quinta-feira, 14 de maio de 2020

MANUEL DOMINGOS E OS CORONÉIS DO PIAUÍ


        

MANUEL DOMINGOS E OS CORONÉIS DO PIAUÍ

Elmar Carvalho

Fui ao lançamento do livro “O que os netos dos vaqueiros me contaram – o domínio oligárquico no Vale do Parnaíba”, de Manuel Domingos Neto, ocorrido na sexta-feira, no pátio interno do Arquivo Público do Piauí.

Conheço-o faz alguns anos, sobretudo quando, na qualidade de editor adjunto, o ajudei a organizar a 60ª edição (1985) do anuário Almanaque da Parnaíba, fundado por Benedito dos Santos Lima, o Bembém, em 1924, que passou a ser editado por seu avô, o comerciante Ranulfo Torres Raposo, de 1942 a 1982; este empresário também presidiu o sistema FECOMÉRCIO no Piauí.

Devido a essa aproximação, expus-lhe, na época, a importância de os direitos autorais do periódico passarem para a Academia Parnaibana de Letras – APAL, que seria a sua editora, tendo ele concordado. Transmiti sua anuência ao Dr. Lauro Correia, então presidente da entidade. De lá para cá, o Almanaque da Parnaíba passou a ser editado como revista da APAL, embora sem a conservação rigorosa da anualidade.

Posteriormente, Manuel Domingos foi deputado federal constituinte, tendo, portanto, assinado a Carta Magna de 1988. Voltou a Fortaleza, onde passou a lecionar na Universidade Federal do Ceará. O autor foi decisivo para a implantação, na Fundação CEPRO, do Núcleo de História Oral, com modernas técnicas de historiografia, que terminou produzindo importantes entrevistas com figuras notáveis em diferentes campos da atividade humana.

Eu mesmo sugeri fosse entrevistado o senhor Antônio Sales, na época com mais de noventa anos, que fora líder laboral, desportista, funcionário público federal e amigo de figuras ilustres da política piauiense, cujo entrevistador foi o professor Alcides Nascimento. 

O livro de Manuel Domingos enfeixa três belas entrevistas com Pedro de Almendra Freitas, comerciante e ex-governador do Piauí, José da Rocha Furtado, médico e ex-governador, e Luís Mendes Ribeiro Gonçalves, engenheiro, escritor e responsável pela construção de várias obras importantes do governo estadual.

Pelas entrevistas, ficamos sabendo de muitos fatos notáveis da administração pública, de fatos curiosos  e interessantes da biografia dos entrevistados, de peculiaridades da vida cotidiana e econômica do Piauí, bem como tomamos conhecimento de como era a vida nas pequenas cidades interioranas, sobretudo nos aspectos dos costumes, genealogia, cultura e economia. Passamos a conhecer como se desenvolviam o comércio, a agricultura e a pecuária.

No entendimento do autor, o chamado coronelismo no nosso estado não teve as mesmas caraterísticas e peculiaridades do coronelismo de outras plagas, principalmente sulistas. O livro deixa entrever que os nossos “coronéis” não merecem, ao menos de forma intensa, os estigmas que lhes foram impingidos por muitos estudiosos do Brasil.

Vejamos o que comenta, na “orelha”, a professora Linda M. P. Gondim: “Desde Nunes Leal, estudiosos viram no 'coronel' um arcaísmo que seria liquidado com a urbanização e modernização. Mas os políticos estudados neste livro destoam desse estereótipo: aceitaram a Revolução de 1930 e as transformações promovidas desde então, inclusive pela ditadura militar, como a institucionalização do planejamento e a criação de empresas e órgão estatais 'modernos'”.

Ao ler esse livro, o leitor fará um mergulho profundo na história social e política mais recente do Piauí, e conhecerá de forma mais íntima, mais humana, figuras de destaque do proscênio político estadual.    


2 de maio de 2010

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