terça-feira, 31 de janeiro de 2012


O Comprador de Sonhos", de autoria do piauiense Evaldo Feitosa, que nasceu em Alto Longá e reside em Brasília, onde é tabelião, vai ser lançado na próxima sexta-feira (3) às 19h30, na Academia Piauiense de Letras (APL), em Teresina, à avenida Miguel Rosa, 3300/Sul, informou o presidente da Academia Longaense de Letras, Cultura, História e Ecologia (ALLCHE, acadêmico e médico José Itamar Abreu Costa. Evaldo é membo efetivo da ALLCHE. 
"A obra é um romance contendo os principais elementos da saga humana: verdade, sonhos e liberdade, sofrimento, solidãoe justiça. Mostra temas distintos, com estrutura filosófico. Cada personagem é vinculado a um assunto: Mileto mora no banco de uma praça e retrata da solidão; Xintó vive drogado e fala da felicidade; Mara é prostituta e seu tema é o sofrimento. O Delegado Feitosa revela a justiça, e o Padre Loki se manifesta sobre a liberdade", ressaltou Itamar. 
"O personagem Delegado Feitosa é uma homenagem aos 350 anos da chegada da família Feitosa ao Brasil, desembarcando em Penedo e adentrando o Sertão, através do Ceará, chegando a todos os rincões do Nordeste e de outras regiões do Brasil', destaca o livro.
Evaldo fez pós-graduação e mestrado em Direito. Recebeu a Medalha do Mérito Renascença do Piauí e é titular da Cadeira 29 da Academia Longaense de Letras, Cultura, História e Ecologia (ALLCHE), idealizada e fundada por Itamar, com sede na cidade de Alto Longá.O escritor Evaldo Feitosa, desde a infância, tem uma ligação forte com a educação. Seu primeiro emprego foi aos 19 anos como Diretor de um ginásio, em Alto Longá. Depois foi professor do antigo 2º grau e de ensino superior. Toda a família Feitosa é envolvida com a educação, pois quase todos os irmãos foram professores. 

Em razão de sua ligação com a Educação, Evaldo Feitosa "apresentou a um deputado uma proposta que foi transformada em Projeto de Lei que e está tramitando na Câmara dos Deputados, em Brasília, criando o Pró-Leitura". 

Por meio desse projeto as escolas e órgãos públicos serão obrigados a manter um programa permanente de leitura, inclusive com certificados de participação que valerá como título nos concursos públicos, bem como remição de pena para os condenados que participarem dos dias de leitura.

O triste destino das livrarias e do próprio livro


CUNHA E SILVA FILHO

A era digital veio para ficar, com todos os seus traços benéficos e maléficos. Agora, os seus primeiros golpes se voltam para o papel escrito. Não respeitou os antigos, nem a chegada da imprensa graças a Gutemberg. Pergaminhos, nem se fala. Tudo virou História e museu.
Agora, o que impera é o monitor, as telinhas dos mil gadgets da tecnologia de ponta Aos poucos, nos vamos acostumando com os novíssimos tempos de uma modernidade que se eterniza e dá as costas para o tempo e as divisões múltiplas culturais, os períodos, os anos, os séculos, as eras, o calendário, o relógio. Pra que agora se preocupar com a ampulheta, se temos, diante de nós, o tempo intemporal, as galáxias num universo que, segundo os cientistas, cresce a passos largos (ou a passos lentos?).
Não me importo com a objetividade de afirmações pouco objetivas. Sei dos meus limitados conhecimentos racionais. Quero, antes, a sensibilidade, moeda forte que anda esquecida nos corações humanos. É feio, é insensato, coisa de mulher alguém, em tempos correntes, mostrar-se sensível, sentimental, amoroso, delicado. Iriam tachar esse “alguém “de pouco viril ou de outros epítetos preconceituosos.
Esta notícia que nos vem pela imprensa – que ironia das coisas! – de que o e-book vai tomando o lugar privilegiado do livro impresso vem como uma bomba na cabeça dos bibliófilos e bibliômanos, dos bookwoms. Coitados de nós, que amamos tanto o pegar num livro, folheá-lo, fazer anotações a lápis nas margens, sublinhar o que nos chama a atenção, sentir o cheiro do papel, velho ou novo, ver a capa, tocá-la, ver as suas cores, as ilustrações, a contracapa, as orelhas, senti-las materialmente, ver o tamanho dos tipos impressos, examinar o livro em todos os seus aspectos físicos, ângulos, levá-lo para a cama, para o sofá, para um canto recolhido da casa, buscá-lo na prateleira, ver-lhe a lombada. Ah, nada mais agradável do que o livro impresso! Nada mais precioso do que ter uma biblioteca. Que solene! Amei sempre as bibliotecas, as particulares, as públicas. Não sei como seria o mundo futuro sem a condição secular do livro impresso.
Na minha visão profética ( quanta audácia minha!), vejo seres mecanizados, apressados, sobraçando e-books, insípidos, sem requinte, sem nobreza, sem linhagem, sem nada. Lá estão no futuro aqueles homenzinhos abrindo seus aparelhinhos digitais, lendo as obras dos grandes escritores de todos os tempos ou de nenhum tempo, os bons, os médios, os ruins, os best-sellers, satisfeitos de seus livros virtuais, somente preocupados com o sinal eletrônico avisando-os de que, a qualquer hora, a bateria acabará. Mas, há a eletricidade, a energia, para recarregá-lo em algum lugar onde exista um tomada. Já o livro impresso prescinde de tudo isso. Se com ele tivermos cuidados, dura muito tempo, até séculos, ainda que, como os seres humanos, envelheçam e se estraguem.
Ontem, vi na tevê e, depois, no jornal, que em Nova Iorque, as livrarias estão fechando as portas, ou seja, como dizia o aviso nas portas das livrarias: “... out of business”. Oh, triste destino das livrarias. Aqui no Rio de Janeiro, uma conhecida livraria portuguesa, a Camões, está fechando, ou já fechou as portas. Lamentável! Um proprietário de sebos no Centro do Rio me havia dito pouco tempo atrás que os sebos e as livrarias estavam diminuindo. Boas livrarias, como a Martins, também fecharam suas portas na filial do Centro carioca. Novos tempos, novos problemas.
É bem provável que o livro impresso, se resistir no futuro, será adquirido só por milionários dado o altíssimo preço que terão. Entraremos na Idade Média das publicações, só acessíveis à nobreza.
Assim anda a roda do tempo. A força da maioria prevalecerá. Para os leitores do futuro serão os e-books tão normais quanto para mim e outros agora são as obras impressas. Nos tornaremos pré-históricos para tais leitores. “O quê, livro de papel, que é isso, quando houve esse tempo?,” refletirão atônitos os leitores dos futuro.
As grandes bibliotecas de agora virarão novas alexandrias, só que digitalizadas. No entanto, os velhuscos livros do passado, ainda atualmente existentes, durante algum tempo indeterminado do futuro, deixarão de existir. Não resistirão ao tempo devorador da matéria.
Não estaremos vivos para conferir tudo isso, nem os que nasceram agora. Seremos passado como o são os gregos antigos, os latinos, os povos do Oriente. A História, esta “mestra da vida” segundo Heródoto, será armazenada em “ bibliotecas” gigantescas digitais, que, por sua vez, tomarão outros espaços, tal como as bibliotecas do nosso conhecimento, porque tudo tem limites, até para caber a História da Humanidade.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

AS LEMBRANÇAS


JONAS FONTENELE

- “Eu nasci há dez mil anos atrás, e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais... Se você provar que eu estou mentindo, eu tiro o meu chapéu”. Raul Seixas, cantava e ainda canta até hoje nos rádios os versos acima. Eu as vezes tenho essa impressão, que nasci há muito tempo atrás. A velocidade da informação nos faz parecer, muito rapidamente, dinossauros. Lembro, não faz muito tempo, do mimeógrafo (você sabe lá o que é isso?), do orelhão de ficha, do kisuco, da crush, do conga (tênis) do kichute e outras coisas que nem adianta mais se lembrar, viraram poeira no tempo que implacavelmente não perdoa.
Na minha infância, vivida na rua General Sales – Parnaiba/PI (sei lá quem é esse general) hoje João Emilio Falcão Costa (pelo menos conheci o filho e o neto), bairro São José vi coisas e personagens, que me marcaram a existência, personagens que vi pela ótica de menino, portanto posso aqui cometer alguns desatinos, aceitando portanto desafios e contestações. Personagens que nunca mais ouvi falar e que talvez você leitor possa conhecer e me atualizar nesse mundo globalizado.
Lembro de um personagem que passava na rua, todo bem vestido, tocando violão, com uma gaita fixada neste,(tempos depois vi Bob Dylan com o mesmo sistema) em cada braço um prato de bateria, chocalhos nos pés, e um bumbo às suas costas, de modo que quando andava, tudo de forma sincronizada era acionado e um som maravilhoso saía, e nós ficávamos olhando aquele personagem, pensando até onde ia aquela maluquice, e ele garbosamente passava tocando a sua música, violão, gaita, bumbo, prato, tudo ao mesmo tempo, num ritmo impressionante, esse eu nunca mais ouvi falar dele.
Tinha outro personagem, que ia muito a minha casa, amigo que era do meu irmão José Porfírio Carvalho, conhecido por Joãozinho, que vivia com um cabresto de chinelo entre os dedos a balançar freneticamente, sabia dentro do seu universo, de todas as capitais do Brasil e do mundo, era só perguntar e ele respondia sem titubear, era um verdadeiro atlas geográfico ambulante.
Eram muitos personagens, tantos que o espaço reduzido da matéria faz cometer injustiças, mas tinha um que eu gostaria de saber de sua localização e peço sua ajuda leitor, para tentar localizá-lo, já que imagino ainda esteja vivo. Chamava-se PAULO e eu o conhecia por PAULO CRENTE, já que na minha época era muito estranho não ser católico, e a família do PAULO não era, nem sei mesmo a sua religião, mas chamávamos (eu e todos que conhecia) ele e os seus irmãos, de CRENTES, que assim o distinguíamos da turba. PAULO morava na rua acima da nossa, e era, como você vai perceber uma pessoa extremamente diferente. Ele um dia foi ser sócio de um irmão meu o LUIZ, em uma oficina de consertar rádio e aí virei seu fã, pois ele era um artista, vi e assisti inúmeras coisas que ele fazia à nossa frente, sem truques de luz e sem muita “novela”. Era ao vivo e em cores, sem rufar de tambores.
PAULO costumava comprar combustível e estocava na oficina que ele mantinha com meu irmão LUIZ CARVALHO, que era vizinha a nossa casa. Se era para abastecer algum carro? Não meu caro leitor, era pra despejar nas enchentes que aconteciam com frequência na nossa rua, e como chuva naquela época (????) combinava com falta de luz, era só chover que PAULO derramava o combustível acumulado na enxurrada e tocava fogo, era bonito se ver aquele fogaréu descer rua abaixo amedrontando quem não tinha idéia do que era aquilo, era diversão pura.
PAULO fazia coisas que são inimagináveis até o dia de hoje, como por exemplo descascar coco com os pés, veja você descascar coco com as mãos e um facão já é dificil, PAULO descascava com os pés e sem nenhuma ferramenta. Não era só isso, colocava uma tábua abaixo de sua língua e com um martelo e um prego, atravessava-a sem dó nem piedade, isso em plena luz do dia ao nosso lado. Fazia pior, jogava água no chão, ficava descalço e colocava segurando pela mão, uma colher no bocal de luz, (a corrente elétrica é 220w) a gente não entendia como ele não morria de choque, mas era assim mesmo o PAULO.
Uma vez o vi colocando no liquidificador a seguinte mistura: mertiolate (lembra?), mercúrio, leite, cachaça alemã, abacate e depois de triturar tudo, beber como se fosse a mais saborosa mistura do mundo.
Nessa época tinha um programa de televisão na TV TUPI (eita ferro) comandado pelo animador J.SILVESTRE, que tinha um quadro chamado OS FORA DE SÉRIES, que exibiam pessoas que faziam coisas excepcionais, não tardando que, em Fortaleza, aparecesse um programa que também tinha um quadro parecido. PAULO como era de se esperar, foi lá várias vezes e cada vez surpreendia muito mais. Lembro de uma vez que ele ficou de cabeça pra baixo e nessa posição bebeu um litro de água, isso para ele era moleza. Perdi o contato com o PAULO e toda vez que falo dele, sou olhado com desconfiança, pois acham que eu estou mentindo. Só quem o conheceu sabe que o que eu estou falando, ainda é pouco pelo que ele fazia.
Outro dia fiquei sabendo que em Piripiri ou Piracuruca, tem um sujeito que faz um espetáculo usando carneiros, que depois de provocados começam a dar cabeçadas, sendo que o seu proprietário os encara de frente, dando forte cabeçada na cabeça dos caprinos, estes invariavelmente perdendo o duelo. Não sei porque mas acho que esse aih é o PAULO. Quem souber, me avise no email jonasfontenele@hotmail.com, e quem achar que eu estou mentindo, como dizia o poeta, eu tiro o meu chapéu.

domingo, 29 de janeiro de 2012

ESTÓRIA A RESPEITO DO POVOAMENTO DE BURITI DOS LOPES (*)


Vicente de Paula Araújo Silva “Potência”
        
Ainda no verão de 1690, aventureiros lusitanos, pernambucanos e baianos, passaram a ocupar o vale oriental da Ibiapaba, onde missionários jesuítas haviam pacificado os índios. Então, os Crateús, sentindo-se oprimidos pela invasão  colonizadora, fizeram fortes ataques a esses curraleiros, que atemorizados pediram socorro ao Governo do Brasil.
         Diante desse fato, vindo pelo sertão das Cajazeiras,  chegou  a região o português  Capitão Bernardo de Carvalho Aguiar conseguindo a pacificação daqueles selvícolas.     Após esse fato, vendo reais possibilidades de ganhos econômicos, resolveu também criar currais de gado . Assim, instalou-se inicialmente, em Cabeça do Tapuio (São Miguel do Tapuio), de onde seguiu em 1694 para a Bitoracara (Campo Maior) ,  e posteriormente para a Villa Velha da Parnaíba (São Bernardo -MA). É considerado o fundador dessas cidades.  Continha o seu aparato militar, índios domesticados chamados de  “Cablocos Reais” por estarem a serviço do reinado , um padre missionário e aventureiros portugueses. Acredita-se que estavam nesse grupo os portugueses  Francisco Lopes e Manoel Peres Ribeiro, pois os mesmos e outros lusitanos, também se estabeleceram  no vale do rio Longá, em 1703, tendo o  primeiro fincado curral na beira do riacho Burití, nas proximidades da “Barra do Longá, e o segundo nas datas Santo Antonio da Boa Vista  e Almas, localidades essas que em 1720.  integravam a Villa de Nossa Senhora de Monserrate da Parnahíba., e  posteriormente formaram o município de Burití dos Lopes, estando atualmente inseridas nos municípios de Esperantina e Joaquim Pires, respectivamente.
       Sabe-se que após, a morte de Antonio Cunha Souto Maior, em 1712, o então fazendciro Bernardo Carvalho de Aguiar, retornou as atividades militares com a patente de Mestre de Campo, e alguns de seus antigos companheiros retomaram os seus lugares  na tropa de combate aos índios em revolta no norte da Capitanía do Piauí. Foi no exercício da função militar de Sargento-Mor da Villa de Nossa Senhora de Monserrate da Parnahíba,  que Manoel Peres Ribeiro matou Mandu Ladino.
      Mas, o que  leva a crer,  a relação de Francisco Lopes com Bernardo Carvalho de Aguiar, é que esse arrojado militar, em toda a sua existência,  deixou de cumprir apenas uma ordem superior. Foi a prisão de um membro da família Lopes, que se fazia necessária, por questão que envolvia a invasão do mesmo às terras dos índios Tremembés no Delta do Parnaíba.
      Após a morte de Mandu Ladino, a pressão política sob influência da Igreja, foi muito forte sobre a pessoa de Manoel Peres Ribeiro, fazendo com que o mesmo retornasse a Portugal. Ocupou o seu lugar provisoriamente, Antonio de Oliveira Lopes, que  solicitou  a confirmação no posto de Sargento-Mor da Vila de Nossa Senhora de Monserrate da Parnahíba,   ato consumado em 07 de maio de 1724.

(*) O vertente artigo foi baseado em documentos que não puderam ser anexados à postagem.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Leão voltou da África

Charge da autoria de João de Deus Netto

Caiçara volta às atividades profissionais depois de ter ficado fora do Campeonato Piauiense em 2010 e 2011. Na sua última participação, em 2009, deixou muito a desejar e terminou na lanterna. Antes, porém, viveu momento de glória no futebol do Piauí, como em 1963, quando sagrou-se campeão da 2ª Divisão e vice da divisão principal. O time também foi vice-campeão estadual em 1990, mas como o Tiradentes alegou problemas de ordem financeira, terminou representando o Piauí na Copa do Brasil do ano seguinte, quando foi eliminado pelo Atlético Mineiro.

Entre muitos ídolos do Leão da Terra dos Carnaubais, a torcida não esquece jogadores como o goleiro Coló, o zagueiro Cabo Dulce, o meia Vicentim, o atacante Escurinho, dentre tantos outros, da década de 1960, e outros mais recentes como Paulo Henrique, Catita, Adão, João da Cruz, Júnior Fiscal e Paulo Isidoro, só para citar alguns nomes. Muitos outros, porém, ajudaram a escrever as páginas vitoriosas do alvirrubro campomaiorense.


Severino Filho (Buim)


@@@@@@@@@@

NOTA DO BITOROCARA: Esta concepção artística do mascote do Caiçara é de minha autoria e, por enquanto, exclusividade do blog Bitorocara que de já autoriza a veiculação em outros blogs e sites da cidade que se interessarem na divulgação. Ao clube Caiçara,proprietário da "marca", será enviado uma cópia para apreciação sem compromisso firmado.
Repito que trata-se de uma vontade minha de divulgar o retorno do "Leão" querido de Campo Maior aos gramados das praças de esporte nesta temporada de 2012.

João de Deus Netto - BlogBitorocara

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

DIÁRIO INCONTÍNUO





27 de janeiro

O NOVO SHOPPING E OS ANIMAIS

Elmar Carvalho

Na sexta-feira passada, embora de férias, fui resolver uns assuntos funcionais no Tribunal de Justiça. Estacionei meu carro ao lado de um edifício que o TJ está construindo para abrigar os juízos da Comarca de Teresina. Quando saí do veículo, um cachorro grande se aproximou de mim. Inicialmente, cheirou um dos pneus dianteiros da picape, e depois veio em minha direção. Confesso que fiquei um tanto receoso dos dentes caninos. Foi então que uma mulher começou a brigar com o animal, e o escorraçou a pedradas, sob a alegativa de que algumas de suas galinhas foram devoradas por um cão. O cachorro, diante das pedradas e das imprecações da mulher, bateu em retirada.

Já sem mais temor, fiquei com pena do animal. Senti, naquele momento, em toda a sua crueza, o que significa dizer “sair com o rabo entre as pernas”. Pude imaginar o sofrimento de um cachorro abandonado pelo dono, ou, o que é pior, espancado sadicamente pelo seu proprietário. Não faz muito tempo, vimos, pelas telas da TV, uma enfermeira, na frente de sua filha, ainda uma criança, a torturar de forma cruel, sádica, desumana, o seu pequeno cachorro. Nunca vi tamanha covardia e perversidade de um ser, que se diz feito à imagem e semelhança de Deus, frente a um indefeso animal. Não quis ver até o fim aquela cena brutal e estúpida, e além do mais sem a mínima razão de ser, da enfermeira a escoicear como uma égua enlouquecida a pequenina e inocente criatura, que ela se propôs criar, até matá-la.

Recordei que, quando a construção do prédio estava no início, eu estava conversando com o publicitário Sebastião Amorim, na porta de seu escritório. Foi ele quem me fez a programação visual de alguns livros de minha autoria, assim como produziu um documentário sobre a minha poesia, intitulado “O Poeta e seus Labirintos”, além de alguns clipes poéticos (alguns disponíveis na internet) e banners. Quando eu conversava com o Amorim, notei que vários animais, mormente camaleões e mucuras, surgiram, completamente desnorteados, com a devastação da pequena floresta, em cujo local o prédio foi erigido. Certamente alguns desses pequenos bichos foram atropelados por carros ou mortos pelas traquinagens de algum menino. Fiquei triste, e lastimei a construtora não tivesse adotado providências para procurar um local adequado para os animais, talvez logo ali perto, na margem esquerda do rio Poti, que ainda tem uma estreita nesga de floresta.

Recentemente, vi os grandes e vários outdoors que anunciam a construção de um condomínio e de um novo shopping, no terreno em que foi construído o sanatório Meduna. Neste diário, já tive oportunidade de defender a preservação do belo e histórico prédio do nosocômio, que tem a defendê-lo, simbolicamente, a magnífica estátua do cavaleiro Dom Quixote e a memória venerável de seu construtor, o médico e intelectual Clidenor Freitas Santos, que, se não era um cavaleiro andante, era um admirável cavalheiro, paladino de justas causas. Soube, pelo arquiteto Olavo Pereira da Silva Filho, que o projeto da obra preserva a conservação do velho edifício, que será um espaço cultural – talvez com auditório e espaço para abrigar a volumosa biblioteca do grande psiquiatra, que bem merece ter o seu nome dado à avenida Pinel, como advoga o seu ilustre colega, o médico e escritor Humberto Guimarães.

Muito bem, acredito – quero acreditar – que o velho Meduna será preservado. Entretanto, espero que os animais que habitam a bela floresta do imóvel também o sejam; que não lhes aconteça o que vi acontecer com os outros bichos a que me referi. Desejo que, ao menos, parte desse belo santuário ecológico urbano seja conservado, com as suas grandes, copadas e belas árvores, com os seus paus-d'arcos de deslumbrantes floradas, e os tucunzeiros, com a sua graça esbelta e espinhenta, para que ainda possamos ouvir o gorjeio das aves canoras e o canto rascante das cigarras, cantochão de uma catedral panteísta. E as cigarras, advirto, não são preguiçosas; o seu ofício é cantar. Ou, na pior das hipóteses, que esses animais sejam transferidos para alguma reserva ambiental apropriada, que lhes permita viverem em paz, com o simples direito natural e divino de continuarem existindo. 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

QUANDO O JACARÉ FICOU MILIONÁRIO


JONAS FONTENELE
Advogado e professor

Trabalhava eu, lá pelos idos de 1989, em uma empresa de transporte público aqui em Brasília, no departamento jurídico, e apesar da seriedade do trabalho desenvolvido por mim e às vezes até mesmo pela aparência mais sóbria, não demorou muito para que os companheiros de trabalho notassem o meu espírito alegre e brincalhão, sempre disposto a brincar até mesmo com coisas mais sérias, e talvez ou por isso mesmo, fui convidado a participar de uma brincadeira com um companheiro nosso apelidado de JACARÉ. Apesar do meu espírito brincalhão, algo internamente me alertou para não participar daquela brincadeira que teve um final inesperado como vocês verão ao final da narrativa.
Jacaré era um trabalhador honesto, muito sério e morava na época na periferia de Brasília, levando uma vida muito sofrida, que ele acreditava um dia acabaria, quando ganhasse na loteria (não me lembro se na época era loto, sena ou outro nome parecido), pois segundo ele, um dia – não seria possível que esse dia não chegasse – os números que ele jogava (que depois foi descoberto, apesar de ele os esconder a sete chaves) equivalentes a data de nascimento dele haveriam de ser sorteados, razão pela qual, toda semana, invariavelmente Jacaré jogava os mesmos números, às vezes era sorteado um número daqueles, outras vezes dois números, o que motivava o mesmo a dizer a todos, está quase a chegar o meu dia, qualquer hora sai os meus números e adeus vida de pobre, era o que sempre dizia, chegava mesmo a fazer planos com sua fortuna imaginária, presenteando um sobrinho com um carro zero, uma casa nova para os pais, uma lancha para si mesmo, e quem sabe, dependendo da bufunfa, até mesmo um aviãozinho para poder ir ao seu querido Piauí, de onde era oriundo e não se esquecia um só minuto, lá de um povoado de Luís Correia, local que para ele era simplesmente o paraíso terrestre.
A empresa em que trabalhávamos era pública, e como tal sofria os dissabores da política local, mudando de presidente sempre que mudava o governador, pois este nomeava pessoa de sua confiança e que o tinha apoiado para a presidência da empresa, não sem ferir vaidades dos que ali trabalhavam e sonhavam alçar ao cargo, e estes preteridos sempre achavam um jeito de boicotar o novo presidente, forçando a sua queda, para quem sabe ser o novo nomeado. Faziam de tudo, escondiam informações vitais, davam informações erradas, colocavam apelidos depreciativos, enfim faziam o que chamamos de jogo sujo, para forçar o sujeito a cair do cargo ou desistir e pedir o chapéu.
Mudou o governador, mudou o presidente da empresa, e como não poderia ser diferente, novas táticas de guerra suja, e não se sabe como, alguém descobriu que o novo presidente, que não era lá de muita brincadeira, tinha um apelido que o deixava furioso, não se sabe bem o por que, pois o apelido nem era assim tão jocoso – PÉ DE VENTO – mas se sabia que quem assim o chamasse cairia na desgraça, e logicamente os contrários à sua indicação cuidaram logo de espalhar a notícia dentro da empresa, e na surdina todos tratavam o presidente somente pelo apelido, sabendo que sua menção na frente do mesmo era passível de demissão por justa causa.
Voltando ao nosso personagem JACARÉ, um dia ele recebe um telegrama da família informando que seu pai havia se internado em Parnaíba com uma doença própria da velhice, achando o Jacaré que deveria ir até lá para fazer uma visita ao seu velho pai, então foi falar com o presidente da empresa, para que esse o liberasse por uns dias, o que lhe foi negado, mesmo o Jacaré tendo argumentado que pagaria com horas extras, ou que descontasse de suas férias vindouras, nada, absolutamente nada sensibilizou o coração do presidente para a liberação de alguns dias para que o Jacaré fosse visitar seu pai. A mágoa ficou encruada no coração do Jacaré.
Um dia, recebo um grupo de companheiros da empresa, só de gozadores, desses que perdem um amigo mas não perdem a chance de fazer uma grande sacanagem, me chamando para participar de uma brincadeira que iriam fazer com Jacaré. Eu, apesar de brincalhão, achei aquela brincadeira pesada demais e não topei, apesar de saber o que ia ser feito: Prêmio acumulado, milhões e milhões para quem acertasse as dezenas naquela semana, sonho de muitos, Jacaré incluso, eles planejavam o seguinte: Toda semana, um dos gozadores era encarregado de ligar para a loteria para saber quais os números sorteados, fato que era feito em voz alta, para que todos da seção pudessem anotar os números sorteados, e dessa vez, ele iria dizer os números que eram jogados sistematicamente pelo Jacaré, que ele achava que ninguém sabia, mas a turma já havia decifrado o enigma.
Chega o tão esperado dia, ressalte-se que isto se seu uma semana após o presidente ter negado a licença ao Jacaré ir a Parnaíba, sorteio realizado as 15:00 da quinta-feira, ligação feita às 15:05 da seção para a loteria – lembre-se na época não tinha nem celular e nem internet – Zé Filho então “canta”os números que teriam sido sorteados, números esses que iriam deixar arquimilionário quem os acertasse, e “canta” os números falsos, que eram aqueles jogados pelo Jacaré. Os que sabiam da mutreta, eu era um deles, ficaram só observando disfarçadamente a reação do Jacaré, que após conferir por umas três vezes os números mágicos, se levantou sem nada dizer, abriu a porta, e pra azar do destino, no mesmo momento em que o presidente ia passando, Jacaré então não se conteve e a plenos pulmões berrou : PÉ DE VENTO FILHO DA PUTA, ENFIA ESSA EMPRESA NO C*, EU AGORA SOU MILIONÁRIO E VOU PRA PARNAIBA É NO MEU AVIÃO. O desfecho dessa história? Ora, essa eu deixo para sua imaginação.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

QUATRO POETAS DO PIAUÍ


MINHA VOZ

Clóvis Moura

Minha mãe deu-me um cravo cristalino
quando nasci. Guardei-o na garganta.
Por isto a minha voz parece o eco
de todo sofrimento que não canta.
Com isto a minha voz se fez desejo
dos surdos-mudos, das mulheres mancas.
É o plenilúnio dos abortos tristes
e o gira-sol dos cegos que não andam.
Minha garganta já sentiu o travo
da palavra guardada e não ditada
por causa dos fonemas mutilados.
Há na voz desse cravo que não toca
um desfilar de mortos e de enterros
e gritos por silêncios soterrados.

Extraído de LB – Revista da Literatura Brasileira, nº 6

DIÁRIO INCONTÍNUO


Gregório de Moraes, Olavo Pereira da Silva Filho, Elmar Carvalho, Itamar Abreu Costa, Pedro Costa e José Fortes Filho (sentado) 


25 de janeiro

OS VELHOS CASARÕES DE CAMPO MAIOR

Elmar Carvalho


Recebi um telefonema do médico Itamar Abreu Costa, lembrando-me de que no domingo haveria a eleição para preenchimento de uma das cadeiras da Academia do Vale do Longá. Disse-lhe que não faltaria, pois desejava sufragar o nome do escritor e professor Carlos Dias, que concorria à vaga deixada por Chiquinho Cazuza, também altoense como o candidato. Carlos Dias é pesquisador de mérito, já tendo escrito vários trabalhos sobre a história de sua terra, sobre a vida e obra do intelectual a cuja vaga concorria, além de ter feito um importante livro sobre o grande poeta popular Zé da Prata, em que analisa sua obra e lhe enfeixa vários poemas.

No telefonema, Itamar reafirmou a sua vontade de contribuir para a preservação dos vetustos casarões de Campo Maior. Diante desse seu desiderato, expliquei-lhe que o arquiteto Olavo Pereira da Silva Filho, uma das maiores autoridades sobre a situação do patrimônio arquitetônico do Piauí, havia me falado que, não obstante a deterioração e o desaparecimento de muitos prédios antigos e históricos, o patrimônio campomaiorense é ainda um dos mais ricos de nosso estado, mormente considerando-se a parte interna desses antigos solares. Acrescentei que Olavo tinha me falado no seu desejo de que fosse promovido um evento em defesa dessas casas solarengas, e que, por esse motivo, o convidaria a comparecer ao Itacor, onde ocorreria a votação domingueira, para que nós três tratássemos da realização da solenidade cultural.

No horário marcado, discutimos como seria esse ato em defesa do patrimônio campomaiorense. Acordamos em que a Academia Campomaiorense de Artes e Letras e a Academia Piauiense de Letras deveriam participar dessa promoção, que pretendemos seja realizada no auditório desta última entidade, sem prejuízo de uma outra em Campo Maior. Haverá uma palestra do arquiteto Olavo Pereira da Silva Filho sobre o patrimônio arquitetônico campomaiorense, no qual ele deverá discorrer sobre o histórico de alguns prédios, sobre o estado de conservação do conjunto das edificações e sobre o que poderá ser feito em prol de sua conservação, além de seu aproveitamento para efeito de turismo cultural e histórico. Na oportunidade, deverá ser passado um abaixo-assinado, para coleta de assinatura da assistência, a fim de ser enviado ao Ministério da Cultura, para emissão de uma declaração a respeito da paisagem arquitetônica.

Ao tratar desses assuntos, soube, através do arquiteto Olavo Filho, de que o antigo cemitério de Campo Maior estaria sofrendo algum tipo de intervenção em seu muro. Contei-lhe, então, que eu já havia escrito um trabalho sobre esse vetusto campo santo, já desativado há várias décadas, em que eu defendia a ideia de que ele poderia ser transformado numa espécie de museu a céu aberto, com a restauração dos túmulos e das alamedas, com um projeto de criação de jardins, caramanchão, estátuas e um espaço ecumênico para reflexões, palestras e eventuais cerimônias ritualísticas, sem prejuízo das construções existentes. No meu escrito, eu dizia que ele poderia ser transformado, mantidas as proporções, em algo parecido com o Recoleta da argentina. E afirmei que esse projeto seria pioneiro, em termos de Piauí, e bem poderia servir de modelo para outros municípios. Creio que tudo isso será debatido na palestra do Olavo.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

POSSE DA NOVA DIRETORIA DA APL


Será hoje a posse da nova diretoria da Academia Piauiense de Letras, eleita em 17 de dezembro de 2011. A solenidade acontecerá às 19:30 horas, no Auditório Wilson de Andrade Brandão, na sede da APL (Avenida Miguel Rosa, 3300-Sul). A diretoria está assim constituída:
Reginaldo Miranda da Silva – Presidente
Raimundo Nonato Monteiro de Santana – Vice-presidente
Oton Mário José Lustosa Torres – Secretário geral
José Elmar de Mélo Carvalho – 1º Secretário
Nelson Nery Costa – 2º Secretário
Manoel Paulo Nunes - Tesoureiro

JUIZ ABRAÇA E BEIJA ESPÍRITO DE PADRE (*)



Hoje, o magistrado Batista Rios é o titular da 2ª Vara da Comarca de Picos

José Maria Vasconcelos
josemaria001@hotmail.com

O maior inimigo do ser humano é o mistério, os enigmas. A maior riqueza, porém, é a fé. Entre as duas fronteiras, a ciência tateia só o visível e experimental, em busca, quase sempre, das vãs e improváveis respostas.
O juiz João Batista Rios, residente em Teresina, atualmente assistindo em Picos, fervoroso católico, colaborador paroquial, meu amigo de longa data, desde o seminário capuchinho, em Messejana-CE, nas beiradas de Fortaleza. Um afeto que amadureceu, depois que nossos colegas de antanho resolvemos nos confraternizar anualmente. Em Fortaleza, ocupamos um ônibus alugado e partimos para a Serra do Estêvão, em Quixadá, e nos hospedamos no mosteiro de freiras, pousada barata e confortável, além de enorme e florido jardim. O clima serrano nos aproximou do céu, regado a vinho, seresta, recordações esticando as noites, 13, 14 e 15 de janeiro, 2012.
Coisas de Deus não se discutem, experimentam-se. Vivenciando a presença do Altíssimo, Ele nos revela seus mistérios e zomba da vã ciência. João Batista percorria, a pé, o centro de Teresina, à tarde, por trás do Colégio Sagrado Coração de Jesus, nas proximidades da Embratel. De repente, o juiz encontra Padre Geraldo Vale, virtuoso capitão e capelão da PM, diretor espiritual da Renovação Carismática. Batista emociona-se, depois de longa ausência amiga, abraça-o e lhe beija a mão, como de costume. Conversam demoradamente, meio ao barulho do trânsito. E se despedem. Logo mais, o juiz se dirige à residência da amiga, Célia, e lhe relata o encontro com o sacerdote. Célia estranha a revelação do amigo: "Batista, já faz um ano que o Padre Geraldo faleceu, agora você vem me dizer que o encontrou na rua?!" Quase o juiz cai para trás, e lhe conta o que aconteceu. Envergonhado, João Batista temia o episódio virar boataria, atingindo-lhe a dignidade profissional. Duvidando de Célia, o juiz procurou outra amiga, Ivanir, e lhe narrou o encontro com o padre. "Batista, é verdade, mesmo: faz um ano que o padre Geraldo morreu!"
Ouvindo história tão estranha e fotográfica, lembrei-me de Jesus Cristo, ressuscitado, aparecendo a dois discípulos, na estrada de Jerusalém a Emaús. Conversaram, depois jantaram, em seguida o Mestre desapareceu. Antes, tachou-os de retardados da fé.
Quem acredita em inumeráveis aparições de Maria, quem reza aos espíritos de Antônio, Francisco e centenas de "santos"- uns que nunca existiram - não deve questionar a experiência transcendental do juiz João Batista. Tem de aceitar o que ocorre longe dos altares, especialmente em territórios de outras crenças. Espíritos de índios, negros e cidadãos que marcaram a passagem pela terra com a prática do bem. O difícil é filtrar o misticismo psicopata da revelação sadia e divina.
Juiz João Batista, homem de espírito e conduta exemplar, perseguido por desbancar prefeitos do trono, conseguiu o privilégio de experimentar "coisas" de Deus que arrebentam a vã ciência. "Zé, pelo amor de Deus, não me leve no deboche e humor, ao relatar esse episódio." Prometo, Batista, inclusive de lhe dar um cheiro, se morrer primeiro. Bem no meio da Avenida Frei Serafim. De assombrar transeuntes.

(*) Neste blog, sob o título de No Reino do Surreal, contei essa narrativa, embora sem o brilho do mestre José Maria Vasconcelos. Minha crônica também foi publicada na revista Nossa Gente, nº 9, de dez./2011, editada pelo jornalista Belchior Neto, que prestou significativa homenagem ao padre, com mais duas matérias, uma de sua autoria, e outra, escrita pelo juiz João Batista Rios. As fotos foram extraídas da referida publicação.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

FLAGRANTES & INSIGHTS



SERRA AZUL DE SANTO ANTÔNIO DO SURUBIM

Elmar Carvalho

Diz-se que se montanha não vai até Maomé, Maomé vai à montanha. Não podendo eu ir até ela, trouxe a Serra Azul encantada até mim, através das lentes poderosas de um binóculo. Através da imaginação, percorri as veredas de mocó, desbravei suas furnas, escalei os paredões de arenito, contornei as macambiras, colhi araticuns e coroatás, procurei as boticas de ouro dos jesuítas, finquei uma bandeira no seu cume... E me cansei de tão exaustivas atividades.

domingo, 22 de janeiro de 2012

DEPOIMENTO DO DR. ITAMAR ABREU COSTA

O médico e intelectual Itamar Abreu Costa, em seu consultório no Ita'cor


Gregório de Moraes, Olavo Pereira da Silva Filho, Elmar Carvalho, Itamar Abreu Costa, Pedro Costa e José Fortes Filho (sentado) 
Dia 7 de dezembro de 2011, estou completando 34 anos de formado em Medicina.
A Turma de 1977 da Faculdade de Medicina da UFPa, ao comemorar mais um Aniversário, não devem deixar de pensar na situação caótica da assistência médica no nosso país.
Governos entram e governos saem e quase nada muda. Filas e mais filas, escândalos, desvio dos recursos destinados à asssistência Médica.
O Brasil é um país continental e é quase impossível de ser administrado, principalmente enquanto estiver sendo dado oportunidade de rapôsas(pessoas desornestas), tomarem de conta do galinheiro(dos recursos destinados à assistência à saúde).
Espero que alguma coisa possa acontecer de bom, e , que as novas gerações de médicos, deixem de assistir as cenas grotescas que assistimos nos diversos serviços médicos espalhados pelo nosso Brasil.
Formado em Medicina, já havia obtido classificação para fazer o Curso de formação de Cardiologista do Hospital da Beneficênça Portuguesa em São Paulo, no meu caso Equipe do Prof. Dr. E.J ZERBINI.
Em Janeiro de 1977, criou-se em Belém uma verdadeira escola de cardiologia(Jovens cardiologistas: Dilce Léa, Paulo Fernandes, Landry, Cláudio Moura e AARÃO SERRUYA), Angiologista(Chiquinho e Cascaes) e o grande cirurgião geral Vitor Moutinho. Alugaram o Hospital Anchieta que ficava na Avenida Governador José Malcher. Fizeram seleção para sextanista da UFPa, isto mudou uma história "a minha".
Fiquei seis (6) meses em Belém e o último semestre no Hospital Matarazzo em São Paulo, no Serviço da AngioCardiologia do Professor Quintiliano Hugo de Mesquita.
Em São Paulo, me incorporei ao Serviço do Médico Paraense com decendencia gregaTeofanis Kontatidinis(Hemodinamocista de Scoll).
O grego me orientou e me guiou, estágio no Instituto Dante Pazzanesi de cardiologia (Radiologia Professor Hortêncio de Medeiros Sobrinho e Eletrocardoigrafia Professora Maria Helena).
Em 1978, me incorporei ao serviço de Cardiologia do Hospital da Beneficênça Portuguesa em São Paulo, Equipe do Prof.Dr.E.J.Zerbini, foram 2 anos e meio de muito estudo e participação em cursos na capital Paulista, ganhei a confiança do grande "Mestre" o Pioneiro do transplante de Coração na América do Latina.
Em julho de 1980, resolvi retornar ao Piauí, já são 31 anos de dedicação aos corações dos meus irmãos do estado e visinhos, tenho plena certeza que tenho tentado fazer o melhor que posso na minha area de atuação.
Construi um grande familia e ergui um belissimo lar tendo edilane como companheira, Patricia, Ilanne, Lhoanna e agora Lana para meu coração ocupar.
Minha esposa é a grande administradora de toda a obra física e espiritual do Hospital Itacor.
Meus ´pais e sogros são e foram os meus pilares de sustentação.
Meus amigos (que não são poucos) e meus assistidos (que também não são poucos e todos amigos), os colegas Médicos que trabalham comigo e são todos cúmplices deste desenvolvimento.
À minha querida vovó JOANA ROSA( Deus está com ela desde primeiro de novembro de 2010), enquanto existiu me encheu de cheiros, cheiros e mais cheiros ,pensamentos bons e principalmente amar ao próximo.
Meus irmãos, irmã, cunhado, cunhadas, sobrinhos, sobrinhas , afilhados, compadres e comadres, tios e tias e afilhadas e colaboradores do Itacor a  certeza que serei sempre grato e presente com vocês em qualquer situação.
A meu bom Deus!, à Santa Joana Dárc, Santo Agostinho, Santo Antonio, Santa Ernestina e a Nossa Senhoara do Vaqueiro, venho pedir sempre proteção e que minha estrada seja sempre bem iluminada e segura com as suas bençãos
obrigado!!!!!

sábado, 21 de janeiro de 2012

MANAUS, A CAPITAL DO SUJO


JOÃO PINTO

Amigo internauta, um texto para se pensar a capital do
Amazonas, que pode ser também a sua onde mora.
JP

É assim a visão quase romântica que se tem dela. Mas, por trás dessa sujeira,
sai o rosto dócil do manauara, que me parece perdeu a essência de ver sua cidade
ao transitar entre caixas de papelões, sacos de lixo, bosta de cães, o óleo
de odor insuportável que vem das batatas ou bananas, ou dos jaraquis. Que
traz a febre cancerígena oculta. Ou entre os vendedores nas calçadas, os donos
com o alvará do gestor.

Se você anda pelo centro ou, na periferia dela, o camelô te sufoca com
os espaços, com os badulaques da China. Quem mora num espaço, que
aceita a sujeira, acaba perdendo a capacidade de indignar-se.
O manauara não só aceita a condição como contribui como agente que suja.
Perdão apenas para os que não sujam.

E parece que esse lado porco da cidade se acentua mais no inverno. O
gestor nunca aparece com os garis. Com o inverno o casario de Manaus
fica mais doentio com as paredes enegrecidas e os telhados cheio de lodo
e poeira causado pela umidade. Os esgotos, meu Deus, que a gente tenha
sorte de não atolar o pé neles. Quem anda de carro, fecha os vidros, pouco
tem interesse pela paisagem. Os ônibus desceram do céu com a carga gé-
tica lotada de passageiros invisíveis, aqui também há sujeira e demora, ou
raiva.  

Estou farto de ser manauara adotado. Já moro mais 20 anos no Manoa. Ao
lado de casa tem um beco que, de manhã espio do meu muro o matagal que
oscila o pigmento das folhas com a maior paciência e muito lixo que os próprios
moradores desovam sem piedade.

Mas, continuo a dizer, quem convive com o lixo um dia pode acordar
e protestar. Deixar de sujar e culpar quem suja. Voltar a artilharia contra
o mal gestor que nunca anda pelas bibocas da sua cidade. Só para enganar
os tolos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

FLAGRANTES & INSIGHTS


MANEQUIM DESPUDORADO

Elmar Carvalho

Na vitrina da butique, vi o manequim com uma tarja negra de plástico sobre os seios e outra sobre o sexo.
Ante tamanho pudor e autocensura da loja, fiquei a pensar que o sexo da boneca plástica teria o mesmo designe, textura e detalhes de uma genitália feminina de verdade.
Ou será se o tapa-sexo seria um novo modelo de biquine?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

DIÁRIO INCONTÍNUO

Mário Faustino


19 de janeiro

O POETA WALTER LIMA

Elmar Carvalho

Quando eu estava atravessando um grande lençol de areia, no percurso que vai da cidade de Jijoca para a vila de Jericoacoara, com o veículo devidamente tracionado, e imprimindo-lhe a velocidade adequada à topografia da trilha, meu celular tocou. Pedi a minha filha Elmara que o atendesse e explicasse ao responsável pela ligação que eu não poderia atendê-lo, em virtude dessa circunstância, até porque eu já atolara o carro anteriormente, quando me descuidei, e não adotei a velocidade correta. Era o poeta Walter Lima quem ligava, de São Paulo, onde trabalha. Para me justificar, mandei-lhe um e-mail, no qual, como prova, pedia que ele lesse uma matéria sobre essa aventura, que publicara na internet. Em sua resposta, além de aceitar as minhas exculpas, mandou-me um poema recente, que já postei em meu blog.

Faz alguns anos que conheço o poeta Walter Lima. Nascido em Altos, veio cedo para Teresina, onde morou durante vários anos. Além de ser contador (da contabilidade, e não de conversa fiada ou de estória de trancoso), fazia serviços de revisão gramatical, mormente em obras literárias. Foi nesta última condição que travei relações de amizade com ele. Prestou-me serviços de revisão em alguns de meus textos e opúsculos, sobretudo em meu livro Lira dos Cinqüentanos, que passou pela sua chancela gramatical. Conversávamos sobre literatura. Logo constatei que era dado a leituras criteriosas, atentas, seletivas.

Pude perceber que ele lia com cuidado, ruminando o que degustava, sem pressa e sem afoitezas; antes, fazendo reflexões sobre a linguagem e estilística do autor. Era familiarizado com os clássicos da literatura brasileira, e com as obras seminais da literatura feita no Piauí. Entretanto, em virtude da necessidade de uma melhor perspectiva em sua vida profissional, teve que se mudar para São Paulo, onde hoje exerce suas atividades contábeis, mas sem se desligar de seu compromisso com a literatura, seja como leitor exigente, seja como homem de letras, senhor de seu itinerário poético.

Com o passar do tempo, passou a mostrar-me as suas produções poéticas. São textos sintéticos, em que, por vezes, rompe com a sintaxe tradicional, com o objetivo de alcançar uma maior densidade e fluidez. Contudo, não abandonou as lições da tradição poética ocidental, e, portanto, segue uma linha também discursiva e metafórica, porém desdenhando os lugares comuns, as imagens demasiado exploradas.

Admirador confesso de Mário Faustino, creio que ele vem desenvolvendo uma poética algo semelhante ao que Faustino pretendia fazer, e ainda esboçou. Um poema longo, um tanto fragmentário, composto de sucessivas unidades, elaboradas ao sabor dos acontecimentos pessoais, sociais, culturais ou históricos, que lhe impulsionam a criatividade. Entretanto, como dito, não aboliu os recursos discursivos; antes os adequou ao seu estilo e ao que pretende, em sua luta com as palavras. Portanto, absorveu as lições dos grandes mestres – do passado mais longínquo e da contemporaneidade – porém colocando nas suas produções a sua marca pessoal, a sua individualidade.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

QUATRO POETAS DO PIAUÍ


ORAÇÃO PARA INVOCAR AS QUE NÃO VIERAM

H. Dobal

Venham a mim todas as que não me quiseram,
todas as que deixaram de conhecer, no sentido bíblico,
um homem competente não só na palavra amor
mas também nos carinhos mais fundos.

Venham todas:
as que morreram,
as que engordaram,
as que se enterraram
na rotina dos casamentos.
Venham todas as que o destino não quis.

Extraído de LB – Revista da Literatura Brasileira, nº 6