Amigo
Elmar:
Termino, agora
mesmo, a leitura de sua crônica-memória-elegia à sua
senhora mãe, Rosália. Meus olhos estão marejados (como
diria meu pai) de lágrimas, lágrimas que brotam da
comunhão de pensamento com as palavras de seu belíssimo texto,
impecável texto. Só os poetas sabem colocar no
papel tais delicados modos de falar do
maior ente querido de suas vidas.
Você, que é poeta dos bons que o Piauí tem
dado, tem, além disso, alma de poeta (sentimento que não
é apanágio de todos os poetas, infelizmente) e é um
cavalheiro, essa espécie rara de espírito cultivado no
trato social e intelectual, que não aparece mais tão
amiúde na sociedade massificada de hoje. Você, Elmar,
repito, escreveu este texto com um único
recurso: o do sentimento filial, proveniente do que os
simbolistas chamavam de “eu-profundo,” sentimento universal
de todos os bons filhos que habitam na Terra.
Sua
canção de amor à sua mãe Rosália tem a serenidade, a
doçura, a dignidade e o respeito oriundos do próprio seio materno
e de natureza angelical. Há um algo da
alma dos poetas que escapam à apreensão humana, algo não
dito, expresso no silêncio sob a aparência da
linguagem. Esse não dito é que torna o texto tão
lírico quanto a alma do poeta.
Toda
a sua subjetividade foi nele injetada em profusão, aos
borbotões mas sob uma aparente contenção, sem
grito, sem espalhafato nem desespero.
Isso, quiçá, seja fruto de
sua equilibrada maneira de
conduzir a vida e a ação do homem que julga e discerne os erros e
os acertos do ser humano manifestados em todas as suas
nuanças.
Tenho a
sensação de que você se jogou por inteiro na
construção de suas ideias e
sentimentos diante da inexorável e
implacável condição da finitude dos
seres. Na realidade, não há filho na
Terra dos homens que não aspire à
imortalidade de sua própria mãe. Ninguém o declara
abertamente, mas nem tudo se pode afirmar abertamente.
Tudo passa pela intermediação do silêncio das palavras, da
formalização do discurso lírico que nunca atinge
a perfeição por mais talentoso que seja o artista. Apenas nos
podemos acercar da Perfeição Artística, apenas
podemos a ela aspirar por postulados simbolistas.
Tudo
no seu texto tem o seu lugar certo, na
quantidade certa, na exatidão de afirmar, pela
memória dolorida, entrecortada da saudade, as
memórias que vêm da infância, quando sua
mãezinha, pela primeira vez na vida, o acudiu nos
braços e no regaço do seu amor
divino. Todo amor de mãe é, em essência, divino, competitivo,
em termos humanos e limitados, com o
amor de Maria, Mãe de Cristo, ungida e glorificada ad
aeternum.
Encerro as
minhas lágrimas na escrita destas linhas ditadas pela cumplicidade
da dor e da solidão.
Um
abraço fraterno e os sentimentos meus e de
minha família.
Cunha
e Silva Filho
Meus parabéns ao poeta Elmar Carvalho pelo emocionante "Retrato de Minha Mãe". Difícil lê-lo e não se emocionar. A história de Dona Rosália, belíssima, diga-se de passagem, em muito se parece com a de minha mãe, por isso me emocionou profundamente. Que Deus, nas suaves lembranças de Dona Rosália, possa confortar a todos nesse momento de tanta saudade. Grande abraço.
ResponderExcluirObrigado, amigo Jardiel, por suas palavras de conforto e solidariedade.
ResponderExcluirAbraço,
Elmar