27 de outubro Diário Incontínuo
DE PAPAGAIO A FRANCINÓPOLIS
Elmar Carvalho
Conversei, neste domingo, no shopping, com dona Inês, irmã do desembargador Antônio Gonçalves. Perguntou-me pela Fátima, de quem foi colega nos Correios. Falamos do tempo em que fui juiz em Inhuma, sua terra natal, em substituição à juíza titular, que se encontrava de licença. Fomos abordados pela professora Glória Soares, sua amiga, e velha amiga de meus pais, embora bem mais nova que eles. Na rápida conversa que entretivemos, falamos em Francinópolis, o antigo povoado de Papagaio. Disse que tinha um livro da história desse município para entregar a meu pai. Prometi-lhe que qualquer dia iria buscá-lo.
Disse-me ela que tinha algumas fotos minhas, de quanto eu era criança; acrescentou que eu fora um dos meninos mais bonitos que ela já vira. Pedi-lhe que escaneasse as fotografias, e me mandasse por e-mail, o que ela o fez, em tempo recorde. Numa delas, estou entre meus irmãos João e Antônio; em outra, estou a fazer pose, como pequeno e amestrado galã de cinema; na terceira, talvez aos dois anos de idade, caminho despido na rua arenosa, feliz, de pança cheia, tendo por fundo uma casa em ruínas. Não pude deixar de me lembrar, vendo essa terceira foto, dos versos do poeta, que dizem que, no verdor dos anos, as graças e as esperanças vão florindo à nossa frente, enquanto os desenganos vão ficando para trás, mas que, no crepúsculo da vida, as flores e as esperanças vão ficando para trás, enquanto os desenganos e as ilusões vão marchando à nossa frente.
Disse-me ela que tinha algumas fotos minhas, de quanto eu era criança; acrescentou que eu fora um dos meninos mais bonitos que ela já vira. Pedi-lhe que escaneasse as fotografias, e me mandasse por e-mail, o que ela o fez, em tempo recorde. Numa delas, estou entre meus irmãos João e Antônio; em outra, estou a fazer pose, como pequeno e amestrado galã de cinema; na terceira, talvez aos dois anos de idade, caminho despido na rua arenosa, feliz, de pança cheia, tendo por fundo uma casa em ruínas. Não pude deixar de me lembrar, vendo essa terceira foto, dos versos do poeta, que dizem que, no verdor dos anos, as graças e as esperanças vão florindo à nossa frente, enquanto os desenganos vão ficando para trás, mas que, no crepúsculo da vida, as flores e as esperanças vão ficando para trás, enquanto os desenganos e as ilusões vão marchando à nossa frente.
Os irmãos João, Elmar e Antônio
Meus
pais moraram no povoado Papagaio de dezembro de 1957 a janeiro de
1959. Eu era filho único na época. O segundo filho do casal nasceu
no começo de 1958. Portanto, lá cheguei com um ano e oito meses e
de lá saí com dois anos e nove meses. Fico imaginando a vida de
meus pais nesses tempos longínquos. Ainda jovens, recém-casados,
distantes dos parentes e dos pagos natais, começando a vida
matrimonial num pequeno povoado, encravado na paisagem adusta do
agreste. Mas foram anos felizes, pois eles guardaram boas e alegres
recordações desse período.
Meu
pai fora tomar posse de seu emprego no DCT, em cujo mister percorria
a linha telegráfica, em plena Chapada Grande, então ainda mais
desértica, quase intocada, pois os nativos preferiam as proximidades
dos córregos e dos rios e a exuberância fértil dos brejos. Quando
meu pai chegou de mudança, o seu colega, amigo e compadre Joel, que
não o conhecia, havia colocado provisão de lenha na casa e água
nos potes, num gesto de lhaneza, que meu pai nunca esqueceu. Hoje seu
filho, o médico Ozael dos Santos, é o prefeito do município.
No
alto do morro, então terra nua, sem benfeitorias, vestido apenas de
árvores nativas, havia a pequena e singela ermida, sob a invocação
de São Francisco, onde meus pais devem ter rezado tantas vezes,
sobretudo meu pai, rezador fervoroso. Tive durante algum tempo um
sonho repetitivo, talvez falsa memória das conversas paternas, em
que eu passava por uma pequena cidade, que tinha uma espécie de
mureta com degraus a perlongar um morro, no qual havia um cemitério.
Cerca
de dois anos atrás, quando meus pais, eu e meu irmão César fomos
visitar Francinópolis, pude ver o morro com suas palmeiras
imperiais, seus belos jardins, e os degraus que seguiam em direção
à igrejinha, que tivera uma pequena ampliação. A escadaria era
ladeada por uma mureta cheia de ondulações, e no cimo do outeiro,
na frente do templo, havia um Cristo Redentor, de braços bem
abertos, como a dar boas vindas aos visitantes. Depois, vimos o
cemitério, com as sepulturas encarapitadas nas encostas de outro
morro. E o meu sonho recorrente como que se concretizou.
Meu irmão fico feliz ao ler mais um breve relato familiar. Que história linda a de nossos pais! Manda, por favor, essas fotos a quais tu se refere aí, por e-mail p/ mim.
ResponderExcluirbjos
Já enviei. Vou tentar passá-las para o formato jpeg. Caso o consiga, com a ajuda de alguém, postarei pelo menos uma delas, para ilustrar a matéria a que você se refere.
ResponderExcluirRecebi as fotos....Ficou muito legal as fotos aí na materia. Ow meu Deus muito lindos vcs pequenos.
ResponderExcluirbjosss