quinta-feira, 27 de junho de 2013

Discurso de recepção a Homero Ferreira Castelo Branco Neto (*)


Senhores e senhoras.

I. IMORTALIDADE ACADÊMICA

Segundo Heródoto – considerado o pai da História, o numeroso exército persa possuía uma tropa de infantaria pesada composta por dez mil homens, que avançava à frente, nos combates. Essa formação era permanente, de forma que durante as batalhas, cada membro morto ou gravemente ferido era imediatamente recolhido pelos companheiros e substituído por outro, entre os que estavam na retaguarda. Então, essa tropa de elite sempre avançava em combate com o mesmo número inicial. Dessa forma, se morresse um combatente era substituído por outro combatente; se morressem dois combatentes eram esses substituídos por outros dois combatentes, e assim, sucessivamente, de forma que a infantaria persa nunca tinha mais, nem menos de dez mil integrantes. Daí ganharam a fama de imortais, ou imorredouros, na tradução literal do grego, porque o inimigo tinha a sensação de que realmente o eram, vez que nunca diminuíam.
Assim, também, são as academias de letras. Fundadas no modelo francês têm a formação permanente de quarenta membros. E toda vez que falece um, sua vaga é preenchida por outro. Dessa forma, nunca aumentam nem diminuem. Pelas mesmas razões da infantaria persa, também seus membros são cognominados de imortais. Imortais na permanente composição da casa, na lembrança dos pósteros e na perenidade da obra, é o que se deseja.
A imortalidade foi sempre objeto de fascínio do homem, desde o começo dos tempos, constituindo-se num dos mais profundos desejos humanos. No fabrico do elixir da longa vida se bateram os mais antigos e ousados alquimistas do passado. Na busca pela fonte da juventude os homens foram capazes de lutas sangrentas e de proezas mirabolantes. Tudo em vão, pois já trazemos ao nascer a certeza da morte: morte física, biológica.
Dizia com ironia o argentino Jorge Luís Borges: “Todos os caminhos levam à morte. Perca-se”.
Para o velho bardo Manuel Bandeira: “Duas vezes se morre: primeiro na carne, depois no nome”.
Os mais conscientes dessa condição humana, conformaram-se com a entrega do corpo à terra e foram buscar a imortalidade da alma. Daí nasceram as religiões, pregando a vida eterna depois dessa passagem terrena.
A imortalidade acadêmica tem sentido diverso. Quando se diz que os acadêmicos são imortais, evidentemente, não se está dizendo que são imorríveis ou imorredouros, o que seria até interessante. Mas que possuem vitaliciedade e que serão lembrados para sempre, na forma regimental, pelos futuros ocupantes de sua cadeira; que tiveram o reconhecimento público de sua obra pelos contemporâneos e que terão as suas efemérides lembradas pelos demais acadêmicos; enfim, que foram pessoas úteis à sua comunidade e cujos nomes merecem ser lembrado pelos pósteros.
II. AS ACADEMIAS
Mas para que servem as academias? Essa é uma indagação que, vez ou outra se ouve. Existem aqueles que são acadêmicos até demais e, às vezes, se tornam inconvenientes, se insinuando em vaga inexistente. Outros, que de tão antiacadêmicos, vivem desfazendo das academias.
Na verdade, o fato de ser acadêmico não faz ninguém escrever melhor. Todavia, entre o critério de escolha dos novos acadêmicos está o de se eleger aqueles que bem escrevem. E em assim sendo, as academias são em si um conjunto de intelectuais que prezam a arte do bem escrever. Na verdade, se as academias não tivessem outra utilidade, justificaria a sua existência a reunião de escritores e a troca de informações. É um ambiente propício à discussão intelectual e geração de ideias, à divulgação das letras e ao desenvolvimento da literatura e da historiografia.
III. A APL
A nossa academia, fundada há quase um século, tem primado pelo cultivo do idioma pátrio e pelo desenvolvimento da literatura piauiense. Fundada por uma geração brilhante, cujo pensamento intelectual plasmado na Escola do Recife, foi alimentado pelo idealismo positivista de Augusto Comte(1798 – 1857), pela pregação agnóstica e pelo cientificismo positivista de Haeckel(1834 – 1919) e Spencer(1820 – 1903). Foram líderes dessa geração, entre outros, Anísio de Abreu, grande tribuno parlamentar, Abdias Neves, Clodoaldo Freitas e Higino Cunha: o primeiro faleceu antes da fundação da Academia, sendo eleito patrono de uma Cadeira, e o segundo não está entre os dez fundadores porque se encontrava no Rio de Janeiro, no exercício do mandato de senador da República, mas aderiu à mesma imediatamente, tomando posse na Cadeira 11.
Durante todos esses anos a academia nunca se afastou dos ideais de seus fundadores, pugnando diuturnamente pelo desenvolvimento da literatura e da historiografia piauiense. Nenhum grande projeto intelectual, projeto de qualidade, foi desenvolvido no Piauí, sem a participação efetiva da Academia Piauiense de Letras. Se voltarmos as vistas para o passado e verificarmos a fundação da velha Faculdade de Direito do Piauí, da Faculdade de Filosofia, de Odontologia, de Medicina e, mesmo da Universidade Federal do Piauí, vamos ver a participação efetiva de muitos acadêmicos.
Na produção literária piauiense, mercê da carência de recursos financeiros, a Academia foi sempre estrela de primeira grandeza, para isso contando com importantes parceiros, que os concitou a grandes empreendimentos. Com o Governo do Estado editou importantes obras; o mesmo ocorreu, em épocas diversas, com o Município de Teresina, com o Senado Federal, com a Universidade Federal do Piauí, com o Banco do Brasil e com o Banco do Nordeste, para lembrar apenas as parcerias mais expressivas.
É importante ressaltar o memorável Plano Editorial do Piauí, que notabilizou o primeiro governo de Alberto Silva, no início da década de setenta, promovendo o resgate de importantes obras e divulgando outras novas. Foram 37 publicações, numa época em que era difícil publicar um livro. Pois, à frente desse grande empreendimento literário brilharam os nomes de Arimatéa Tito Filho, estimado e saudoso presidente da Casa de Lucídio Freitas; de Deoclécio Dantas e Armando Madeira Basto, mais tarde e em homenagem à sua determinação nesse empreendimento, também fizeram-se membros, ao lado do próprio governador Alberto Silva, de nossa agremiação literária.
Outro grande momento literário, um como sucedâneo do outro, representando, ambos, em seu conjunto, uma verdadeira revolução intelectual no Piauí, foi o Projeto Petrônio Portella, no início da década de oitenta, no governo Hugo Napoleão. Mais uma vez brilhou a estrela de Arimatéa Tito Filho, ao lado do secretário de cultura Jesualdo Cavalcanti, que o concebeu, do médico Clidenor Freitas Santos, do professor Benjamim do Rego Monteiro Neto e do governador Hugo Napoleão, todos integrantes da Casa de Lucídio Freitas. Portanto, esses nomes devem ser guardados pelo povo do Piauí.
A Academia mantém, desde sua fundação, a sua revista literária, já na 70ª edição. Desde que assumimos a direção do Sodalício demos especial atenção à atualização dessa revista, já tendo publicado sete edições e encontrando-se com mais duas em fase de preparo, para fechar esse ciclo com a edição relativa ao corrente ano, de forma que publicaremos dez edições, atualizando, assim, essa importante revista literária piauiense.
Recentemente, em parceria com o Governo do Estado, a Academia deu à estampa a Coleção “Grandes Textos”, divulgando nove importantes obras de cunho histórico e literário. Publicou algumas obras avulsas e deu início a uma importante coleção literária. Trata-se da Coleção “Centenário”, visando comemorar o primeiro século de fundação da Academia. Foram publicados os três primeiros números, dois em convênio com o Senado Federal e um com a Universidade Federal do Piauí. Dando prosseguimento a essa iniciativa, mais seis obras literárias se encontram no prelo, duas em preparo e doze foram, recentemente, aprovadas pelo Conselho do Sistema de Incentivo Estadual à Cultura(SIEC). É nossa intenção que esse seja o maior empreendimento literário do Estado do Piauí, superando os dois anteriores, com a edição de mais de sessenta obras que forem julgadas importantes para a compreensão da realidade piauiense. Será o ponto culminante dos festejos com que a intelectualidade piauiense comemorará o centenário de fundação da Academia. Para isso desejamos contar com o apoio das instituições públicas e da iniciativa privada.
IV. OS CASTELO BRANCO
Na Academia, para o bom êxito deste trabalho teremos de contar com o apoio e a colaboração de todos os acadêmicos. Nesse aspecto, a eleição de Homero Ferreira Castelo Branco Neto é um alento, pois se trata de um escritor admirável e um intelectual engajado e muito determinado em seus afazeres. Homero costuma dar tudo de si em cada coisa que faz, por mais que pareçam pequenas. Nesse aspecto segue à risca a lição do bardo Fernando Pessoa:
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive”.
Aliás, eu não diria que Homero chega tarde, mas chega na hora certa. “Tudo neste mundo tem seu tempo; cada coisa tem sua ocasião”. Está no Eclesiastes(31-8). Para Homero ainda é tempo de plantar, de construir, de se alegrar, de abraçar e de amar. A sua eleição foi consagradora, por unanimidade, dizendo, assim, a Casa, da satisfação em recebê-lo.
Meu caro Homero, esta Casa é vossa, seus familiares ajudaram a construí-la. A família Castelo Branco tem profunda ligação com a assim cognominada “Casa de Lucídio Freitas”, ele próprio aparentado aos Castelo Branco. A sua família deu uma enorme contribuição à literatura piauiense.
Foram patronos de cadeiras na Academia Piauiense de Letras: Hermínio de Carvalho Castelo Branco(2), Joaquim Sampaio Castelo Branco(3), Teodoro de Carvalho e Silva Castelo Branco(6), Antônio Borges Leal Castelo Branco(15), Miguel de Souza Borges Leal Castelo Branco(22), Simplício Coelho de Resende(26) e Heitor Castelo Branco(37). A grande ausência foi Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco, autor de O ímpio confundido(1837) e A criação universal(1836).
Tiveram ou têm assento nas diversas cadeiras da Academia: Fenelon Ferreira Castelo Branco, um dos fundadores(3), Cristino Castelo Branco(15), Carlos Castelo Branco(15), Renato Pires Castelo Branco(19), Emília Castelo Branco de Carvalho(37), Emília Leite Castelo Branco(37), e na atualidade, Maria Nerina Pessoa Castelo Branco(35) e Heitor Castelo Branco Filho(37), para mencionar apenas aqueles que trazem consigo o nome da família.
A Academia ainda abrigou ou abriga outros descendentes de Dom Francisco da Cunha Castelo Branco, tais como: João Pinheiro(2), Breno Pinheiro(8), Celso Pinheiro(10), Celso Pinheiro Filho(8), Benedito Martins Napoleão do Rego(11), Aluízio Napoleão de Freitas Rego(11), Benjamin do Rego Monteiro Neto(15), Jacob Manoel Gayoso e Almendra(20), Gerardo Majela Fortes Vasconcelos(22), José de Arimatéa Tito(29), José de Arimatéa Tito Filho(22), Hugo Napoleão do Rêgo Neto (9), Alcenor Rodrigues Candeira Filho (19), Magno Pires Alves Filho(26) e Afonso Ligório Pires de Carvalho(29), para citar apenas os descendentes em linha direta.
Portanto, meu caro Homero, a sua família é quase dona da Casa de Lucídio Freitas. E isto ocorreu porque sempre prezaram o estudo e cultivaram as boas letras.
V. O NOVO ACADÊMICO
V.a. NASCIMENTO
O novel acadêmico Homero Ferreira Castelo Branco Neto, entrou pela vida na cidade de Amarante, barrancas do Parnaíba, terra de grandes paladinos, entre os quais Da Costa e Silva e Odilon Nunes, ilustrados membros de nossa Casa. Foram seus pais, dona Hosana Pontes Castelo Branco e Herbert de Marathaoan Castelo Branco, que ali exercia o cargo de promotor de Justiça, depois sendo juiz de Direito e desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará. Sobre essa época, mais tarde se reportaria o velho pai:
Foi justamente em Amarante, este recanto admirável do Piauí, encravado na confluência dos rios Parnaíba e Canindé, que veio ao mundo, no ano de 1943, meu filho Homero” (Mensagem ao povo de Amarante, 1978).
V.b. FORMAÇÃO
Cedo, porém, Homero deixa a bucólica cidade de Amarante, do “velho monge”, atravessa a Serra da Ibiapaba, das missões jesuíticas, e depois de breve período no interior cearense, vai ter-se na “capital alencarina”, defronte aos verdes mares bravios. Ali cursa, com êxito, as diversas séries dos ensinos Ginasial e Médio, para ingressar no Curso de Economia da Faculdade de Ciências Econômicas e Contábeis da Universidade Federal do Ceará, onde se forma no ano de 1967. Desejando aprimorar os conhecimentos, fez especializações em Monterrey, no México e em Atlanta, nos Estados Unidos da América.
V.c. VIDA PROFISSIONAL
Então, a convite do Prof. Raimundo Nonato Monteiro de Santana, ilustre membro de nossa Casa, regressa ao Piauí, fixando-se na cidade de Teresina, onde se emprega na extinta CODESE(Coordenação de Desenvolvimento Econômico do Piauí), instituição que antecedeu a Fundação Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais do Piauí (CEPRO) e como professor no Liceu Industrial e na Escola Técnica “Leão XIII”. Ainda no campo profissional, exerceu os cargos de diretor do Departamento de Assistência aos Municípios, secretário de Planejamento do Município de Teresina, onde também, por breve período, exerceu o cargo de Prefeito Municipal; em nível estadual, exerceu ainda os de subsecretário de Planejamento, secretário de Administração, de Fazenda e do Trabalho e Ação social.
V.d. FAMÍLIA
Homero Ferreira Castelo Branco Neto é casado com dona Hilma Martins Castelo Branco, de tradicional família sul-piauiense, com quem tem três filhos: Geraldo (administrador), Verônica(contadora) e Hosana Karinne(médica); o casal tem, também, três netos: Stelios, Stella Hilma e Nícolas.
V.e. O POLITICO
Com vocação política, Homero Castelo Branco ingressou no movimento estudantil ao tempo dos estudos no Ceará, sendo eleito e assumindo os cargos de presidente do Diretório Acadêmico “Nogueira de Paula”, da Faculdade de Ciências Econômicas, e presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Ceará(DCE/UFCE).
Portanto, com essa imensa vontade de servir, não tardaria a ingressar na política partidária. Disputou seu primeiro mandato de deputado estadual no pleito travado em 1974, integrando a Assembleia Legislativa do Piauí, onde permanece, com breves interregnos, até fevereiro de 2007. Político ativo e irrequieto, durante esses sucessivos mandatos parlamentares, ocupou os cargos de vice-presidente e secretário da mesa diretora, presidente de comissão técnica e relator de várias matérias de interesse do Estado, além de cofundador de partido político e líder de bancada(PFL).
Homero Castelo Branco colocou sempre seus mandatos a serviço do povo, pugnando pelas grandes causas. Por essa razão, teve o reconhecimento popular, consubstanciado nas sucessivas reeleições, e das diversas organizações e instituições estaduais, nacionais e até internacionais. A cidadania honorária lhe foi outorgada pelo povo, através de seus representantes, em 36 municípios piauienses e em Monterrey, no México. Foi condecorado em Nova Leon, no México, e em Amarante, cidade homônima e patrona de sua terra natal, em Portugal.
E o reconhecimento público não pára por aí. Tem as seguintes medalhas: do Mérito Legislativo, outorgada pela Assembleia Legislativa do Piauí; do Mérito Municipalista, pela Associação Piauiense de Municípios; de Honra ao Mérito “Heróis do Jenipapo”, pela municipalidade de Campo Maior; do Mérito “Conselheiro José Antônio Saraiva”, pela Prefeitura Municipal de Teresina; do Mérito Legislativo, pela Câmara Municipal de Teresina; além de várias outras condecorações outorgadas por instituições culturais e lojas maçônicas, todas em forma de reconhecimento ao seu trabalho em benefício das comunidades e das instituições que representou.
E toda essa atividade política, meu caro Homero? “Valeu a pena?”.
..................? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena” – responde Fernando Pessoa, acrescentando:
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor”.
Ouçamos o experiente Homero Castelo Branco, político tarimbado, que foi muito além do Bojador:
Cedo me deixei dominar pela mais exigente e absorvedora das amantes que o homem pode portar: a política. (...).
A política tenho como dona de minha cabeça. Chegou como festa – paixão e como paixão sempre recomeço. (...).
Hoje ando devagar. Tive pressa. Chorei demais por tantas topadas. Mas a política continua-me seduzindo, apesar de ter a certeza de que muito pouco sei dessa divindade. Ela é muito sedutora e nunca a esquecerei. Digo e ela não acredita. É minha amada e amante de todos. Ela é bonita demais. Aprendi a amá-la. Agora pressinto que vai abandonando-me. Meu Deus, logo agora! Ela é parte de minha vida, de minha alma, de meus nervos e de meu sangue!” (CASTELO BRANCO, Homero. Sentimentos embalsamados. Teresina: Gráfica do Povo, 2013. p.43/44).
Portanto, valeu a pena.
V.f. O INTELECTUAL
Mas o que justifica a eleição consagradora de Homero Ferreira Castelo Branco Neto, para a Academia Piauiense de Letras? Sem sombra de dúvidas, é a sua intensa atividade intelectual. De fato, a sua atuação parlamentar esteve também a serviço da cultura. Concomitante à militância política andou publicando alguns trabalhos interessantes, o que se intensificou depois dos mandatos parlamentares. Podemos dizer assim, que o Piauí perdeu um parlamentar atuante e ganhou um escritor produtivo. Em face dessa intensa produção intelectual, pertence ao Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e a quatro academias regionais.
Homero Castelo Branco é autor das seguintes obras: Histórias do velho Homero, onde relembra a personalidade de seu avô paterno; Auta Rosa, resgatando uma personagem mítica de Amarante, a sempre lembrada terra natal, cujo laço nunca se quebrou; Padre Marcos, estudo biográfico, o melhor que até aqui se produziu, sobre um dos principias personagens do Piauí na primeira metade do século XIX, o famoso Padre Marcos de Araújo Costa, da Boa Esperança, religioso exemplar e um educador de grandes méritos; e, Alcides – o primeiro filósofo e o último coronel de Barras, tomando por tema o político barrense Alcides do Rego Lages; com saborosas crônicas e uma pitada de humor, traça um painel da cidade de Barras, sua história, suas contendas políticas, enfim, é Barras que surge, além de trazer à baila o fazer político sertanejo.
A divulgação de suas ideias, a análise da conjuntura política, as teses defendidas nos palanques populares e na tribuna parlamentar, ele as resumiu em: Temas de uma intensa vida parlamentar; Planejamento familiar e aborto: uma discussão sem hipocrisia; 100 dias sem rumo; Agente do desenvolvimento; João Paulo II; Do Planalto a Guaribas; Voz do ontem; Grandes civilizações americanas; 2004 – do sonho ao pesadelo; Acredito; Conversas soltas ao vento; Amor & outros males; Anjo ou demônio; Prevenção da cegueira; Ventos imprevisíveis; e, Quando a porca torce o rabo, este último um conjunto de saborosas crônicas
De sua vasta obra desejamos destacar: Sentimentos embalsamados e Ecos de Amarante.
O primeiro é também o mais recente livro do novo acadêmico: Sentimentos embalsamados. Lançado em abril, em comemoração aos seus setenta anos de vida, é um livro que veio para ficar, porque o autor desnudou a sua alma, falando francamente sobre suas forças e suas fraquezas. São livros como esse que ficam, porque acrescentam ao leitor, conforme as mostras delineadas nessa fala. Alguns escrevem memórias, mas poucas, porém, ficam porque a maioria dos escritores esconde os sentimentos, o que não foi o caso de Homero. Sua franqueza e estilo lembram as Memórias, de Humberto de Campos; Minha formação, de Joaquim Nabuco; ou, Confiteor, de Paulo Setúbal. Modesto, Homero Castelo Branco nega ter pretensões literárias, chegando mesmo a afirmar não ser escritor, no que não concordamos. Sentimentos embalsamados é mais do que o desnudamento de uma alma, do que a história viva e empolgante de uma pessoa, resgatando a própria história de uma geração, as impressões de um povo, o drama da alma humana. Homero Castelo Branco é um piauiense genuíno, que ama a sua terra com intensidade, daí os seus sentimentos serem os sentimentos de todos os piauienses. É, também, um observador perspicaz e abalizado protagonista da cena política, razão pela qual suas observações servem de suporte para os historiadores da época contemporânea. Enfim, com olhar percuciente penetra fundo na alma humana, fazendo de suas conclusões um suporte seguro a todas as pessoas inteligentes.

Ecos de Amarante é um belo livro sobre sua cidade e os personagens que a fizeram. É a história romanceada de Amarante, recheada de personagens fictícios e reais, onde a principal protagonista é a própria cidade. De suas páginas pululam políticos, coronéis, fazendeiros, comerciantes, gente simples, pessoas do povo, numa trama entremeada de ficção e realidade, onde vão aparecendo a paisagem local, as ruas, os becos, as praças, os morros, os rios, as fazendas, os sítios, o modo de falar, de ser, as estórias e as histórias do lugar; o resgate dos costumes, das lendas, das cantorias, das modinhas, da dança, das rezas, das “incelenças”, das festas juninas, do folclore, enfim, de personagens esquecidos e da vida política, econômica e social da cidade. O livro traz um vasto painel da Amarante antiga. Aliás, Homero e Amarante sempre protagonizaram uma história de amor. Nas inúmeras campanhas políticas o povo daquela cidade viu nele um intérprete de seus sentimentos e a transformaram em sua base eleitoral.
Juscelino Kubitschek, ex-presidente da República, anotou em um livro de memórias, Meu caminho para Brasília, que nos momentos mais difíceis, quando muitas eram as provações, retornava à sua Diamantina natal e ali, no reencontro com as suas origens, recobrava as energias e retornava mais forte à arena de luta. Parece-me que Homero Castelo Branco pode dizer a mesma coisa com relação à sua Amarante. Pode até cantar com o conterrâneo ilustre, Da Costa e Silva:
A minha terra é um céu, se há um céu sobre a Terra:
É um céu sob outro céu, tão límpido e tão brando,
Que eterno sonho azul parece estar sonhando
Sobre o vale natal, que o seio à luz descerra.”
Ou pode dizer com Fernando Pessoa:

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura... “.

Ele mesmo mesmo diz:
Viajei por muitos países. Conheço uma dúzia de mar. (...).
Vi gruta, nevoeiro, vi tanta coisa bela e doida neste mundo incerto, mas nunca sai de meu coração, Amarante, meu berço, este pedaço de terra no Piauí, feito de esperança, que guarda história, lenda e cantiga. Cidade feita de azul que não desbota, cidade de todos os amantes, de todos os poetas, que ouve queixa e não conta as suas. Que ouve cantiga, viola, prece, desejo e voto. Cidade que festeja iemanjá” (CASTELO BRANCO, Homero. Sentimentos embalsamados. Teresina: Gráfica do Povo, 2013. P.36).
Assim é o amor de Homero por sua Amarante.
Com essas observações, não temos dúvida em afirmar que Homero Ferreira Castelo Branco Neto é um bom escritor, de linguagem simples, concisa, precisa, elegante.
É, também, um conversador admirável, lhano de trato, um gentleman.
Por esses relevos de personalidade, é uma boa aquisição que faz a Casa de Lucídio Freitas. E com muita honra é que o recebo nesta solenidade.
Sede, pois, bem vindo Senhor Homero Castelo Branco, à nossa casa. Ela agora também é vossa.

Muito obrigado.

(*) Discurso de recepção ao Acadêmico Homero Ferreira Castelo Branco Neto, na Cadeira 31 da Academia Piauiense de Letras, proferido pelo acadêmico Reginaldo Miranda, atual presidente da Academia Piauiense de Letras, em 20 de junho de 2013, às vinte horas, no Auditório da OAB/PI.

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