domingo, 31 de março de 2019

CROMOS DE CAMPO MAIOR

Foto:Luselene Macedo
Fonte: Google


CROMOS DE CAMPO MAIOR

Elmar Carvalho

Fonte: 180 Graus

           I

Açude Grande
apenas no nome, mas pequeno
na paisagem ampla dos descampados.
Tuas águas cinzentas
azularam-se em minha saudade.
Tuas águas barrentas
são tingidas de azul pelo
azul do céu que se espelha
em tuas águas de chumbo.
Em ti os pobres lavam
coisas e se lavam,
apesar das placas, dos guardas
e da postura municipal.

Fonte: Google/Wikipédia
           II

Serra Grande
de Campo Maior.
De longe parece
uma dobra do céu.
Nela eu menino fui
buscar uma pedra azul.
Ledo engano, triste decepção:
minha serra era da cor da terra.
Dizem que nela vagam os
fantasmas de uns padres que em
suas entranhas enterraram ouro.
É por isso que nas noites negras em
suas encostas acendem-se fogueiras:
é meu povo pobre procurando
o (tes)ouro vigiado pelos
fantasmas dos padres.

Fonte: Google/Galeria Campo Maior

           III

A catedral de
Santo Antônio do Surubim
é bonita e imponente.
Sua torre faz
cócegas nas nuvens:
dir-se-ia uma espada de
Santo Antônio a brincar
com as nuvens e com as estrelas
ou uma escada em demanda do céu.

Fonte: Google

           IV

O rio Surubim cheio de
outros peixes e de surubim
não se parece nem com
peixe nem com cobra prateados:
no inverno é uma corrente de água viva.
É nele que as lavadeiras ganham a vida,
que os afoitos perdem a vida,
que os meninos pobres brincam de ser
apenas meninos – nem ricos, nem pobres.
Rio Surubim
onde os pe(s)cadores pe(s)cam
peixes e sereias de coxas grossas
            e sem escamas
na doçura de suas margens
na maciez de suas moitas mornas.

Fonte: Google/Portal de Cocal de Telha

           V

O Monumento aos Heróis da Batalha do Jenipapo
recorte de concreto contra a seda azul do céu
em pleno e plano tabuleiro dos grandes campos
                                                           de Campo Maior
não obstante bonito é apenas um símbolo da
coragem dos filhos da Terra dos Carnaubais
            e de outras terras
porque ela já fora indelevelmente
(de)marcada a ferro e fogo
em nossa memória e na
p’alma de leque das carnaubeiras e na
p’alma de nossa mão e de nossa alma.

Fonte: Google/Super Campo Maior

           VI

Festejo de
Santo Antônio do Surubim:
sob as estrelas do céu
sob as estrelas de lágrimas da pirotécnica
foguetes estilhaçam ruídos e silêncios
enquanto a bandinha do Antônio Músico
ataca com o (dobrado) Capitão Caçula
a fil(h)armônica do Antônio Músico
toca a valsa Coração Magoado
da autoria de seu pai
– Major Honório Bona Neto.
A bandinha do Antônio Músico
deflagra lentas valsas
                lânguidos boleros
                lépidas marchas
sob a batuta batuta
do seu filho Antônio Francisco
– maestro excepcional –
em sua cadei(a)ra de rodas.


Fonte: Google/JFNews

           VII

Na casa grande da fazenda
o brasão é uma grande
caveira de boi erado
de chifres enormes
às vezes descrevendo
curvas
como obra de arte.
O vaqueiro e o cavalo
se fundem e se confundem na desabalada
                                                                  alada
carreira quase vôo
campeando gado pelos campos
                                    de Campo Maior.
A perneira e o gibão
dependurados na parede
como se vestissem invisível corpo
são a lembrança palpável do vaqueiro
morto na desobriga.
O vaqueiro em seu terno de couro
– segunda pele áspera de seu corpo –
solta seu canto de guerra
e paz: o aboio – eeeeei! boooooi!
O eco é o aboio de
outro vaqueiro: – eeeei! boooooi!

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