terça-feira, 25 de outubro de 2022

PARA ONDE IRIAM OS BURROS?

 

Fonte: Google

PARA ONDE IRIAM OS BURROS?

 

Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)

               

                Será que terão mais sorte do que seus irmãos tortos, os jumentos? Estes, há muito vêm sendo desprezados pelos donos, que preferiram substituí-los por motocicletas, rápidas e mais possantes, que vão aonde eles iam e sujam menos.

Ao tempo da ideia original deste texto, lá em dois mil e dezesseis, já se ventilava que os coitados dos jegues estariam a um passo de virar manjar na China. Diziam que a terra dos mandarins teria potencial para importar até um milhão deles por ano, para transformá-los em fina iguaria; como uma pandemia abalou o mundo, nesse ínterim, isso pode ter mudado.

                Desde lá, nos perguntávamos: e os burros, para onde iriam? É que, naquela época, durante campanha eleitoral, reiteradamente, um candidato a prefeito municipal – teria, acaso, querido ser irônico como um ex-governador que, no curso de seu mandato, levou-os e a seus donos para pastarem e visitarem o palácio de onde despachava ordens e decisões governamentais?  Ou um tanto pitoresco, ou melhor, quixotesco, como aqueloutro, trabalhador incansável e sonhador quimérico com barca do sal, asfalto branco, praia artificial e que tais? Parece que sim, pois a loa permaneceu tão somente no mundo das péssimas ideias -, comprometia-se, segundo ele, visando pôr fim no maltrato aos animais domésticos, inclusive, os que atuavam como força motriz ou instrumento de trabalho, a despeito do que a respeito daquilo pensassem eleitores, críticos e adversários, uma vez eleito – como o foi, mas não cumpriu a promessa -, a retirá-los da frente das carroças, que passariam a ser motorizadas. Fato é que, nem o burro ficou desempregado, nem o carroceiro sem ganha-pão, ainda bem.

O assunto voltou a público, recentemente, mas sob outra autoria. Como dantes, antes que a especulação possa integrar o teor de norma legal e se tornar fato, com status de peremptoriedade, o legislador - claro que o fará, na hipótese de, dessa feita, o caso ser levado a sério (mas, por que não, já ir antecipando as discussões a respeito do tema?), - precisaria informar o que faria para que os donos das carroças, no mais das vezes, indivíduos que apenas sobrevivem com pequenos fretes ou carretos, que conseguem graças a seus burros, arranjassem dinheiro a fim de adquirir, modificar, aparelhar, equipar as máquinas que substituiriam seus animais. O combustível não seria problema: hoje, o motor, ou melhor, o burro, alimenta-se de milho e de algum outro tipo de ração vegetal; com a mudança da tração animal para motorizada, utilizaria álcool, gasolina, diesel, mais em conta; quem sabe o danado já pudesse vir em uma versão híbrida (elétrica e a combustão).

                Será que a discussão de como se daria o financiamento do veículo e demais equipamentos necessários à motorização da ex-carroça de tração animal; quais as condições; quem produziria os novos equipamentos, quem os instalaria, ocorreria após a aprovação e sanção da específica norma legal, ou seria matéria-prima de novas querelas políticas?  Enquanto a lei não saísse ou não se tivesse conhecimento mais abalizado sobre o assunto, far-se-ia urgente aos mentores do projeto legislativo, se ainda não o houvesse feito, meter-se a lucubrar, pensar, especular acerca do que seria feito, para onde mandar o preterido e superado ex-motor, o velho e bom burro, desde que não obrigassem seus donos a mantê-los como ociosos animais de estimação, também não fosse transformado em alimento para animais dos zoológicos, abandonado para morrer à míngua ou vagar pelas estradas e rodovias, correndo e causando riscos à própria vida e a de muita gente; é que, algumas dessas alternativas seriam, certamente, muito mais violentas e humilhantes do que conduzir carroças.

                Como fizemos lá em dois mil e dezesseis, pediríamos um pouco da atenção dos senhores, carroceiros: não vão com muita sede ao pote; não vendam, não troquem, nem façam qualquer negócio com seus burros até que a lei que determinaria sua substituição por modernos equipamentos de tração mecânica e/ou elétrica entre em vigor e “pegue”, sejam garantidos os financiamentos para adquiri-los, todas as regras estabelecidas e postas à mesa, à disposição dos interessados. Vai que, no entremeio dessa história, surge ou aparece um novo candidato a legislador que considere essa ideia de motorização das carroças demagógica, uma quizila quixotesca, e se esforce para derrogar a legislação que a teria autorizado? Alguém duvida?

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