Foto:Luselene Macedo |
Fonte: Google |
CROMOS DE CAMPO MAIOR
Elmar Carvalho
Fonte: 180 Graus |
I
Açude Grande
apenas no nome, mas pequeno
na paisagem ampla dos
descampados.
Tuas águas cinzentas
azularam-se em minha
saudade.
Tuas águas barrentas
são tingidas de azul pelo
azul do céu que se espelha
em tuas águas de chumbo.
Em ti os pobres lavam
coisas e se lavam,
apesar das placas, dos
guardas
e da postura municipal.
Fonte: Google/Wikipédia |
II
Serra Grande
de Campo Maior.
De longe parece
uma dobra do céu.
Nela eu menino fui
buscar uma pedra azul.
Ledo engano, triste
decepção:
minha serra era da cor da
terra.
Dizem que nela vagam os
fantasmas de uns padres que
em
suas entranhas enterraram
ouro.
É por isso que nas noites
negras em
suas encostas acendem-se
fogueiras:
é meu povo pobre procurando
o (tes)ouro vigiado pelos
fantasmas dos padres.
Fonte: Google/Galeria Campo Maior |
III
A catedral de
Santo Antônio do Surubim
é bonita e imponente.
Sua torre faz
cócegas nas nuvens:
dir-se-ia uma espada de
Santo Antônio a brincar
com as nuvens e com as
estrelas
ou uma escada em demanda do
céu.
Fonte: Google |
IV
O rio Surubim cheio de
outros peixes e de surubim
não se parece nem com
peixe nem com cobra
prateados:
no inverno é uma corrente
de água viva.
É nele que as lavadeiras
ganham a vida,
que os afoitos perdem a
vida,
que os meninos pobres
brincam de ser
apenas meninos – nem ricos,
nem pobres.
Rio Surubim
onde os pe(s)cadores
pe(s)cam
peixes e sereias de coxas
grossas
e sem escamas
na doçura de suas margens
na maciez de suas moitas
mornas.
Fonte: Google/Portal de Cocal de Telha |
V
O Monumento aos Heróis da
Batalha do Jenipapo
recorte de concreto contra
a seda azul do céu
em pleno e plano tabuleiro
dos grandes campos
de Campo Maior
não obstante bonito é
apenas um símbolo da
coragem dos filhos da Terra
dos Carnaubais
e de outras terras
porque ela já fora
indelevelmente
(de)marcada a ferro e fogo
em nossa memória e na
p’alma de leque das
carnaubeiras e na
p’alma de nossa mão e de
nossa alma.
Fonte: Google/Super Campo Maior |
VI
Festejo de
Santo Antônio do Surubim:
sob as estrelas do céu
sob as estrelas de lágrimas
da pirotécnica
foguetes estilhaçam ruídos
e silêncios
enquanto a bandinha do
Antônio Músico
ataca com o (dobrado)
Capitão Caçula
a fil(h)armônica do Antônio
Músico
toca a valsa Coração
Magoado
da autoria de seu pai
– Major Honório Bona Neto.
A bandinha do Antônio
Músico
deflagra lentas valsas
lânguidos
boleros
lépidas marchas
sob a batuta batuta
do seu filho Antônio
Francisco
– maestro excepcional –
em sua cadei(a)ra de rodas.
Fonte: Google/JFNews |
VII
Na casa grande da fazenda
o brasão é uma grande
caveira de boi erado
de chifres enormes
às vezes descrevendo
curvas
como obra de arte.
O vaqueiro e o cavalo
se fundem e se confundem na
desabalada
alada
carreira quase vôo
campeando gado pelos campos
de Campo Maior.
A perneira e o gibão
dependurados na parede
como se vestissem invisível
corpo
são a lembrança palpável do
vaqueiro
morto na desobriga.
O vaqueiro em seu terno de
couro
– segunda pele áspera de
seu corpo –
solta seu canto de guerra
e paz: o aboio – eeeeei!
boooooi!
O eco é o aboio de
outro vaqueiro: – eeeei!
boooooi!
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