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A OBRA SEM FIM
Nathan Sousa (1973)
Não falarei do avesso que da arte
se desprende como quem se livra
da arquitetura das igrejas e
templos.
Falarei da arte que ali habita.
Da
nítida face enrubescida no
espanto
de Gaudí. Da febre que devora
os olhos de quem passa sob o
juízo em músculos de Miguel.
É desta arte que eu falo. Da
argamassa, do pó, da forma,
da textura. Do traço delineado
sobre a audácia. Do fino balé
das espátulas na cara dos
fantasmas.
Falo da pele tatuada das paredes,
dos tetos; do piso voraz que ao
chão dá brilho e raridade.
Em tudo há expediente e agravo.
Mas ainda assim eu não falarei
de mãos e bocas; de gritos
inauditos
devorando os ares.
Falo do insuspeito que
no concreto cala.
Sem presságio
ou sonho que se instala.
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