domingo, 19 de maio de 2024

NOTURNO DO CEMITÉRIO VELHO DE OEIRAS

Fonte: Google

 

NOTURNO DO CEMITÉRIO VELHO DE OEIRAS


Elmar Carvalho

 

Cemitério

misteriosamente sem mistério

                                          etéreo

em sua clareza

– mais que clareza, certeza –

de cemitério.

 

Campo Santo

onde o fogo-fátuo

e o pirilampo

cintilam – destilam suas luzes mortas

nas alamedas sem (en)canto

nas veredas do que é somente

pranto

onde poetas

egressos de outra vida

recitam versos enternecidos

para a imortal amada

inesquecida

onde músicos falecidos

acordam sons delicados

doces como alfenim

das cordas sensíveis

e pulsantes do bandolim.

 

Ó som de lamentações e de ais,

de lamúrias passionais,

de réquiem e miserere

que dilacera e fere

como não se ouvirá

nunca mais!

 

Horto sagrado

do que é morto

e é lembrado;

do que é apenas esquecimento

(do que não é nem será

sequer pensamento).

Cemitério

de lápides indecifradas

pelas dentadas do tempo.

De cruzes mutiladas

e braços pensos.

De chumbados anjos sem voo

e de asas decepadas.

De correntes arrastadas

na via crúcis das

almas penadas.

De vultos

queridos da História.

De vultos

diluídos, sem memória ...

De túmulos caiados, caídos,

encardidos pelo tempo.

 

Cemitério de abandono:

fantasmas sem sono

 abrem os portões

de gonzos gementes, enferrujados,

e vagam pelas

ruas adormecidas

– sombras tênues, diáfanas,

esquecidas.

Cemitério

de uma morte

absoluta e sem fim

como uma música

sublime de bandolim

tangido por dedos mágicos

de Arcanjo ou Serafim ...

            Te. 13/14.10.94

Um comentário:

  1. Caríssimo, inexplicavelmente não conhecia o seu “noturno do cemitério velho de Oeiras”, posto que li praticamente tudo que vc criou e publicou.
    É impressionante como quando vc escreve sobre Oeiras, parece “entranhar-se” na história, lendas e mistérios da velha e altiva cidade!

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