quarta-feira, 24 de outubro de 2012

FILHOS – DISCIPLINA E EXEMPLO




24 de outubro   Diário Incontínuo

FILHOS – DISCIPLINA E EXEMPLO

Elmar Carvalho

Tempos atrás, foi exibido em reportagem televisiva um bandido a ensinar seu filho, ainda uma criança, a manejar potente arma de fogo. Se alguns mestres e psicólogos não acham recomendável as crianças receberem de presente armas de brinquedo, o que não diriam das lições ministradas pelo fora da lei a seu filho menor... Outros asseveram que um infante entende muito bem que um revólver de brinquedo é apenas um simulacro para sua diversão, e jamais confundiriam o seu uso lúdico com o de um de verdade. Entendo que outros brinquedos, representando coisas inofensivas e boas, seriam mais apropriados. Ao menos não suscitariam dúvidas ou polêmicas.

Recentemente uma rede de televisão mostrou um casal de assaltantes, com três filhos menores, em pleno “trabalho”. A mulher, com um bebê de colo, fazia a varredura visual, para ver se havia alguém por perto ou se aproximando. Depois, o seu companheiro quebrava o vidro do automóvel e retirava objetos do veículo. O mais triste e chocante é que depois esse casal de marginais dançou na rua, comemorando a façanha, com dois pequenos lhes acompanhando a dança, como se estivessem comemorando importante triunfo. Que lição, que belo exemplo esse casal não estaria dando a seus filhos!?

Muitos entendem que a disciplina dos filhos afrouxou nos dias atuais, em virtude de que muitas famílias são constituídas por pai e mãe que trabalham fora de casa, deixando os filhos aos cuidados de outrem (avó ou empregada), que por comodismo, descaso ou negligência não se empenharia em bem educá-los, deixando-os à vontade para fazer o que bem quisessem. Desse modo, as pequenas infrações comportamentais, os pequenos atos infracionais não seriam repreendidos, e os pequenos iriam num crescendo, como bolas de neves, cometendo cada vez mais e maiores indisciplinas, até não aceitarem mais limites ou regras.

Pelo que tenho lido, visto e meditado, o ser humano deve ser educado e disciplinado desde bem jovem, pelo exemplo, pela palavra e pelas atitudes dos pais, com a colaboração da escola e de outros segmentos organizados da sociedade. Quando os jovens “engrossam o cangote”, e já se acostumaram a fazer o que bem entendem, sem regras e sem limites, dificilmente aceitarão que se lhes imponham regras e freios. E se, além dessa falta de limites e disciplina, já forem usuários de drogas, a situação será bem mais problemática, e mesmo tormentosa para a família e para a sociedade, por motivos que todos sabemos, sobretudo pelo cometimento de atos infracionais correspondentes a furtos ou roubos, para aquisição de tóxico, de que se tornaram dependentes.

Outrora, o furto era quase uma arte. Tanto que passou a ser chamado de gatunagem, sendo, portanto, o larápio comparado a um gato, pela sua arte de se camuflar, em quase perfeito mimetismo; pela sua habilidade em pisar de forma macia, quase como se levitasse em solitário balé; pela sua maneira de se esgueirar, de modo sutil, tal como se fora uma sombra ou um fantasma. Tudo era feito às ocultas, e geralmente sem violência, com engenho e astúcia, quase diria arte. O ladrão tinha vergonha, e por isso escondia sua atividade de sua família, de seus filhos, e até de seus amigos.

Hoje, não. Hoje o bandido comete os seus roubos e furtos em plena luz do dia, nas agências bancárias, em casas comerciais, nas praças e nas ruas, de forma insolente, desabrida, sem nenhum resquício de pudor. São ousados, e as câmeras já não os detêm ou inibem. Às vezes, fazem pose para a filmadora, por deboche ou desafio, ou simplesmente lhes quebram ou lhes colocam uma venda, que impeça a filmagem; ou usam disfarces, como carapuças, máscaras ou capacetes de motociclistas.

Tristes tempos em que um marginal, parecendo ter orgulho dessa condição, ensina um filho pequeno a atirar com uma arma de verdade. Tristes tempos, em que um casal de bandidos comete seus roubos em companhia dos filhos menores, e ainda exibe uma dança comemorativa e triunfal, com a mãe tendo ao colo um bebê, tendo como teatro uma rua. Como Cíceros hodiernos, apenas podemos bradar para nós mesmos: ó tempos, ó costumes...

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