Charge de Gervásio Castro, baseada em foto de Paulo Barros, publicada originalmente no blog Piauinauta |
O meu irmão em sensibilidade
Carlos Rubem*
Conheci Joaquim Luiz Mendes de
Almeida no 27 de dezembro de 2002, no Café Oeiras. Encontro casual. Havia se
deslocado de São Paulo, sua terra natal, especialmente para passar as
festividades do fim do ano na Primeira Capital do Piauí, influenciado pelo
Emerson Boy, nosso conterrâneo.
Antes de retornar no início de
janeiro do ano seguinte, fez publicar e distribuiu de mão em mão um panfleto no
qual constava cópia de seu cartão de visita com os seguintes dizeres: “Aos
amigos de Oeiras que tão bem me receberam, desejo que todas as esperanças
depositadas em 2003 se concretizem. Estando em São Paulo, venham me visitar. Ao
porteiro do prédio onde moro, não diga seu nome, diga apenas “Oeiras” e a minha
porta estará aberta a você. Obrigado por tudo!”. Em seguida, autodenominou-se
Joca Oeiras.
Tomado de amores pela nossa
cidade, em fevereiro, inaugurou a Exposição “Cenas de Oeiras”, composta de
desenhos, em Coreldraw, na Câmara Municipal de São Paulo, produção artística
que foi levada a efeito, também, aqui e em Teresina, nos meses de maio e julho
de 2003, respectivamente.
Abandonou o emprego junto ao
Instituto de Previdência do Município de São Paulo, cargo que havia logrado
êxito em concurso público – primeiro lugar –, vendeu seu apartamento, e foi
morar em Parnaíba, em 2005, onde abriu a “Casa da Cajuína”, um bar cult.
Depois, veio dar com os costados
em Oeiras passando a animar o “Portal do Sertão”, sítio virtual da Fundação
Nogueira Tapety. Dentre tantas bandeiras, desfraldou campanha pela preservação
do prédio que abrigou a primeira indústria de laticínios do nordeste (1897),
localizado, hoje, em Campinas do Piauí, a “Fábrica dos Sonhos”; defendeu,
ardorosamente, para que fosse reconhecida a cajuína como patrimônio imaterial
do Piauí, o que de fato ocorreu pelo IPHAN; insurgiu-se contra a criação do
Estado do Gurgueia; organizou o livro de memória acerca do bar “Nós &
Elis”, que existiu em Teresina nos anos oitenta, além de ter publicado “O Terno
e o Frango” de sua autoria.
Ainda em 2003, editou o tablóide
“O Estado do Piauí – o mais charmoso do Brasil” “só para revelar ao mundo a
beleza exótica” da nossa região.
A sua presença não passava
despercebida, mormente porque usava roupas coloridas. “O anjo andarilho”
gostava mesmo de chamar atenção, o que, de “per si”, não era nenhum demérito.
Aliás, ele não se metia na vida de ninguém. “Toda paixão me diverte”, pontuava.
Gente boa, tinha a maior facilidade de fazer amizade. As suas atividades
virtuais eram intensas.
Despojado, atencioso, não tinha o
menor apego a bens materiais. Dias desses, entre os seus trecos, encontrei um
cheque, no valor de R$ 20,00, firmado pelo poeta Elmar Carvalho, em 28.07.2004,
para fazer face assinatura de seis números daquele jornal que não foi
compensado. Eita “véi” doido!...
Faz um ano do seu falecimento
(09.11.2017) deste meu irmão em sensibilidade. Está sepultado no Cemitério
“Campo da Esperança”, em Oeiras. Depois de muita demora, enfim, o seu túmulo
foi lindamente concebido pelo arquiteto e designer Edmo Campos, seu amigo. Em
breve, será levantado. Por ter sido ateu convicto, nele não haverá nenhum
símbolo religioso, vou logo avisando. A inauguração deste monumento será
festiva, bem ao estilo do extinto. Desde já, todos se sintam convidados!...
*Promotor de Justiça Aposentado e escritor.
Puxa vida, amigo Carlos Rubem, eu nem me lembrava mais desse agora "famoso" cheque, e muito menos se ele havia sido ou não descontado. O nosso Joca era mesmo incrível e fora de série. Que Deus o tenha!
ResponderExcluirAbraço,
Elmar