quinta-feira, 18 de março de 2021

AS INCERTEZAS SOBRE O DIA DO PIAUÍ

 

Fonte: Google/Piauí Hoje

AS INCERTEZAS SOBRE O DIA DO PIAUÍ


Valério Chaves – Des. Inativo do TJPI

 

No Brasil, ao longo de sua história republicana, os feriados e as datas comemorativas, variam de acordo com a cultura política, a vontade dos governantes e as atitudes coletivas, fato que, por vezes, gera confusão na mente de muitas pessoas desinformadas sobre a data correta do feriado ou das comemorações alusivas.

                O dia 19 de outubro, por exemplo, transcorridos 196 anos da Independência do Brasil em 1822, permanece até hoje em processo polêmico sem se saber verdadeiramente a quem pertence a prioridade desse fato histórico para efeito de se fixar, com exatidão, a data em que deve ser comemorado o dia da Independência do Piauí.

                A propósito, neste ano de 2021, por força de decreto estadual e ainda por conta da pandemia da corona vírus, o feriado alusivo à data  foi antecipado de 19 de outubro para 18 de março. Tais alterações, se por um lado são necessárias dado as circunstâncias sanitárias em que vivemos, por outro, subtraem fidelidades aos rituais cívicos de outrora no que diz respeito a datas, personagens ou símbolos nacionais fazendo com que o civismo e o patriotismo caiam no esquecimento dos cidadãos brasileiros.

                Atualmente, com exceção das Forças Armadas e as corporações militares, poucas escolas e categorias de funcionários públicos homenageiam os símbolos republicanos ou acontecimentos marcantes de nossa história.

                Aliás, diante das deficientes informações, narrativas e interpretações legadas por muitos pesquisadores, historiadores e tantos nomes ilustres das letras piauienses do passado e do presente, até hoje não se pode afirmar, de modo convincente, sobre a verdadeira data em que se deve comemorar o Dia do Piauí – 19 de outubro,  24 de janeiro ou 13 de março.

                A polêmica maior se acende entre Parnaíba e Oeiras, cada qual reenvidando para si a primazia da Independência do Piauí, ambas apresentando como justificativa os acontecimentos revolucionários contra as ordens portuguesas ocorridos em 19 de outubro de 1822 e 24 de janeiro de 1823, respectivamente.

                Nos bastidores dessa polêmica há ainda aqueles que defendem a tese de que a verdadeira independência do Piauí foi proclamada no dia 13 de março de 1823, em Campo Maior, com a  deflagração da sangrenta Batalha do Jenipapo onde brasileiros e portugueses lutaram, em campo aberto, em defesa da causa nacional do Brasil – fato ignorado por muitos brasileiros de outras regiões do Brasil.

                Dentro desse contexto, vale destacar o que disse em homenagem ao tema, o saudoso professor, jornalista e pesquisador piauiense Arimathéa Tito Filho, durante entrevista radiofônica concedida ao programa noticioso “Rádio Fatos” comandado pelo então repórter Valério Chaves, da Rádio Difusora de Teresina, em 1979:

                “Na verdade, houve duas proclamações da Independência do Piauí. A primeira foi feita no dia 19 de outubro de 1822, em Parnaíba, quando o Major Manuel Clementino de Sousa Martins, liderando um movimento insurgente, rapidamente sufocado, derribou os portugueses liderados pelo Major João José da Cunha Fidié; e a segunda foi feita em Oeiras em 24 de janeiro de 1823, pelo Visconde da Parnaíba, que naquele tempo não era Visconde, era apenas o cidadão Manuel Clementino de Sousa Martins (sobrinho e genro do Barão da Parnaíba) o qual à frente de uma conspiração em favor da sucessão de D. Pedro I como Imperador do Brasil, proclamou a Independência do Piauí”.

                Como se pode ver, o assunto é polêmico, naturalmente gerando nos parnaibanos e nos oeirenses um certo aborrecimento toda vez que se cogita em revisar a história do Piauí para se acabar com a dúvida ou com a inverdade sobre em qual data se deve comemorar o Dia do Piauí – 19 de outubro, 24 de janeiro ou 13 de março.

                O que não se pode esconder, contudo, é que os parnaibanos foram heróis cívicos e imbuídos de grande patriotismo quando combateram as forças portuguesas através de um movimento liderado pelo juiz de fora João Cândido de Deus e Silva e pelo coronel Simplício de Sousa Dias.

                Os oeirenses também foram heróis e patriotas. Tudo é uma questão de interpretação histórica, cabendo aos historiadores e aos intelectuais do nosso tempo proclamarem a verdade.  

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