segunda-feira, 26 de setembro de 2022

3 SONETOS DE ROGÉRIO FREITAS




3 SONETOS DE ROGÉRIO FREITAS

Velhice

A beleza é fugaz... De vez te apega
Ao amor que por ti passa, e terás 
O infinito prazer, também a paz
Que a todos nós, em vão, procura cega.

Se há mágoas no teu seio, descarrega
Em lágrimas, que o riso se refaz
E te mostrará sempre contumaz 
Como é doce o sabor de tua entrega.

Porém, para mim, foi tarde, ó criança, 
Que busquei a ter todos os desvelos;
Cedo, só me trajei vão de esperança...

Os meus sonhos, já não posso mais tê-los:
Meu espírito é coisa que já cansa, 
De tinta branca pinta meus cabelos. 


Hoje

Quando o vento soprar nos teus cabelos, 
Solta as rédeas, e segue, e vai adiante, 
E esquece tu os piores pesadelos 
No lombo do cavalo galopante. 

A vida, como prêmio inconstante, 
Já ganhaste! A seguir engenhos belos
Vão te subir escada acima, à infante
Torre, e dominarás os teus castelos. 

Não pares, minha Lídia, precioso
É o tempo, e amanhã teu gozo
Será desfeito em cinzas simplesmente...

Abraça-te à ventura fugidia!
O teu único dia é esse dia,
Tua felicidade eternamente. 


Soneto

E não fui eu que fui às Filipinas 
E no cangaço nem mesmo eu estive, 
Longe de mim tais coisas, inclusive, 
Restam delas só mesmo as ruínas. 

Não sou rei nem herói! E abominas 
Qualquer ato de heroísmo! Faz esquive
E vive tua vida como vive 
O pastor com rebanho entre boninas. 

Para que havemos de subir ao pódio?
E que outra para si mesma molde-o
Como a cavar a própria sepultura...

Fiquemos livres de uma vez por todas, 
Livres dessas ideias e das modas...
No anonimato a conhecer ventura.

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