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DE POEMAS E DE PECADOS
Elmar Carvalho
De manhã cedo, em Regeneração,
fui a uma farmácia, perto da matriz de São Gonçalo, colocar crédito em meu
celular. Enquanto era atendido, de repente, caiu uma chuva torrencial, que me
prendeu no estabelecimento. Aproveitei para olhar a chuva e os pequenos
córregos que se formaram e desciam em direção ao Mulato, que separa o centro do
bairro Jaicó.
Quando o tempo amainou um pouco,
resolvi ir à gráfica Mulato, para conversar um pouco com a Nileide. Conversamos
sobre assuntos diversos, mormente sobre cultura, experiência de vida,
comportamento e sobre os pecados abordados pelo Zuenir Ventura em seus livros
temáticos. Nos detivemos a analisar o triste sentimento da inveja. Disse-me a
Nileide que foi esse pecado que mais trabalho deu ao escritor, porquanto
ninguém admite ser invejoso.
Falamos sobre os despreparados
para o exercício de cargos públicos, sobretudo os que se empolgam demais com o
poder e sobre os que o usam sem a observância do princípio constitucional da
impessoalidade, e querem administrar a coisa pública como se fossem donos.
Contou-me ela que o seu irmão Moacy, dotado de senso de humor e verve, foi
visitar um amigo na sua repartição.
Ao chegar, encontrou um conhecido
com quem costumava brincar e que era expansivo e cordial com ele. Notou que o
cidadão estava “fechado”, monossilábico, quase taciturno, e que mal lhe
respondera o cumprimento. Em conversa com o amigo que fora visitar, recebeu a
informação de que essa pessoa sorumbática havia se tornado o chefe de certa
repartição pública. O irmão da Nileide, incontinenti, observou que havia notado
que algo errado havia acontecido com ele.
Ou seja, deram-lhe um cargo
público sem que ele estivesse preparado para assumi-lo. Por isso mesmo, o povo,
em sua sabedoria, diz que a formiga quando quer se perder cria asas. A Nileide
aproveitou para me mostrar um livro que havia recebido de seu parente Climério
Ferreira, poeta e músico da melhor cepa. Era um livro graficamente belo,
impresso em papel grosso, quase cartonado, algo semelhante a uma caderneta. Seu
título era Da Poética Candanga, e tinha o subtítulo de Poesia sobre Poesia.
Pela subtitulação e pela rápida
folheada que fiz, foi fácil inferir que tem metapoemas e que intertextualiza
com autores diversos, sendo que alguns estão entre os melhores poetas
contemporâneos do Brasil. Pelos poucos poemas que pude ler, tenho certeza que
se trata de uma ótima obra poética, cujos poemas estão na mesma altitude das
matrizes de que provieram.
2 de junho de 2010
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