terça-feira, 21 de maio de 2024

Variações sobre o Noturno do Cemitério Velho

Fonte: Google

 

Variações sobre o Noturno do Cemitério Velho

 

Elmar Carvalho

 

Em 1990, escrevi o poema Noturno de Oeiras, que foi publicado na revista do Instituto Histórico de Oeiras e foi bem acolhido pelos oeirenses. Esse poema foi publicado em livro, estampado em placas metálicas, recitado dentro da catedral, em seu adro e no Cine Teatro Oeiras, e foi transformado em vídeos, disponíveis no You Tube.

Alguém o enviou para o advogado Talver Mendes de Carvalho, que me enviou uma simpática carta manuscrita, em que fez encorajadoras manifestações elogiosas. Contudo, fez uma ressalva; disse haver sentido falta dos sons maviosos de bandolim e de referência ao cemitério velho. Comecei a fazer ruminações sobre essa “cobrança” e nos dias 13/14.10.1994, me senti inspirado para escrever o Noturno do Cemitério Velho de Oeiras. Esse poema foi publicado na mesma revista do IHO e em livros, e igualmente caiu no agrado dos oeirenses.

Devo ter agregado a essa composição outras lembranças antigas, do velho cemitério de minha terra, onde já não se enterra ninguém, há várias décadas, e de um velho cemitério de São Pedro do Piauí, que vi em minha adolescência, da janela do ônibus, quando fui passar uns três ou quatro dias em Regeneração. Fiz um poema inspirado nessa viagem, quando eu tinha 16 ou 17 anos. O poema se perdeu no desvão do tempo e no esquecimento de uma esconsa gaveta, que de há muito já não existe. Desse poema me ficaram as imagens de uma cruz partida e de um anjo de asas quebradas, bem como um verso que ainda ecoa em minha memória: “agre e agressivo agreste”. E nada mais.

Recentemente republiquei o Noturno do Cemitério Velho de Oeiras em meu blog, e divulguei o seu link através da mídia internética. Vários amigos se manifestaram sobre ele, em belas e desvanecedoras palavras.

Dagoberto Carvalho Jr., oeirense de quatro costados, autor do canônico Passeio a Oeiras, de que tive a honra de fazer o prefácio à sua 6ª edição, meu confrade na Academia Piauiense de Letras, disse por WhatsApp: “Li e reli, religiosamente, seu 'Noturno do Cemitério Velho de Oeiras'. A cidadela é mágica, mesmo. Encanta até na nostalgia de que se deixam 'contaminar' bons poetas, como você”. Como não poderia deixar de ser, lhe agradeci as elogiosas palavras.

Meu amigo e parente Frederico Rebelo Torres, que chamo de Dom Frederico de Las Altas Torres Ebúrneas, me enviou a seguinte mensagem whatsappiana: “Um dos seus mais bem elaborados poemas da sua engenharia emocional. Um belo epitáfio! Para um grande poeta! Para todos e qualquer poeta!” Dei-lhe a seguinte resposta:

“Gostei desse ‘belo epitáfio’, conquanto epitáfio seja associado ao evento morte. Mas, considerando que todos somos mortais e que a morte é um portal para uma vida mais plena e melhor, fico regozijado com esse ‘belo epitáfio’, ainda mais porque você o reservou para um grande poeta e ‘para todo e qualquer poeta’. Assim, fico de peito lavado, enxaguado e lustrado. Muito obrigado, grande condor, grande cantor dos Andes de Miguel Alves!”

No mesmo passo, sem perder o compasso, o Comandante Jônathas Nunes, distinto confrade da APL, postou o seguinte comentário sobre o referido poema:

“Noite de preamar!                                                                                                                   Bom dia, Comandante Elmar,

O poema do amigo – NOTURNO DO CEMITÉRIO VELHO DE OEIRAS – é recheado de construções do mais puro lirismo. É indiscutível a veia poética que brota da leitura de seu poema. Li e reli. Três vezes. Já no entardecer da vida, a mente me socorre nessas horas e o POEMA do amigo me leva aos idos da adolescência quando guiado pela clarividência de minha irmã Amália, me chega às mãos o poema: O Noivado do Sepulcro, de Soares Passos. [Transcreveu o poema].

Desde os idos da mocidade, fui vendo que cada país tem seu Hino Nacional, o National Anthem. Aprendi assim a cantar o Hino Nacional Brasileiro, e também o American National Anthem, o da Inglaterra, da Alemanha, da França, de Angola, etc.  E acredite Comandante Elmar, formou-se na minha mente desde ainda jovem a ideia de que o POEMA – NOIVADO DO SEPULCRO, de Soares de Passos, é uma espécie de HINO NACIONAL DO CEMITÉRIO.

Ao ler hoje seu Poema - NOTURNO DO CEMITÉRIO VELHO DE OEIRAS – vi que o mesmo é de igual quilate do Noivado do Sepulcro.                                   Examinando um e outro, observo que eles refletem, no entanto, o sabor literário de épocas diferentes: Soares de Passos no Romantismo e Elmar Carvalho no pós-modernismo.                                                        Dei-me ao trabalho de imaginar então, como ficaria o Poema de Elmar – Noturno do Cemitério Velho de Oeiras – na matriz do Romantismo de Soares de Passos. Tomei os últimos dez versos do Poema do amigo e com pequeno rearranjo, salvo melhor juízo, penso seria mais ou menos assim:

Cemitério de uma morte

Absoluta e sem fim

Como se fosse uma música

Sublime de bandolim,

Tangido por dedo mágico

De Arcanjo ou Serafim.

Não mais que mero deleite da imaginação.”

Que mais me resta dizer ou acrescentar? Nada, exceto agradecer: meus estimados amigos, Deus lhes pague!

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