segunda-feira, 12 de outubro de 2020

SAL SOL SOLIDÃO

 

Fonte: Google

SAL SOL SOLIDÃO


Elmar Carvalho 


está tão frio

e eu estou tão triste

um homem segue

pela rua gelada

e a sua alma está

mais gelada engelhada

que a rua deserta

as sombras tristes

espiam frias pelas

frestas das venezianas

nesgas de luz geladas

conspiram das caladas

dos calabouços

o homem triste

acende um cigarro

que não fuma

e segue só

e o homem

triste sou eu

e o homem

triste sofre

o sol e

o sal

de suas

dez desgraças

é triste como

o canto/pranto

do galo gago gogo

alçado dos alçapões

pelas madrugadas geladas

cheias de neves e geadas

é triste como

o ladrar de

um cão cãozinho de

um cão sozinho

nas noites negras

nas noites nada

e a neve cai

e a neve caia

os túmulos e os ciprestes

e a neve é nave

por onde trafega

a res/ins/piração

do homem só

do homem pó

mas a neve

não é nada

o que é tudo

é a tristeza

que perscruta

dos esgotos

que espia

dos desgostos

(a solidão é uma aranha

tecendo teias de saudade

onde ela própria se enleia)

e o homem

triste sou eu

e o homem

triste acende um cigarro

que sequer fuma

e segue em sua

grande solidão

de gênio e de cabotino

e de louco três vezes tresloucado

e nada não

e nada não denuncia

ou anuncia sua presença

apenas ele

contempla a solidão

do nada absoluto

do nada só luto

do nada soluço

e segue só

sobre as cinzas

do nada e do não

do apocalipse

do após calipso

e este homem

é um deus

que se construiu e se destruiu

à sua imagem e (des)semelhança

e o seu grande ne’gado

e o seu grande le’gado

será a certeza de sua morte

e este homem sou eu: poeta/profeta

e jeremias chorão

e hão de chorar

sobre o meu choro/coro

e hão de cantar

sobre o meu canto/pranto

mas apenas eu estarei

de pé sobre as cinzas

do caos/cão e do nada

e seguirei sempre só

sobre e sob o signo da solidão

que será o meu sinal

e eu serei

o suor e

o sal e

o sol de

minha própria

girasolidão  

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