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PARA ONDE IRIAM OS BURROS?
Antônio Francisco Sousa –
Auditor-Fiscal (afcsousa01@hotmail.com)
Será
que terão mais sorte do que seus irmãos tortos, os jumentos? Estes, há muito
vêm sendo desprezados pelos donos, que preferiram substituí-los por
motocicletas, rápidas e mais possantes, que vão aonde eles iam e sujam menos.
Ao tempo da ideia original deste
texto, lá em dois mil e dezesseis, já se ventilava que os coitados dos jegues
estariam a um passo de virar manjar na China. Diziam que a terra dos mandarins
teria potencial para importar até um milhão deles por ano, para transformá-los
em fina iguaria; como uma pandemia abalou o mundo, nesse ínterim, isso pode ter
mudado.
Desde
lá, nos perguntávamos: e os burros, para onde iriam? É que, naquela época,
durante campanha eleitoral, reiteradamente, um candidato a prefeito municipal –
teria, acaso, querido ser irônico como um ex-governador que, no curso de seu
mandato, levou-os e a seus donos para pastarem e visitarem o palácio de onde
despachava ordens e decisões governamentais?
Ou um tanto pitoresco, ou melhor, quixotesco, como aqueloutro,
trabalhador incansável e sonhador quimérico com barca do sal, asfalto branco,
praia artificial e que tais? Parece que sim, pois a loa permaneceu tão somente
no mundo das péssimas ideias -, comprometia-se, segundo ele, visando pôr fim no
maltrato aos animais domésticos, inclusive, os que atuavam como força motriz ou
instrumento de trabalho, a despeito do que a respeito daquilo pensassem eleitores,
críticos e adversários, uma vez eleito – como o foi, mas não cumpriu a promessa
-, a retirá-los da frente das carroças, que passariam a ser motorizadas. Fato é
que, nem o burro ficou desempregado, nem o carroceiro sem ganha-pão, ainda bem.
O assunto voltou a público,
recentemente, mas sob outra autoria. Como dantes, antes que a especulação possa
integrar o teor de norma legal e se tornar fato, com status de peremptoriedade,
o legislador - claro que o fará, na hipótese de, dessa feita, o caso ser levado
a sério (mas, por que não, já ir antecipando as discussões a respeito do
tema?), - precisaria informar o que faria para que os donos das carroças, no
mais das vezes, indivíduos que apenas sobrevivem com pequenos fretes ou
carretos, que conseguem graças a seus burros, arranjassem dinheiro a fim de
adquirir, modificar, aparelhar, equipar as máquinas que substituiriam seus
animais. O combustível não seria problema: hoje, o motor, ou melhor, o burro,
alimenta-se de milho e de algum outro tipo de ração vegetal; com a mudança da
tração animal para motorizada, utilizaria álcool, gasolina, diesel, mais em
conta; quem sabe o danado já pudesse vir em uma versão híbrida (elétrica e a
combustão).
Será
que a discussão de como se daria o financiamento do veículo e demais
equipamentos necessários à motorização da ex-carroça de tração animal; quais as
condições; quem produziria os novos equipamentos, quem os instalaria, ocorreria
após a aprovação e sanção da específica norma legal, ou seria matéria-prima de
novas querelas políticas? Enquanto a lei
não saísse ou não se tivesse conhecimento mais abalizado sobre o assunto,
far-se-ia urgente aos mentores do projeto legislativo, se ainda não o houvesse
feito, meter-se a lucubrar, pensar, especular acerca do que seria feito, para
onde mandar o preterido e superado ex-motor, o velho e bom burro, desde que não
obrigassem seus donos a mantê-los como ociosos animais de estimação, também não
fosse transformado em alimento para animais dos zoológicos, abandonado para
morrer à míngua ou vagar pelas estradas e rodovias, correndo e causando riscos
à própria vida e a de muita gente; é que, algumas dessas alternativas seriam,
certamente, muito mais violentas e humilhantes do que conduzir carroças.
Como
fizemos lá em dois mil e dezesseis, pediríamos um pouco da atenção dos
senhores, carroceiros: não vão com muita sede ao pote; não vendam, não troquem,
nem façam qualquer negócio com seus burros até que a lei que determinaria sua
substituição por modernos equipamentos de tração mecânica e/ou elétrica entre
em vigor e “pegue”, sejam garantidos os financiamentos para adquiri-los, todas
as regras estabelecidas e postas à mesa, à disposição dos interessados. Vai
que, no entremeio dessa história, surge ou aparece um novo candidato a
legislador que considere essa ideia de motorização das carroças demagógica, uma
quizila quixotesca, e se esforce para derrogar a legislação que a teria
autorizado? Alguém duvida?
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