Foto: Elmar Carvalho |
Foto: Elmar Carvalho |
ELEGIA A CAMPO MAIOR
Elmar Carvalho
Na paisagem plana do
tabuleiro
campeava sozinha a solidão.
Ao longe, nas manhãs de
inverno,
a serra cachimbava suas
névoas.
As névoas se misturavam com
as nuvens
que rondavam sobre o cume.
As águas mortas do açude
tudo viam e tudo refletiam.
À tarde o aboio dolente do
vaqueiro
partia a solidão que tudo
presidia.
E o aboio sem resposta
– eco de si mesmo –
repetia-se e se extinguia.
O canto rascante e áspero
de grilos e cigarras
arranhava o veludo macio do
silêncio.
Os cupins espalhados pelo
tabuleiro
eram pedras de um jogo em
que a
tristeza jogava paciência
com a solidão.
E a palma da carnaúba
acenava
para vivalma que nunca
partia ou
para um fantasma que jamais
chegava.
O menino em seu cavalo de
talo de carnaúba
campeava seu rebanho de
nada
pela fazenda do não-ser.
Campeava seu rebanho de
bois de jatobá
por entre manadas de
formigas
que pastavam tapetes de
babugens
por entre cupins que
erigiam moradas
de solidão na solidão da
chapada.
E a serra se erguia do
plano descampado
cachimbando suas névoas
para um céu que sequer
olhava.
Cachimbando suas brumas
como um Sinai que
fumegasse.
Diz a lenda que a serra é
uma cidade
encantada. Diz o povo que
em suas encostas
vagam fantasmas penados em
busca de furnas
de ouro. Mas nas cavernas
apenas a onça
faz morada.
Mas o menino ainda assim
esperava pelo
desencantamento da serra em
vão esperado.
Porque o menino era um
poeta
que campeava pelo campo do
sem fim
o seu rebanho de sonho e
solidão.
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