3 SONETOS DE ROGÉRIO FREITAS
Velhice
A beleza é fugaz... De vez te apega
Ao amor que por ti passa, e terás
O infinito prazer, também a paz
Que a todos nós, em vão, procura cega.
Se há mágoas no teu seio, descarrega
Em lágrimas, que o riso se refaz
E te mostrará sempre contumaz
Como é doce o sabor de tua entrega.
Porém, para mim, foi tarde, ó criança,
Que busquei a ter todos os desvelos;
Cedo, só me trajei vão de esperança...
Os meus sonhos, já não posso mais tê-los:
Meu espírito é coisa que já cansa,
De tinta branca pinta meus cabelos.
Hoje
Quando o vento soprar nos teus cabelos,
Solta as rédeas, e segue, e vai adiante,
E esquece tu os piores pesadelos
No lombo do cavalo galopante.
A vida, como prêmio inconstante,
Já ganhaste! A seguir engenhos belos
Vão te subir escada acima, à infante
Torre, e dominarás os teus castelos.
Não pares, minha Lídia, precioso
É o tempo, e amanhã teu gozo
Será desfeito em cinzas simplesmente...
Abraça-te à ventura fugidia!
O teu único dia é esse dia,
Tua felicidade eternamente.
Soneto
E não fui eu que fui às Filipinas
E no cangaço nem mesmo eu estive,
Longe de mim tais coisas, inclusive,
Restam delas só mesmo as ruínas.
Não sou rei nem herói! E abominas
Qualquer ato de heroísmo! Faz esquive
E vive tua vida como vive
O pastor com rebanho entre boninas.
Para que havemos de subir ao pódio?
E que outra para si mesma molde-o
Como a cavar a própria sepultura...
Fiquemos livres de uma vez por todas,
Livres dessas ideias e das modas...
No anonimato a conhecer ventura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário