de vira-latas veio à tona na forma de crítica que certo jornalista teria feito a um “poste”, candidato à presidência da república, por, segundo aquele, ter dito o candidato que o Brasil não deveria se meter no conflito venezuelano. Por que teria? Outras ditaduras, além de nações havidas como pobres, e a Venezuela, principalmente, somente nos têm feito perder patrimônio ou gastar recursos dos cidadãos-contribuintes, seja na elisão de dívidas monumentais contraídas conosco e não honradas por eles; seja para cobrir calotes financeiros, como os decorrentes de investimentos em refinarias multinacionais de que participariam, mas deram para trás; assunção pela União de empréstimos não pagos por governos daqueles países ao nosso banco nacional de desenvolvimento nacional. Ou seja, sempre nos metemos com essa corja de ditadores, nos damos mal; até sucursais de empresas brasileiras sediadas em seus domínios já nos surrupiaram.

                Às vezes, impacientamo-nos diante da absurda propensão que nossos legisladores têm por proibições. Seria isso a explicitação de uma doentia fixação ditatorial; reflexo da extrema deficiência cultural que nos atribuem esses falsos luminares, ou apenas recorrentes tentativas de nos tomarem por idiotas cidadãos subservientes, vira-latas? Chega-se, por aqui, ao auge de proibirem a comercialização a terceiros, empresa ou cidadão comum, de material de expediente ou uso generalizado – clips, canetas, papel, caixas, cola, etc. – por indústrias ou fornecedores que os forneçam como objeto de licitação pública.

                Chega de sermos vira-latas. E mais, como dizia vovó: quem tem dó do “falso” coitadinho, termina no lugar dele.  

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