DIÁRIO
[Dirceu Arcoverde e outros assuntos culturais]
Elmar Carvalho
26/09/2020
Após alguns dias de recolhimento, por causa da covid-19, que após vários meses ainda não tem um tratamento absolutamente eficaz e muito menos vacina, resolvi ir ao centro da cidade e ao Riverside resolver algumas pendências, inclusive saque de dinheiro.
Antes,
passei na sede da Academia Piauiense de Letras, para receber minha carteira de identidade
acadêmica e o livro Dirceu Arcoverde: esperança interrompida, da autoria do
presidente Zózimo Tavares, que ainda não pôde exercer plenamente o seu cargo,
em virtude da quarentena que a pandemia nos impôs, logo no início de seu
mandato, que ele vem cumprindo bem e com zelo, apesar dessa restrição.
A
carteira é muito bonita, e nela consta a informação de que a minha cadeira é a
de número 10, e o nome de seu patrono, o poeta Licurgo José Henrique de Paiva,
também jornalista, que levou vida um tanto atribulada, por causa das
vicissitudes da política da época e de sua dipsomania, palavra que empreguei
por discrição e para obrigar o leitor a ir a um dicionário, ou melhor, como
mais acontece nos dias de hoje, a um site de pesquisa, quase sempre o Google.
Aproveito
para informar que meus antecessores foram todos poetas: Celso Pinheiro, o maior
poeta simbolista do Piauí, um dos maiores do Brasil, Antônio Monteiro de
Sampaio, sacerdote católico e meu professor no curso de Administração de
Empresas (UFPI) e Hindemburgo Dobal Teixeira, ou simplesmente H. Dobal.
Suas
sínteses biográficas estão nos mares internéticos e em nossos principais dicionários
biográficos, bem como em nossas antologias, inclusive na Antologia da Academia
Piauiense de Letras, cuja segunda edição, revista e ampliada, foi publicada em
2018 pela APL, na gestão de Nelson Nery Costa, que a prefaciou e manteve o meu
prefácio da edição anterior, quando eu ainda não pertencia ao sodalício.
Estavam
na Academia os servidores Zilmar e Cremísia. Como eu visse a Revista da APL,
edição 77, referente ao ano de 2019, e o livro Bertolínia: história, meio e
homens, da lavra do ex-presidente Reginaldo Miranda, que se esmerou ao contar
os principais feitos e fatos de sua terra natal, bem como a saga e realizações de
seus conterrâneos, solicitei um exemplar de cada uma dessas obras.
Reginaldo
já pode ser considerado um dos melhores historiadores do Piauí, não apenas na
parte referente à história de nossos índios, como também pelas primorosas e
alentadas biografias de nossas mais importantes figuras históricas, inclusive
do período colonial, em que traz novas e substanciosas informações. E, sem
dúvida, com obras notáveis sobre antigas estirpes piauienses, tornou-se um de
nossos principais genealogistas.
Zózimo
Tavares, após ter escrito e publicado a mais importante biografia de Alberto
Silva, agora editou o livro sobre Dirceu Arcoverde, em bela impressão e com
vasta memória fotográfica. Relata a curta mais gloriosa trajetória política de
um dos mais importantes homens públicos de nosso estado. De certa forma, Dirceu
foi ofuscado pela importância que teve e que foi dada ao primeiro governo de
Alberto Silva, pelas suas grandes obras estruturantes.
Contudo,
Dirceu Mendes Arcoverde, sem ser propriamente uma vocação para a política, sem
ser considerado um líder carismático, sem rasgos de retumbantes e demagógicas oratórias
políticas, polido, mas um tanto tímido, médico e professor universitário
respeitado, foi, sem a menor dúvida, um dos melhores governadores do Piauí,
pela sua probidade, por suas inúmeras realizações nos campos da Educação, da
Saúde e de obras estruturantes, inclusive rodovias, saneamento, eletrificação,
habitação, esporte, lazer, etc.
E
o livro de Zózimo Tavares lhe traça o perfil biográfico, lhe delineia a curta,
mas notável carreira política, enumerando os principais fatos e atos de sua
brilhante trajetória. Como diz o autor no título, Dirceu Arcoverde foi, de
fato, um esperança interrompida, porquanto, após o seu governo, faleceu logo
nos primeiros dias de seu mandato de senador, quando muito ainda poderia realizar,
por ser um político honesto, avesso a falsas promessas e demagogias, pela sua
seriedade e dinamismo.
Quanto
à Revista, importa dizer, em síntese, que ela contém discursos de recepção e de
posse dos acadêmicos Felipe Mendes, José Itamar Abreu Costa, Plínio da Silva
Macêdo e Valdeci Cavalcante, além de enfeixar discursos, prefácios e apresentações
de vários livros editados na profícua gestão de Nelson Nery Costa, entre cujas
matérias algumas de minha autoria.
Da
Academia saí para cumprir outros deveres e missões, e principalmente encadernar o livro Mergulho nas lembranças da
minha “parnaibinha” – anos 40/60, da autoria de Raimundo Nonato Caldas – CAVOUR,
verdadeiro álbum, pelo seu formato e pelas inúmeras fotografias, que tenho
lido, relido e folheado várias vezes.
Não
bastassem essas andanças e missões culturais, perto da meia-noite desse agitado
dia de ontem, recebi uma mensagem de WhatsApp do amigo Carlos Henriques Araújo,
escritor, memorialista e cronista, me enviando uma espécie de decálogo, que um
amigo lhe encaminhara, no qual estabelecera suas metas e filosofia de vida,
relativas a mudança de hábitos, de atitudes, desapegos, com o propósito de se
tornar uma pessoa melhor, tudo isso ensejado por esses tempos de pandemia.
Respondi
que eu, embora sem as haver fixado por escrito, procurava seguir as metas de
seu amigo, com mais ou menos sucesso, mas sempre me esforçando também para me
tornar um ser humano melhor. Acabei digitando e lhe enviando em adendo as
seguintes reflexões, quando já passavam 13 minutos da meia-noite, que talvez
sirvam como um “documento” destes reclusos tempos de pandemia:
“Cristo
nos alertou para não julgarmos nosso próximo. Isso é um exercício difícil,
porque quase todo tempo estamos julgando. Acho que ele falou isso para ficarmos
mais leves. Quando não nos preocupamos em julgar, parece que nos sentimos mais
tranquilos, mais em paz conosco.
Penso
que o julgamento a que se referiu Jesus é com relação ao que vai no mais íntimo
de nosso semelhante, às suas razões mais íntimas, que não temos como
perscrutar, e é por isso mesmo que não devemos ficar julgando. Mas, como disse,
é algo difícil, porque estamos sempre analisando, interpretando, tirando
conclusões, em suma, julgando.
Agora,
não julgar, não significa ser ingênuo, tolo, idiota. Talvez signifique que
somos todos inocentes até prova em contrário; significa lhe dar o benefício da
dúvida. São apenas reflexões simples, feitas ao sabor da digitação, sem maiores
aprofundamentos. Boa noite.”
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