quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DE PAPAGAIO A FRANCINÓPOLIS



27 de outubro  Diário Incontínuo

DE PAPAGAIO A FRANCINÓPOLIS

Elmar Carvalho

Conversei, neste domingo, no shopping, com dona Inês, irmã do desembargador Antônio Gonçalves. Perguntou-me pela Fátima, de quem foi colega nos Correios. Falamos do tempo em que fui juiz em Inhuma, sua terra natal, em substituição à juíza titular, que se encontrava de licença. Fomos abordados pela professora Glória Soares, sua amiga, e velha amiga de meus pais, embora bem mais nova que eles. Na rápida conversa que entretivemos, falamos em Francinópolis, o antigo povoado de Papagaio. Disse que tinha um livro da história desse município para entregar a meu pai. Prometi-lhe que qualquer dia iria buscá-lo. 

Disse-me ela que tinha algumas fotos minhas, de quanto eu era criança; acrescentou que eu fora um dos meninos mais bonitos que ela já vira. Pedi-lhe que escaneasse as fotografias, e me mandasse por e-mail, o que ela o fez, em tempo recorde. Numa delas, estou entre meus irmãos João e Antônio; em outra, estou a fazer pose, como pequeno e amestrado galã de cinema; na terceira, talvez aos dois anos de idade, caminho despido na rua arenosa, feliz, de pança cheia, tendo por fundo uma casa em ruínas. Não pude deixar de me lembrar, vendo essa terceira foto, dos versos do poeta, que dizem que, no verdor dos anos, as graças e as esperanças vão florindo à nossa frente, enquanto os desenganos vão ficando para trás, mas que, no crepúsculo da vida, as flores e as esperanças vão ficando para trás, enquanto os desenganos e as ilusões vão marchando à nossa frente.
Os irmãos João, Elmar e Antônio

Meus pais moraram no povoado Papagaio de dezembro de 1957 a janeiro de 1959. Eu era filho único na época. O segundo filho do casal nasceu no começo de 1958. Portanto, lá cheguei com um ano e oito meses e de lá saí com dois anos e nove meses. Fico imaginando a vida de meus pais nesses tempos longínquos. Ainda jovens, recém-casados, distantes dos parentes e dos pagos natais, começando a vida matrimonial num pequeno povoado, encravado na paisagem adusta do agreste. Mas foram anos felizes, pois eles guardaram boas e alegres recordações desse período.

Meu pai fora tomar posse de seu emprego no DCT, em cujo mister percorria a linha telegráfica, em plena Chapada Grande, então ainda mais desértica, quase intocada, pois os nativos preferiam as proximidades dos córregos e dos rios e a exuberância fértil dos brejos. Quando meu pai chegou de mudança, o seu colega, amigo e compadre Joel, que não o conhecia, havia colocado provisão de lenha na casa e água nos potes, num gesto de lhaneza, que meu pai nunca esqueceu. Hoje seu filho, o médico Ozael dos Santos, é o prefeito do município.

No alto do morro, então terra nua, sem benfeitorias, vestido apenas de árvores nativas, havia a pequena e singela ermida, sob a invocação de São Francisco, onde meus pais devem ter rezado tantas vezes, sobretudo meu pai, rezador fervoroso. Tive durante algum tempo um sonho repetitivo, talvez falsa memória das conversas paternas, em que eu passava por uma pequena cidade, que tinha uma espécie de mureta com degraus a perlongar um morro, no qual havia um cemitério.


Cerca de dois anos atrás, quando meus pais, eu e meu irmão César fomos visitar Francinópolis, pude ver o morro com suas palmeiras imperiais, seus belos jardins, e os degraus que seguiam em direção à igrejinha, que tivera uma pequena ampliação. A escadaria era ladeada por uma mureta cheia de ondulações, e no cimo do outeiro, na frente do templo, havia um Cristo Redentor, de braços bem abertos, como a dar boas vindas aos visitantes. Depois, vimos o cemitério, com as sepulturas encarapitadas nas encostas de outro morro. E o meu sonho recorrente como que se concretizou.   

3 comentários:

  1. Joserita Melo Carvalho29 de outubro de 2010 às 09:25

    Meu irmão fico feliz ao ler mais um breve relato familiar. Que história linda a de nossos pais! Manda, por favor, essas fotos a quais tu se refere aí, por e-mail p/ mim.
    bjos

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  2. Já enviei. Vou tentar passá-las para o formato jpeg. Caso o consiga, com a ajuda de alguém, postarei pelo menos uma delas, para ilustrar a matéria a que você se refere.

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  3. joserita Maria Carvalho31 de outubro de 2010 às 20:20

    Recebi as fotos....Ficou muito legal as fotos aí na materia. Ow meu Deus muito lindos vcs pequenos.
    bjosss

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