OS QUE OUSAM PENSAR QUE SABEM MAIS DO QUE
QUEM OS CRIOU
Antônio Francisco Sousa
Auditor Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Estudo patrocinado pelo British Medical Journal descobriu algo que, senão todos os homens,
pelo menos, os crentes, achavam que somente Deus, o Criador Todo-Poderoso, a
Natureza, sabia: quanto tempo dura a vida do ser humano. Chegaram à conclusão aqueles
curiosos estudiosos colaboradores do periódico que ela teria quinze minutos a mais
para cada pedaço de salsicha que o indivíduo haja deixado de levar ao estômago
– uma peça da iguaria, em média, pesa cinquenta e cinco gramas -; ou um ano a
menos para aqueles que deixarem de ingerir duas ou três xícaras de café,
diariamente.
Não saberia dizer se deram por encerradas as
perquirições a respeito do número de estrelas que existem no firmamento. Falam,
ou melhor, estimam, que somente na nossa via láctea, deveria haver entre cem e
duzentos bilhões delas; calculam, ainda, que existiriam centenas de bilhões de
galáxias. Como o número parece inconcluso, levando em consideração que milhões
delas morreram e outras tantas nasceram, desde a última estimativa,
arriscar-me-ia a dizer, sei lá se contrariando os mais entendidos, ou metidos a
entendidos no assunto, que elas somariam um trilhão, duzentos e dez bilhões,
noventa e um milhões e cento e seis, ou melhor, cento e sete mil unidades
estelares. Aos que não acreditam no número anunciado, recomendaria sugestão a
mim feita por alguém que, ironicamente, apontou quantidade diferente da minha:
em caso de desconfiança, disse-me ele, somente haveria uma forma de dirimir todas
as dúvidas e decretar a solução: contá-las, uma a uma.
Por vezes, a gente percebe que, ou algumas pessoas
imaginam dispor de mais tempo de vida que outras, o que lhes permite perder muito
dele com ociosidade, divagações entre nada e coisa nenhuma, ou pensam que somos
tão tolos, bobos ou idiotas, a ponto de acreditarmos em tudo que falam ou
escrevem, porque seria fruto de labor intelectual dos mesmos, e não de meros
devaneios ocasionais.
Ninguém sabe quanto tempo de vida lhe foi outorgado ou concedido pelo
Criador, tomando, ou não, café, comendo ou não deliciosa e apetitosa salsicha. Quem
delegara tanta autoridade a esses curiosos que se arvoram mais sábios do que
quem os criou? A propósito, como teria chegado à conclusão de que o número de
estrelas seria aquele por mim citado ali em cima, alguém poderia questionar. Responder-lhe-ia
que, partindo de pressuposto semelhante ao de que pretensos estudiosos,
mentirosos, falaciosos ou ficcionistas se valem: especulação. Ora, se admitem
que o número delas não é infinito, tampouco precisam sua exatidão, por que
estaria errado e eles que, como eu, não se meteram a contá-las, certos? Obviamente,
não teriam feito a contagem da quantidade delas adotando regras e conhecimentos
técnicos e matemáticos utilizados por engenheiros ou bombeiros para calcular o
número de indivíduos que determinada área comporta; até porque, por mais que
especulem, é impossível saber a área do cosmos e dos demais corpos celestes, o
que inclui as estrelas.
Se, de fato, soubesse quantos anos, dias, horas e
minutos de vida me fornecera o Criador, poderia, caso quisesse, administrar o
tempo que pretenderia ficar sobre a superfície terrestre, utilizando-me dos
ensinamentos e descobertas de insignes estudiosos: comendo as salsichas que
julgasse interessante e contrabalançando as perdas ingerindo a quantidade de
café necessária para compensar os minutos perdidos com a guloseima proteica,
gordurosa e sódica, até que chegasse a uma quantidade que me deixasse
satisfeito e pronto para ingressar no mundo dos mortos, ir em busca da minha
estrela.
Sabem tão pouco esses que ousam pensar saber mais do
que quem os criou, que amanhã ou, logo mais, suas conclusões “metacientíficas”,
sequer, terão o valor de um bom recheio de salsicha ou de um péssimo café
requentado.
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