CLIDENOR
DE FREITAS SANTOS
Reginaldo Miranda
Acadêmico e advogado
No ano passado a Academia Piauiense de Letras comemorou
o centenário de nascimento do psiquiatra e acadêmico Clidenor de
Freitas Santos. Naquela oportunidade, designamos o também psiquiatra
e acadêmico Humberto Guimarães para organizar uma obra em homenagem
ao ilustre homem público, obra esta que veio a lume em dezembro do
mesmo ano, sendo lançada dia 15 último, com o título Dom
Clidenor – o último Quixote(Teresina: APL, 2013).
Clidenor de Freitas Santos foi médico, professor,
intelectual e político brasileiro. Nascido em 16 de fevereiro de
1913, na pacata cidade de Miguel Alves, era filho de Raimundo
Rodrigues dos Santos e D. Maria de Freitas Santos.
Desde cedo, em busca de novos horizontes, mudou-se para
a cidade de Teresina, Capital do Estado, onde encetou seus estudos.
Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina do Recife(1936),
especializou-se em Psiquiatria, uma de suas grandes paixões.
De regresso a Teresina, montou consultório médico,
assumiu o antigo Asilo de Alienados, fundou o Sanatório Meduna e o
Hospital Psiquiátrico Areolino de Abreu. Ainda, lecionou no Liceu,
trabalhou no Ministério da Saúde e integrou a Associação
Piauiense de Medicina.
Homem de ciências, atualizado com as principais ideias
de seu tempo, seguiu as lições do Dr. Philippe Pinel e quebrou as
correntes em que até então eram presos os doentes mentais em
Teresina e alhures. Inicialmente, foi tido, também, como louco. Quem
era esse jovem doutor que ousava soltar os loucos agitados e
tratá-los sem o uso da força, da intimidação?
Mas os tempos eram outros. Também o conhecimento
científico. E o doutor Freitas Santos estava a par do que acontecia
de novo pelo mundo. E tratou os seus doentes com terapia ocupacional:
crochê, bordado, musicoterapia, pintura, etc. Em pouco tempo a
sociedade viu os efeitos dos novos métodos. E como não poderia
deixar de ser, o nome do doutor Clidenor foi às alturas. Jovem,
elegante, inteligente, culto, passou a ser uma das pessoas mais
notáveis da cidade.
Gozando, assim, de imensa popularidade foi inebriado
pelo canto da sereia e empurrado para a política. Candidato a
prefeito de Teresina, nas eleições de 1954, pelo PTB, obteve
expressiva votação, embora não tenha conseguido vencer as forças
dominantes do Estado, capitaneadas pelo Dr. Agenor Barbosa de
Almeida, que venceu o pleito.
Todavia, esse revés não arrefeceu seu ânimo, ao
contrário o incitando a novas pelejas. Homem de têmpera à
espartana, nas eleições de 1958, lançou-se novamente na batalha
eleitoral, desta feita para a Câmara Federal, pelas Oposições
Coligadas(UDN-PTB). Eleito com grande votação foi brilhante em seu
desempenho parlamentar: vice-lider de bancada, integrante de Frente
Parlamentar Nacionalista e partícipe ativo do debate de ideias.
Infelizmente, desavindo-se com lideranças de seu
partido, não conseguiu reeleger-se nas eleições de 1962.
Então Presidente do Instituto de Previdência e
Assistência dos Servidores do Estado(IPASE), em 1964, foi vítima do
Ato Institucional n.º 1, que cassou seus direitos políticos. Ainda
tentaria retornar ao Parlamento nas eleições de 1986, sem sucesso,
retirando-se, então, da seara política.
Escritor, intelectual irrequieto, admirador confesso e
professo da obra de Miguel de Cervantes (Dom Quixote de La
Mancha), Freitas Santos foi um importante militante cultural do
Estado. Presidente de nosso Sodalício (1954 - 1959), realizou
profícua gestão.
Portanto, nada mais justo do que esta homenagem que lhe
prestou a Casa de Lucídio Freitas, por ocasião do centenário de
seu nascimento. Depois de minuciosa pesquisa e organização do
material, com ricos textos e raras fotografias, é lançada ao
público a indicada obra, constituindo-se numa bela homenagem a um
dos homens públicos mais valorosos do Piauí. Assim, cumpre a
Academia um de seus objetivos, que é preservar a cultura e a memória
de seus membros.