FILHOS – DISCIPLINA E EXEMPLO
Elmar Carvalho
Tempos atrás, foi exibido em reportagem televisiva um
bandido a ensinar seu filho, ainda uma criança, a manejar potente
arma de fogo. Se alguns mestres e psicólogos não acham recomendável
as crianças receberem de presente armas de brinquedo, o que não
diriam das lições ministradas pelo fora da lei a seu filho menor...
Outros asseveram que um infante entende muito bem que um revólver de
brinquedo é apenas um simulacro para sua diversão, e jamais
confundiriam o seu uso lúdico com o de um de verdade. Entendo que
outros brinquedos, representando coisas inofensivas e boas, seriam
mais apropriados. Ao menos não suscitariam dúvidas ou polêmicas.
Recentemente uma rede de televisão mostrou um casal de
assaltantes, com três filhos menores, em pleno “trabalho”. A
mulher, com um bebê de colo, fazia a varredura visual, para ver se
havia alguém por perto ou se aproximando. Depois, o seu companheiro
quebrava o vidro do automóvel e retirava objetos do veículo. O mais
triste e chocante é que depois esse casal de marginais dançou na
rua, comemorando a façanha, com dois pequenos lhes acompanhando a
dança, como se estivessem comemorando importante triunfo. Que lição,
que belo exemplo esse casal não estaria dando a seus filhos!?
Muitos entendem que a disciplina dos filhos afrouxou nos
dias atuais, em virtude de que muitas famílias são constituídas
por pai e mãe que trabalham fora de casa, deixando os filhos aos
cuidados de outrem (avó ou empregada), que por comodismo, descaso ou
negligência não se empenharia em bem educá-los, deixando-os à
vontade para fazer o que bem quisessem. Desse modo, as pequenas
infrações comportamentais, os pequenos atos infracionais não
seriam repreendidos, e os pequenos iriam num crescendo, como bolas de
neves, cometendo cada vez mais e maiores indisciplinas, até não
aceitarem mais limites ou regras.
Pelo que tenho lido, visto e meditado, o ser humano deve
ser educado e disciplinado desde bem jovem, pelo exemplo, pela
palavra e pelas atitudes dos pais, com a colaboração da escola e de
outros segmentos organizados da sociedade. Quando os jovens
“engrossam o cangote”, e já se acostumaram a fazer o que bem
entendem, sem regras e sem limites, dificilmente aceitarão que se
lhes imponham regras e freios. E se, além dessa falta de limites e
disciplina, já forem usuários de drogas, a situação será bem
mais problemática, e mesmo tormentosa para a família e para a
sociedade, por motivos que todos sabemos, sobretudo pelo cometimento
de atos infracionais correspondentes a furtos ou roubos, para
aquisição de tóxico, de que se tornaram dependentes.
Outrora, o furto era quase uma arte. Tanto que passou a
ser chamado de gatunagem, sendo, portanto, o larápio comparado a um
gato, pela sua arte de se camuflar, em quase perfeito mimetismo; pela
sua habilidade em pisar de forma macia, quase como se levitasse em
solitário balé; pela sua maneira de se esgueirar, de modo sutil,
tal como se fora uma sombra ou um fantasma. Tudo era feito às
ocultas, e geralmente sem violência, com engenho e astúcia, quase
diria arte. O ladrão tinha vergonha, e por isso escondia sua
atividade de sua família, de seus filhos, e até de seus amigos.
Hoje, não. Hoje o bandido comete os seus roubos e
furtos em plena luz do dia, nas agências bancárias, em casas
comerciais, nas praças e nas ruas, de forma insolente, desabrida,
sem nenhum resquício de pudor. São ousados, e as câmeras já não
os detêm ou inibem. Às vezes, fazem pose para a filmadora, por
deboche ou desafio, ou simplesmente lhes quebram ou lhes colocam uma
venda, que impeça a filmagem; ou usam disfarces, como carapuças,
máscaras ou capacetes de motociclistas.
Tristes tempos em que um marginal, parecendo ter orgulho
dessa condição, ensina um filho pequeno a atirar com uma arma de
verdade. Tristes tempos, em que um casal de bandidos comete seus
roubos em companhia dos filhos menores, e ainda exibe uma dança
comemorativa e triunfal, com a mãe tendo ao colo um bebê, tendo
como teatro uma rua. Como Cíceros hodiernos, apenas podemos bradar
para nós mesmos: ó tempos, ó costumes...
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