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SAL SOL SOLIDÃO
Elmar Carvalho
está tão frio
e eu estou tão triste
um homem segue
pela rua gelada
e a sua alma está
mais gelada engelhada
que a rua deserta
as sombras tristes
espiam frias pelas
frestas das venezianas
nesgas de luz geladas
conspiram das caladas
dos calabouços
o homem triste
acende um cigarro
que não fuma
e segue só
e o homem
triste sou eu
e o homem
triste sofre
o sol e
o sal
de suas
dez desgraças
é triste como
o canto/pranto
do galo gago gogo
alçado dos alçapões
pelas madrugadas geladas
cheias de neves e geadas
é triste como
o ladrar de
um cão cãozinho de
um cão sozinho
nas noites negras
nas noites nada
e a neve cai
e a neve caia
os túmulos e os ciprestes
e a neve é nave
por onde trafega
a res/ins/piração
do homem só
do homem pó
mas a neve
não é nada
o que é tudo
é a tristeza
que perscruta
dos esgotos
que espia
dos desgostos
(a solidão é uma aranha
tecendo teias de saudade
onde ela própria se enleia)
e o homem
triste sou eu
e o homem
triste acende um cigarro
que sequer fuma
e segue em sua
grande solidão
de gênio e de cabotino
e de louco três vezes
tresloucado
e nada não
e nada não denuncia
ou anuncia sua presença
apenas ele
contempla a solidão
do nada absoluto
do nada só luto
do nada soluço
e segue só
sobre as cinzas
do nada e do não
do apocalipse
do após calipso
e este homem
é um deus
que se construiu e se
destruiu
à sua imagem e
(des)semelhança
e o seu grande ne’gado
e o seu grande le’gado
será a certeza de sua morte
e este homem sou eu: poeta/profeta
e jeremias chorão
e hão de chorar
sobre o meu choro/coro
e hão de cantar
sobre o meu canto/pranto
mas apenas eu estarei
de pé sobre as cinzas
do caos/cão e do nada
e seguirei sempre só
sobre e sob o signo da solidão
que será o meu sinal
e eu serei
o suor e
o sal e
o sol de
minha própria
girasolidão
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