sexta-feira, 3 de maio de 2013

Comentário ao texto Retrato de Minha Mãe


               

                        Amigo Elmar:

                 Termino,  agora mesmo,  a leitura de sua crônica-memória-elegia à sua senhora mãe, Rosália.  Meus olhos estão marejados (como diria meu pai) de lágrimas, lágrimas que  brotam da comunhão de pensamento com as palavras de seu belíssimo texto, impecável texto. Só os poetas  sabem colocar no papel  tais delicados modos de  falar do maior  ente querido  de suas vidas.
              Você, que é poeta dos bons que o Piauí tem dado, tem, além disso,  alma de poeta (sentimento que  não é apanágio de todos  os poetas, infelizmente) e é um cavalheiro, essa espécie rara de  espírito cultivado no trato social e intelectual,  que não aparece mais tão  amiúde na sociedade massificada de hoje. Você, Elmar, repito,  escreveu este texto com  um único recurso: o do sentimento  filial, proveniente do que os simbolistas chamavam de “eu-profundo,” sentimento universal de todos os bons filhos que habitam  na Terra.
           Sua canção de amor à  sua mãe Rosália tem a serenidade, a doçura, a dignidade e o respeito oriundos do próprio seio  materno e de natureza  angelical. Há um  algo  da alma dos poetas que escapam  à apreensão humana, algo não dito, expresso no silêncio  sob a aparência da linguagem. Esse não dito  é que torna o texto tão lírico  quanto a alma do  poeta.
         Toda a sua subjetividade foi nele injetada em profusão,   aos borbotões mas sob  uma aparente contenção,  sem grito, sem  espalhafato nem  desespero. Isso,  quiçá, seja fruto de sua   equilibrada  maneira  de conduzir a vida e a ação do homem que julga e discerne os erros e os acertos  do ser humano manifestados em todas as suas nuanças.
         Tenho  a sensação de que você se jogou  por inteiro na construção  de suas  ideias e sentimentos  diante  da inexorável e implacável  condição da  finitude dos seres.  Na realidade, não há filho  na Terra  dos homens que não  aspire à imortalidade de sua própria mãe. Ninguém o  declara abertamente, mas nem tudo se pode afirmar  abertamente. Tudo passa pela intermediação do silêncio das palavras, da formalização   do discurso lírico que nunca  atinge a perfeição por mais talentoso que seja o artista. Apenas nos podemos  acercar  da Perfeição Artística, apenas podemos  a ela aspirar por postulados  simbolistas.
       Tudo no seu texto  tem o seu lugar certo,  na quantidade certa, na exatidão  de afirmar,  pela memória dolorida, entrecortada  da saudade, as memórias  que vêm da infância,  quando sua mãezinha, pela primeira vez na vida,   o acudiu nos braços e no  regaço   do  seu amor divino. Todo amor de mãe é, em essência,  divino,  competitivo, em termos humanos e limitados,   com  o amor  de Maria, Mãe de Cristo, ungida e glorificada ad aeternum.
      Encerro  as minhas lágrimas na escrita destas linhas ditadas pela cumplicidade da dor  e da solidão.
     Um abraço  fraterno  e os sentimentos meus e de minha família.
      
                           Cunha e Silva Filho

2 comentários:

  1. Meus parabéns ao poeta Elmar Carvalho pelo emocionante "Retrato de Minha Mãe". Difícil lê-lo e não se emocionar. A história de Dona Rosália, belíssima, diga-se de passagem, em muito se parece com a de minha mãe, por isso me emocionou profundamente. Que Deus, nas suaves lembranças de Dona Rosália, possa confortar a todos nesse momento de tanta saudade. Grande abraço.

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  2. Obrigado, amigo Jardiel, por suas palavras de conforto e solidariedade.
    Abraço,
    Elmar

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