domingo, 30 de abril de 2017

FLAGRANTES


FLAGRANTES

Elmar Carvalho

no céu azul
um urubu

sob o negror
do guarda-sol
o pelotão azul
de teus olhos
da sombra
me fuzilou


           Te. Dom. 06.08.95  

sábado, 29 de abril de 2017

Afrânio Nunes


Afrânio Nunes

Reginaldo Miranda

Faleceu no dia 3 do corrente mês de agosto(de 2011), na cidade de Teresina, onde residia, o ex-deputado Afrânio Messias Alves Nunes. A Academia Piauiense de Letras por proposição minha e do acadêmico M. Paulo Nunes, aprovou voto de profundo pesar pelo infausto acontecimento. Afrânio Nunes prestou larga folha de serviço ao Estado do Piauí.

Nasceu em 15 de fevereiro de 1924, na cidade de Amarante. Era filho do farmacêutico e contador José Alves Nunes Filho, que o deixou órfão com menos de dez anos de idade, e de sua esposa, dona Etelvina Ribeiro Gonçalves Nunes, chamada Vinita, ambos oriundos de tradicionais famílias médio-parnaibanas. Iniciou as primeiras letras sob orientação da professora Nenen Rodrigues, em Amarante, e depois da professora Estefânia Conrado, em Floriano, para onde mudou-se no ano de 1928, cursando o primário no Grupo Escolar “Agrônomo Parentes”. Portanto, viveu a sua infância entre as cidades de Amarante e Floriano. Nessa última cidade contava com a orientação de seus tios Djalma Nunes, Osvaldo da Costa e Silva e Theodoro Sobral, todos figuras marcantes da política local e estadual. Em princípio de janeiro de 1937, aos treze anos de idade, mudou-se para Teresina, matriculando-se no Colégio Diocesano “São Francisco de Sales”, onde cursou o ginásio em regime de internato, ao lado de Petrônio e Lucídio Portella, Dirceu Arcoverde, Djalma Veloso, Alfredo Nunes, Expedito Resende, Raimundo Santana, Sebastião e Raimundo Leal, entre outros. Depois, cursou o ensino secundário no Colégio Estadual do Piauí, antigo Liceu Piauiense, concluindo-o no Colégio São João, de Fortaleza, onde esteve nos anos de 1944/45. De regresso a Teresina, matriculou-se na Faculdade de Direito do Piauí, onde bacharelou-se  na turma de 16 de dezembro de 1950, ao lado de A. Tito Filho, M. Paulo Nunes, Omar dos Santos Rocha e alguns outros.

Depois de formado inscreveu-se na OAB, exercendo a advocacia. Mas sua vocação mesma foi o magistério para o qual dedicou o maior esforço profissional, lecionando Geografia e História. Ainda em 1949, iniciou no magistério como examinador do Ginásio “Des. Antonio Costa”. Nesse tempo já exercia o cargo de postalista da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Em 1950, passou a lecionar no Colégio Diocesano “São Francisco de Sales”. No ano seguinte, passa a lecionar também no Colégio Estadual do Piauí, ministrando aulas de Geografia Geral para duas turmas. Em 1956, em substituição ao mestre Álvaro Ferreira, foi nomeado para a Escola Normal “Antonino Freire”, passando a dirigi-la a partir de 1958 até quando desincompatibilizou-se no ano de 1966, a fim de disputar as eleições de deputado estadual. Nesse ínterim, a convite do governador Chagas Rodrigues, exerceu o cargo de Secretário de Educação, Cultura e Saúde(1959), permanecendo também no governo Tibério Nunes.

Frise-se que o Prof.º Afrânio Nunes tentou morar no Rio de Janeiro, para onde mudou-se com a mulher e filhos no ano de 1953. Ali também foi professor. Porém, não adaptando-se retornou a Teresina ao fim de oito meses. Era casado com a senhora Camélia de Alencar Nunes, que lhe sobrevive. Do consórcio teve seis filhos: José Neto, Adolfo, Cassandra, Sônia, Luciene e Afrânio Filho, que faleceu prematuramente.

A outra grande vocação de Afrânio Nunes foi o esporte. Desportista autêntico, fundou ainda quando estudante em Floriano o Infantil Futebol Clube, de curta duração. Todavia, em 1947, com um grupo de amigos funda o Ríver Atlético Clube, de grande projeção no Estado, treinando inicialmente nas dependências de 25.º BC. Era um dos atletas do novo time. Em 1954, assume a presidência do clube, levando-o à conquista dos campeonatos estaduais de 1954/55, quando encerrou seu biênio. Retornou ao comando do tricolor piauiense em 1958, iniciando a construção da sede social e conquistando os campeonatos estaduais de 1958/59/60/61/62/63, quando o Ríver sagrou-se hexacampeão piauiense. Depois de dois biênios, retorna ao comando do time no biênio 67/68, quando concluiu a construção da sede social. Por fim, retornou ao comando do time em 1972, quando este amargava nove anos sem vitória, comandando-o nas conquistas de 1973 e 1975, esta última dividida com outro clube. É, portanto, um dos grandes nomes do esporte piauiense e justamente reverenciado pela torcida riverina.

Na política, iniciou-se no ano de 1946, quando filiou-se à União Democrática Nacional, seguindo os passos de seu tio e protetor, senador Luís Mendes Ribeiro Gonçalves. Assumiu o Departamento Estudantil da nova agremiação política, que então se organizava no período de redemocratização do país. Mais tarde, passou a integrar o diretório estadual, onde permaneceu desde 1950 e até sua extinção, quando filiou-se à ARENA, em 1966. Deputado estadual por quatro legislaturas, venceu os pleitos travados em 1966, 1970, 1974 e 1978, sempre com expressiva votação. Na Assembléia Legislativa participou de importantes comissões, presidindo a de educação durante seis anos; foi membro da mesa diretora nos biênios 1968/69 e 1977/78, como 1.º secretário, e 1973/74 como 2.º secretário, Líder da ARENA em 1975/76 e presidente da Assembléia Legislativa no biênio 1979/1980, tendo nessa qualidade assumido o governo do Estado em outubro de 1979. Foi um parlamentar dos mais atuantes naquela casa. Em 1982, abandonou a política partidária depois de ver frustrada uma tentativa de disputar a vice-governadoria do Piauí, porém, sendo nomeado pelo governador Lucídio Portella para Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, onde tomou posse em 04.02.1983 e permanecendo até a aposentadoria compulsória. Ainda quando deputado empreendeu viagem de estudo e intercâmbio à Europa, visitando Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha e Inglaterra. Na política, foi sucedido pelo filho Adolfo Nunes, que elegeu-se deputado posteriormente.

Dedicou-se também à literatura, publicando o livro Homens e fatos do meu tempo(1991). Fundou e presidiu por largos anos a Academia de Letras do Médio-Parnaíba, com sede em Amarante, de que foi titular.

Afrânio Nunes foi um político íntegro, correto e leal, lutando denodadamente pelas causas que abraçou. Deixa, pois, uma lacuna na sociedade piauiense. Com essas notas desejamos destacar a sua personalidade e enviar nossas condolências à família enlutada. O Piauí perde um grande filho.
  

(Parcialmente publicado no jornal Meio Norte, coluna Academia, edição de 26.8.2011).

sexta-feira, 28 de abril de 2017

DEPOIMENTO SOBRE M. PAULO NUNES


DEPOIMENTO SOBRE M. PAULO NUNES

         Alcenor Candeira Filho

     Recentemente publiquei em portais/blogues piauienses um depoimento sobre Celso Barros Coelho e agora desejo prestar um testemunho sobre outro grande intelectual piauiense, também nonagenário e ex-presidente da Academia Piauiense de Letras – Manoel Paulo Nunes -, que ao longo  de sete décadas tem-se dedicado como professor, técnico em assuntos educacionais, jornalista, cronista, ensaísta e crítico literário a assuntos educacionais, culturais e literários.

     Publicou nessas áreas inúmeros livros: A GERAÇÃO PERDIDA, A PROVÍNCIA RESTITUÍDA, O DISCURSO IMPERFEITO, TRADIÇÃO E INVENÇÃO (4 volumes: 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries), AS SOLIDÕES JUSTAPOSTAS, MODERNISMO & VANGUARDA, TRADIÇÃO E INVENÇÃO, AS DUAS FACES DE NOSSA CULTURA, A LIÇÃO DE GRACILIANO RAMOS, O FRACASSO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, além de outros.

     Desde que ingressou no Liceu Piauiense como professor, aos 22 anos de idade,  Paulo Nunes vem se dedicando aos problemas da educação no país, sobre os quais  publicou inúmeros trabalhos, destacando-se os inseridos nos livros A GERAÇÃO PERDIDA (“Ensino Superior e Mercado de Trabalho”, “Formação do Pessoal Docente para o Ensino do 1º e 2º Graus”, “Aspectos Renovadores da Reforma do Ensino” e “Educação Média e Fundamental”) e  O FRACASSO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA, que reúne estudos sobre um dos maiores educadores do Brasil – Anísio Teixeira -  e os artigos “Globalização e Burocratização da Universidade”, “Aprovação Automática”, “Cristovam Buarque e Brás Cubas”, “Toda Criança na Escola” e uma entrevista em que defende o ponto de vista de que “uma prova não pode avaliar o sistema”.

     Como confessa no Prefácio do citado livro sobre o erro e o  fracasso na escola brasileira, Paulo Nunes se refere a algumas de suas preocupações com a educação no Brasil, como os problemas da organização  do sistema público de ensino; o da inadequação do nosso ensino à realidade social do país; o da unidade e diversidade dos sistemas educacionais; o da função inócua  de nossas reformas educacionais; o do centralismo burocrático e da descentralização ou regionalização do ensino brasileiro.

     Ainda na área da educação, Paulo Nunes teve destacada atuação, como presidente da Fundação do Ensino Superior do Piauí durante a tramitação do processo de constituição da Fundação Universidade Federal do Piauí em 1969, na organização da entidade, o que o credenciava a ser escolhido como o seu primeiro reitor. Mas injustamente seu nome foi preterido, o que o levou ao seguinte desabafo transcrito no  livro – CONVERSAS COM M. PAULO NUNES - organizado pela professora Teresinha Queiroz: “Organizei a Universidade nos moldes mais modernos possíveis [...]. Eu podia organizar a Universidade, só não não podia dirigi-la porque era considerado subversivo para o pessoal do regime militar dominante, e aí, segundo consta, fui vetado para dirigir a Universidade”. 
     
Nessa época já era funcionário do Ministério da Educação e foi convidado para transferir-se para Brasília. Como estava muito decepcionado com o que lhe acontecera no Piauí, aceitou o convite.
  
   Quis o destino, que escreve certo por linhas tortas, que no MEC, em Brasília, exercesse importantes funções: participação em comissões e assessorias, culminando com o cargo de  Assessor Especial do Ministro da Educação.

     Com a aposentadoria, retornou no início da década de 90 ao Piauí, onde reside até hoje e presidiu a Academia Piauiense de Letras e preside a partir de 1994 o Conselho Estadual de Cultura.

     No campo da literatura, são notáveis suas análises sobre Eça de Queirós, José Saramago, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Jorge Luís Borges e Pablo Neruda. Escreveu também com grande senso crítico sobre expoentes da literatura piauiense, como Da Costa e Silva, O.G. Rego de Carvalho, H. Dobal, Odilon Nunes e muitos outros.
    
     Paulo Nunes se autoproclama integrante da “Geração Perdida”, constituída por  ele, José Maria Soares Ribeiro, H. Dobal, Eustáchio Portella Nunes,  Vítor Gonçalves Neto e O. G. Rego de Carvalho. No  mencionado livro organizado por Teresinha Queiroz – CONVERSAS COM M. PAULO NUNES – o escritor relembra:
                                          
        “Eu considero o meu interesse de viver, de fazer as coisas, depois que comecei a participar                  da minha geração. O encontro com a minha geração – seis gatos pingados que discutiam                       literatura, filosofia – um pequeno grupo que passou depois a se reunir na praça Pedro II à                    noite, isso a partir  de 1945”.

     Paulo Nunes pôs inclusive num de seus livros o título A GERAÇÃO PERDIDA.

     A propósito, lembro que em Portugal da 2ª metade do século XIX os intelectuais que participaram da polêmica com Antônio Feliciano de Castilho  conhecida como “Questão Coimbrã” ou “Questão do Bom Senso e do Bom Gosto” (Eça de Queirós, Antero de Quental, Teófilo Braga...) formaram o grupo dos “Vencidos da Vida”, que  segundo Massaud Moisés, no terceiro volume da obra PRESENÇA DA LITERATURA PORTUGUESA, era “uma espécie de agrupamento de homens maduros a gozar com jantares galhofeiros a sensação dúbia do passar irrecuperável do tempo”. Penso que em verdade essas gerações portuguesa e piauiense deveriam, pelo legado que deixaram, ser chamadas de “Os Vencedores da Vida” e “A Geração não Perdida”, respectivamente.

     Na época em que era presidida por M. Paulo Nunes, se não me falha a memória em 1995, a Academia Piauiense de Letras promoveu com enorme sucesso o “Seminário sobre Modernismo e Vanguarda”, tendo eu sido convidado para dele participar como um dos expositores, com o tema “Vanguardas do Modernismo”.

     Em fins do mesmo ano, Paulo Nunes e Raimundo Nonato Monteiro de Santana reuniram-se em Parnaíba comigo e o professor Lauro Andrade Correia, que era presidente da Academia Parnaibana de Letras. Assunto principal: eleição para preenchimento da Cadeira nº 19 da APL, vaga com o falecimento do parnaibano e extraordinário escritor Renato Pires Castelo Branco. Os três achavam que a vaga deveria ser suprida por um parnaibano e que eu deveria ser candidato. Como ainda era jovem para os padrões acadêmicos, sugeri que a candidatura ideal  seria a de Lauro Correia ou a de Assis Brasil, parnaibanos mais velhos e com mais serviços prestados à cultura do que eu. Mas o dr. Lauro, com a concordância dos visitantes, me convenceram a candidatar-me. Fui eleito e empossado em 15 de março de 1996.

     Na solenidade de posse na Cadeira Nº 19 da Academia Piauiense de Letras o discurso de recepção foi proferido pelo professor Paulo Nunes. Da sua bela peça oratória destaco e transcrevo  o momento em que ele se refere com muita emoção ao “terrível episódio”  do assassinato de meu pai Alcenor Rodrigues Candeira em 1959, em Parnaíba, com a omissão do meu poema “Passando em Revista”, citado na íntegra:

          “Se pudesse acentuar, nestas breves considerações, os aspectos essenciais da poesia de Alcenor Candeira, diria que quanto à temática ela se cinge à preocupação social (...) , aliada ao tom fortemente elegíaco que no caso, ao que suponho, decorre da tragédia familiar por ele e por seus familiares dramaticamente vivida e sofrida. Esta nota reponta em vários de seus poemas e de forma contundente naquele poema elegíaco ‘Passando em Revista’ (...) em que expressa o sentimento de dor e de revolta, pelo assassinato de seu pai, terrível episódio que o colheu em sua meninice. Numa comovida homenagem a este excelente poeta que hoje aqui festivamente recebemos, transcrevo-lhe aquele seu poema:
(...)

A leitura deste poema convoca à memória o trágico poeta Garcia Lorca, um dos maiores deste século, assassinado, no início da Guerra Civil Espanhola, pelas milícias de Franco, em seu belo poema elegíaco ‘Llanto por Ignacio Sánchez Mejías’:

‘las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde
y el gentio rompia las ventanas
a las cinco de la tarde.
Ay que terribles cinco de la tarde!
Eran las cinco en todos los relojes!
Eran las cinco en sombra de la tarde!’”
           Destaco ainda nesse primoroso discurso o seguinte trecho:

“ Aqui, portanto, vos assentais hoje, em uma das cadeiras emblemáticas desta Academia, a de nº 19, que tem como patrono um dos nossos pró-homens, Antônio José de Saraiva e como ocupantes (...), e o último, o distinto companheiro, vosso amigo e conterrâneo, Renato Pires Castelo Branco (...), que tanto se empenhou pelo vosso ingresso nesta Casa.
Devo constar a propósito um episódio de que fui protagonista. Quando presidente desta Casa, o único pedido de voto por mim recebido foi em vosso favor e feito por aquele querido e saudoso amigo . Devo dizer-lhe, valha a verdade, que não faltei ao seu apelo”.

    Encerro este trabalho com mais uma curiosa revelação: a partir de minha posse, eu e Paulo Nunes conversamos por telefone sobre cada disputa eleitoral na Academia, num total de vinte, e sempre nossos votos têm sido dados ao mesmo candidato.  É o que acontecerá na  eleição a ser realizada em breve para preenchimento  da Cadeira Nº 24, vaga com a morte de Paulo de Tarso Mello  e Freitas. Coincidência? Talvez, mas sobretudo prova insofismável da sintonia existente entre nós.     

quinta-feira, 27 de abril de 2017

JERRY ADRIANI



JERRY ADRIANI

Antônio Gallas Pimentel
                
                      Final da semana passada fomos surpreendidos com a notícia de que um dos ícones da Jovem Guarda Brasileira, Jerry Adriani,  estava internado em um hospital no Rio de Janeiro, e seu estado de saúde era grave. A Jovem Guarda, um movimento cultural que surgiu na década de 1960, tendo como principais personagens o cantor Roberto Carlos, cognominado de o Rei da Jovem Guarda, o cantor e compositor Erasmo Carlos - o Tremendão, a cantora Wnderléia, "a Ternurinha da Jovem Guarda"  e muitos outros cantores, dentre os quais Jerry Adriani.

                    Quem, como eu, viveu a adolescência nesta época, sabe  da influência que  este movimento trouxe para a moda, para o comportamento e, principalmente para a música nacional. Há quem afirme que a Jovem Guarda foi um dos maiores fenômenos nacionais do século XX.

                     Jerry Adriani, como já citei, fazia parte desse movimento e esteve no Piauí, inclusive em Parnaíba, apresentando-se em um show. Sobre a vinda e apresentação  de Jerry Adriani em Parnaíba,  o escritor e poeta Antônio de Pádua Ribeiro dos Santos, Presidente da Academia Parnaibana de Letras (APAL), com o título O DIA EM QUE O PAJÉ TROUXE GRANDE ALEGRIA  À SUA TRIBO, faz um relato, que creio eu, o  objetivo principal era o de  homenagear o responsável pela vinda do artista à nossa cidade, como veremos a seguir:

                     "No início da década de setenta, Parnaíba, na sua cansada pacatez de cidade de fim de linha, ainda esperneava e conseguia, não sei como, trazer de longe  e sem ajuda do poder público, para que aqui cantasse e dançasse, sob o acompanhamento de músicos da terra, figuras de reconhecida fama.

                     Foi assim com relação ao cantor Jerry Adriani. Ele chegou de avião porque a cidade, como já disse, ainda esperneava e as  aeronaves por aqui passavam, pousavam e  traziam gente famosa; e o aeroporto nem tinha nome de ferro na fachada, e nem era internacional.

                    Carlos tinha um fusca verde, de teto solar - que era coisa rara - e exatamente por aquele buraco que se abria no rumo do céu ensolarado saía a cabeça  e mais da metade do corpo do galã que encantava a multidão enfileirada ao longo da Avenida Nossa Senhora de Fátima, à época único canal de acesso ao Centro para quem aqui chegava voando.


                    O diferente vôques - era assim  que se chamava aquele automóvel da Volkswagem - depois de desfilar para moças e rapazes que entupigaitavam ruas e esquinas, tendo como chofer  o próprio dono, que também era o promotor da festa, chegou e parou à porta do hotel onde o artista deveria ficar hospedado, descansando, esperando a hora do show, mas tudo depois de enfiar, por algumas vezes, a cabeça na janela do apartamento para receber  gritos, sorrisos e acenos de fãs,   que insistiam em chegar pelo menos mais perto do atraente ídolo.

                    À noite, em um clube na beira-rio, o espetáculo foi um sucesso, e contagiante a alegria de toda a Nação Teremembés. O visitante com sua voz estridente e inconfundível,  disse para o que veio cantando inesquecíveis músicas como Querida, Olhos Feiticeiros, Doce, Doce Amor, e muitas outras que então figuravam em todas as paradas de sucesso.

                    O Doutor Carlos, que depois de tanto tempo ainda continua sendo o bom e amigo médico dos corações parnaibanos, deve ter ficado bastante orgulhoso com o resultado daquele evento. E se aqui se faz alusão ao seu nome o termo pajé é simplesmente porque há no seu nome o Araken,  o mesmo nome daquele que, segundo Alencar, proporcionou grande alegria à tribo dos Tabajaras, trazendo ao mundo  a imortal Iracema.

                     E não venha o gentleman acadêmico dizer que o seu nome não tem raízes no poema alencarino, pois com certeza é de se acreditar que tem, até mesmo porque tinha ele um irmão, também bom amigo, que se chamava Moacir - o mesmo nome do querido filho da lendária guerreira dos lábios de mel.
Parnaíba,  Junho de 2010."

                     A crônica acima faz parte do livro "O Encantador de Serpentes" do autor citado, no qual, numa prosa bem humorada ele homenageia várias personalidades parnaibanas.  As ilustrações são do artista parnaibano Fernando Antônio Melo de Castro.
                    
                       Ícone da Jovem Guarda, Jair Alves de Souza nasceu em 29 do janeiro de 1947, no bairro do Brás, em São Paulo. Adotou o nome artístico de Jerry Adriani quando começou sua carreira como cantor, em 1964. Jerry Adriani,  morreu às 15h30 de domingo passado (23), aos 70 anos, no Rio de Janeiro.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

A SAGA DA CAPELINHA DE PALHA


A SAGA DA CAPELINHA DE PALHA

Elmar Carvalho

Na obra A história da Capelinha de Palha o jornalista, advogado, escritor e apresentador de TV Pedro Alcântara (Carvalho do Nascimento), em linguagem clara, objetiva e concisa, conta a trajetória desse templo católico, desde os seus primórdios até o seu estágio atual. O autor foi testemunha de muitos fatos importantes referentes a ele, uma vez que é assíduo participante de suas missas, e nele foi batizado, fez a primeira comunhão, se crismou, se casou, assim como vários de seus irmãos e filhos.

Relata que sua mãe, Maria de Lourdes, uma das primeiras moradoras do bairro do Aterro, posteriormente renomeado para Nossa Senhora das Graças, através de votação popular promovida por Dom Avelar Brandão Vilela, que em seguida acionou os trâmites legais e burocráticos necessários para a oficialização do nome escolhido, costumava rezar terços e novenas à sombra de copado pequizeiro, com a participação de habitantes do entorno.

Seu pai, o senhor Daniel, comovido, ao ver a dedicação e o esforço da esposa em exercitar sua fé e religiosidade em local improvisado e sem conforto, por vezes sujeito a sol ou a chuva, resolveu erguer no local uma pequena capela de taipa. Teve o apoio de moradores da comunidade, de sorte que a Capelinha de Palha serviu ao bairro por muitos anos.

O livro menciona os antigos povoadores do bairro, os fiéis mais fervorosos e assíduos, os padres que oficiaram na capelinha, os vigários de quando o pequenino templo se transformou em Paróquia, bem como os seus coadjutores.

Dois desses padres foram amigos meus e de meu pai: Deusdete Craveiro de Melo, que foi meu professor de Português em José de Freitas e celebrou meu casamento na Igreja da Santíssima Trindade, e Isaac Vilarinho, culto e de bela e pausada voz, coadjutor do dinâmico padre Mateus Cortez Rufino na Paróquia de Santo Antônio do Surubim, em Campo Maior.

Narra os esforços, os labores, as contribuições financeiras, os leilões que se fizeram para que a atual matriz fosse erigida. Discorre sobre a participação dos arcebispos Dom Severino Vieira de Melo e Dom Avelar Brandão Vilela, para que a quase bucólica capelinha passasse de Freguesia a Paróquia, com sua atual igreja. A obra é enriquecida com a transcrição de documentos e uma rica e elucidativa memória fotográfica, que documenta o que é afirmado no texto principal e nas legendas.


E ao narrar a saga da Capelinha de Palha, fez a contextualização histórica do próprio bairro de Nossa Senhora das Graças, referindo seus antigos habitantes, os povoadores, as dificuldades enfrentadas e o seu progresso, tanto no campo da prestação de serviço público como no da iniciativa privada, especialmente venda de peças para veículos e serviços de oficina. 

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Eliseu de Sousa Martins


Eliseu de Sousa Martins

Reginaldo Miranda

Foi um advogado e político brasileiro, nascido em 1842, na fazenda Tranqueira, que fora adquirida por compra por seu trisavô Valério Coelho Rodrigues, situada à margem direita do rio Gurgueia, no município de Jerumenha, depois passando para o de Eliseu Martins (nome dado em sua homenagem) e atualmente pertencente ao de Colônia do Gurgueia, como fruto de desmembramentos territoriais e emancipações políticas de novos povoados. Era filho do coronel José Martins de Sousa, da 4.ª Legião da Guarda Nacional, intrépido militar, combatente na Guerra da Independência, no posto de tenente, e na luta de repressão à Balaiada, no posto de major de milícia, quando foi nomeado prefeito de Parnaguá e comandante em chefe da Coluna do Oeste, com atuação no sudoeste do Piauí e sudeste do Maranhão, e de sua esposa Rita Maria da Conceição e Sousa. Era neto paterno do coronel Joaquim de Sousa Martins, ex-governador das armas do Piauí e de Teresa de Jesus Maria; e pelo costado materno do major Antônio Pereira da Silva, prefeito de Jerumenha ao tempo da Balaiada, e de Maria Josefa da Conceição, todos oriundos de tradicionais famílias do sertão piauiense.

Iniciando as primeiras letras na casa paterna, mais tarde Eliseu de Sousa Martins muda-se para o Recife, onde bacharela-se em Direito no ano de 1866, na mesma turma de seu primo Antônio Coelho Rodrigues. Em 1873, doutorou-se em borlas e capelos pela mesma Faculdade de Direito do Recife.

De regresso ao Piauí, cumpre o seu destino de bacharel bem sucedido, em que aliou as ligações de família, aos lações de casamento, carisma, talento e sorte política. De imediato foi nomeado para cargo de promotor público da comarca de Amarante. Mais tarde, filiou-se ao Partido Liberal e assumiu a secretaria de Governo do Piauí(1869). Foi o seu batismo na vida pública.

Ainda como fruto de sua estada no Recife, casa-se com Adelaide de Barros Barreto Martins, filha do marechal João do Rego Barros Falcão e de sua esposa Francisca de Paula Mena Barreto; neta pelo costado paterno de Francisco de Barros Falcão Lacerda Cavalcanti e Joana Quitéria de Barros Cavalcanti, naturais do Recife, membros de importantes famílias pernambucanas; e pelo costado materno neta de Gaspar Francisco Mena Barreto e Balbina Florinda Carneiro da Fontoura, todos descendentes de tradicionais troncos familiares gaúchos; um tio paterno de sua esposa foi o ministro Sebastião do Rego Barros, integrante do último ministério imperial. Desse consórcio teve oito filhos: Oscar, José, Maria, Dolores, Adelaide, Ester, Rita e Lúcia.

Ascendendo na carreira política, em 1878 foi nomeado presidente da província do Rio Grande do Norte, cuja gestão administrativa transcorreu de 1878 a 1879. Nesse tempo, enfrentou enormes dificuldades, em face de terrível seca que assolava o Nordeste, conhecida como “seca de 77”, em verdade de 1876 a 1879, envidando todos os esforços para minimizar seus efeitos no sertão potiguar. No entanto, teve de enfrentar revoltas populares, porque em 27 de janeiro de 1879, um grupo de flagelados liderado pelo sertanejo Francisco Moreira de Carvalho, invade um depósito de mercadorias do governo na cidade de Areia Branca, sendo necessária a remessa de uma força policial formada por quarenta militares de Mossoró e dezenas de civis fortemente armados, para sufocá-la. Houve enfrentamento, derramamento de sangue, vinte mortes, entre essas a do delegado de Mossoró e de alguns soldados, bem como de diversos flagelados, além de inúmeros feridos. Foi quando, para abafar a revolta, o presidente Eliseu Martins enviou para Areia Branca, uma tropa formada por cem policiais militares, comandada pelo chefe de polícia Joaquim Tavares da Costa Miranda, que pôs fim ao conflito.

Deixando a presidência do Rio Grande do Norte, por decreto de 25 de janeiro de 1879 foi nomeado presidente da província do Espírito Santo, prestando juramento perante a assembleia provincial e tomando posse do cargo em 7 de março do mesmo ano, demorando em seu exercício até 19 de julho do ano seguinte. Nesse ínterim deu-se em 1.º de março, a inauguração da iluminação pública e a gás da cidade de Vitória, capital da província, com extensão às casas particulares. Digno de nota foi também o conflito que se instalou entre o presidente da província e a câmara municipal da vila do Espírito Santo, em outubro de 1879, em face dos vereadores terem se negado a dar-lhe algumas informações, tendo havido, inclusive, altercação na rua entre o presidente da província e o secretário da dita câmara, com suspensão dos vereadores por ato de 17 do indicado mês.

Todavia, o fato marcante da presidência do doutor Eliseu Martins no Espirito Santo, foi o seu empenho no desenvolvimento da educação, que para ele deveria ser obrigatória e gratuita. Ainda em 1879, construiu a “Casa de Instrução Pública”, instituição laica. Em seu relatório do ano de 1880, defendeu uma reforma da instrução pública, que ainda usava métodos primitivos sendo que o ensino primário limitava-se “a ensinar mal a ler, escrever, contar e rezar” (MARTINS, 1880, p.2). E esse método deveria mudar, preparando-se melhor o professorado, para instruir a juventude de “todos os conhecimentos que são necessários ao homem”, “qualquer que seja a sua condição, sem o que será infrutífero e não poderá nunca influir direta e positivamente no progresso da sociedade”(MARTINS, 1880, p. 2).

Essa sua crença na regeneração do homem pelo saber, vai conduzir toda a sua ação política. Encerrado seu governo permanece na província do Espírito Santo, agora no exercício do mandato de deputado provincial, para o qual foi eleito pela legenda do Partido Liberal, apresentando à Assembleia Legislativa Provincial em 10 de abril de 1882, conjuntamente com o deputado José de Mello Carvalho Moniz Freire, projeto relativo à reforma da instrução pública, para o qual convocara no mês de março os professores e alunos à discussão, visando dar novo formato ao modo como se preparavam os professores. Esse projeto sofreu severas críticas da oposição, sendo retirado de pauta (O Horizonte, 1882, n.º 25, p. 2, n.º 27, p. 3, apud SCHNEIDER).

Todavia, com a posse do intelectual Herculano Marcos Inglês de Sousa, na presidência da província, em 3 de abril daquele ano, a discussão de caráter educacional ganhou novo vigor. A Resolução Provincial n.º 31, de 20 de maio de 1882, passou ao presidente da província a tarefa de conduzir o processo de criação do projeto que regulamentaria a reforma da instrução pública. E este, em 24 de maio, nomeou para auxiliá-lo uma comissão para a elaboração de estudos técnicos formada pelos doutores Eliseu de Sousa Martins, José de Mello Carvalho Muniz Freire, Francisco Gomes de Azambuja Meirelles, Alfredo Paulo de Freitas e o capitão Manoel Rodrigues de Campos. E o relatório apresentado foi aprovado a 15 de setembro, reorganizando a instrução pública na província.

Como reconhecimento pelo seu trabalho em prol da educação, por ato de 18 de outubro do referido ano de 1882, foi o doutor Eliseu Martins nomeado diretor dos estudos e presidente da Congregação dos Lentes do Atheneu, cargos que exerceu graciosamente.

Com a proclamação da República e convocadas as eleições para o Congresso Nacional Constituinte, em setembro de 1890 foi eleito senador pelo Piauí, tomando posse em 15 de novembro do mesmo ano. E durante os trabalhos de elaboração da primeira Constituição Republicana do Brasil, integrou, como primeiro-secretário, a Mesa Diretora da Constituinte. Depois de promulgada a Constituição em 24 de fevereiro de 1891, passou a exercer o mandato ordinário, em cujo exercício faleceu, no Rio de Janeiro, em 23 de agosto de 1894, aos 52 anos de idade.

Eliseu Martins foi lembrado por seus conterrâneos que o homenagearam com o nome de uma cidade do centro-sul piauiense e a designação de uma das principais ruas de Teresina, capital do Estado. Foi uma bela homenagem a esse distinto homem público que consagrou toda a sua vida pública a serviço da instrução pública e da formação da juventude, porque acreditava que só através da educação estava o homem plenamente preparado para o exercício da cidadania.
  
Bibliografia:
  
LYRA, A. Tavares de. O Senado da República, de 1890 a 1930. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Vol 210. Rio de Janeiro: Jan/Mar, 1951.

MARTINS, E. de S. Relatorio apresentado á Assembléa Legislativa do Espirito-Santo em sua sessão ordinaria de 9 de março de 1880 pelo presidente da provincia, o exm. sr.dr. Eliseu de Sousa Martins. Victoria: Typ. da Gazeta da Victoria, 1880.

NEVES, Getúlio Marcos Pereira. O Acadêmico Inglês de Souza e a presidência da Província do Espírito Santo. In: Revista da Academia Espírito-santense de Letras, p. 55/58. Vitória: AEL, 2007.


SCHNEIDER, Omar; FERREIRA NETO, Amarílio; ALVARENGA, Jeizibel Alves. A escolarização e a sua obrigatoriedade: debates na província do Espírito Santo (1870-1880). Educação em Revista, v.28, n.02. p.175-202. Belo Horizonte: jun/ 2012.

(O presente texto faz parte do livro inédito, Piauienses notáveis, a ser publicado no corrente ano de 2017, como parte das comemorações do primeiro centenário de fundação da Academia Piauiense de Letras).  

domingo, 23 de abril de 2017

Neruda & Da Costa e Silva



Neruda & Da Costa e Silva

Itamar Abreu Costa
Cardiologista, escritor e poeta

I

O turista vai ao Chile, nerudar!
Vai à Amarante,  o poeta lá não está.
Resta-lhe, a beleza: da escadaria! A Serra!
O Rio e uma dose da cachaça Lira.

II

O mistério do Da Costa e Silva,
Foi desvendado, os restos mortais,
Já estão em solo amarantino. Trazidos
Nas patas e bicos das aves de arribação.

III

Feliz está Doutor Tatá, dacostiano de lá
Sabendo que o poeta em sua terra está
Construiu o monumento para o homenagear.

IV

O povo todo feliz com o que aconteceu,
O poeta retorna ao solo onde nasceu
Agradecidos, rezando ao nosso bom Deus! 

sexta-feira, 21 de abril de 2017

C@ARTA AO POETA CHICO MIGUEL



C@ARTA AO POETA CHICO MIGUEL

Elmar Carvalho

Remexendo em velhos papéis, encontrei o convite que o bardo Francisco Miguel de Moura me havia enviado para as bodas de ouro de seu casamento com dona Mécia. A comemoração estava marcada para o dia 08.12.2009, dia de N. S. da Conceição. Por ser feriado nacional, confirmei-lhe a minha presença, tanto por telefone, como pessoalmente, quando nos encontramos em nossa reunião na Academia.

Infelizmente, em virtude da Semana da Conciliação, o Tribunal de Justiça transferiu o feriado para a segunda-feira seguinte. De modo que, não podendo comparecer às bodas do casal amigo, que conheço desde o final da década de setenta, resolvi encaminhar-lhes, de minha Comarca, um e-mail, na data do jubileu matrimonial,  a que dei o título de C@RTA AO POETA CHICO MIGUEL, que para honra minha foi lido na festa. Julgo importante transcrevê-lo:

“Caro poeta Chico Miguel: Deveres profissionais me impedem de participar de sua festa de Bodas de Ouro, comemorativa de seu meio século de feliz união conjugal, como era meu desejo, para confraternizar com o amigo, dona Mécia, seus filhos e nossos vários amigos comuns. Entretanto, nada me impede de lhe dirigir algumas palavras, que calo no peito há muito tempo, aguardando o momento propício para deixá-las aflorar.

Você é um típico sertanejo, apesar da pele clara e dos olhos azuis. E como bom sertanejo, é antes e acima de tudo um forte, no dizer euclidiano. Nascido em Francisco Santos, então povoado de Jenipapeiro, estudou, mourejou, você que é um Moura, estirpe de boa fama, e venceu. Criou os filhos com dignidade, sobretudo através da boa palavra e do bom exemplo.

Sob sua liderança, reerguemos, nós, um punhado de escritores, a União Brasileira de Escritores do Piauí – UBE-PI. Você promoveu vários eventos em sua profícua administração e legalizou a entidade, para que ela existisse de fato e de direito.

Diria que o amigo é um poeta do coração e da razão, no perfeito equilíbrio dessas duas vertentes. Sem ser um cerebralista, cultiva a inteligência, a criatividade, o labor, a leitura e a lapidação perfeccionista dos seus escritos, desbastando a sua fatura literária dos lugares comuns, das construções insípidas e da mesmice. Mas sem deixar de lado a emoção e a paixão, e os sentimentos desprovidos de pieguice.

Creio seja você o último remanescente dos polígrafos, a esgrimir a prosa e os versos com invulgar habilidade, e tanto na prosa como no verso produzindo diferentes gêneros da arte de escrever. Em textos eminentemente literários tem cometido belos poemas, urdido admiráveis versos, e enfrentado com galhardia e desembaraço o romance e o conto. Na teoria literária, na crítica e na historiografia, escreveu um notável livro de nossa história literária, elaborou percucientes e instigantes ensaios e crítica literária, em que se percebe a sua avantajada cultura humanística e o seu invejável lastro de conhecimento em literatura.

Considero-o, sem nenhum favor, um de nossos mais honestos intelectuais e críticos, porque não faz concessões espúrias, nem tampouco ignora aqueles que realmente têm merecimento, dando a cada um o seu justo valor, entretanto sem achincalhes desnecessários e desumanos, e sem alardes laudatórios.

Sem dúvida é o amigo um legítimo escritor e poeta, por devoção e vocação incontrastável. E alimentou essa vocação e devoção através de longas leituras, perquirições e ruminações reflexivas, mediante uma inteligência poderosa, porém cultivada no constante esforço pessoal, de que sou testemunha.”

                                 27 de janeiro de 2010

quarta-feira, 19 de abril de 2017

DEPOIMENTO SOBRE CELSO BARROS COELHO


DEPOIMENTO SOBRE CELSO BARROS COELHO

     Alcenor Candeira Filho

     Na adolescência  ouvia falar do advogado Celso Barros Coelho, então já reconhecido como grande criminalista e civilista.

     Em 1972, regressando do Rio de Janeiro com o diploma de bacharel em direito, fui admitido na OAB-PI (inscrição nº 754/72) por ele presidida, com juramento prestado no seu escritório de advocacia, no centro de Teresina.

     Em 1976, ingressei por concurso público no carreira de procurador federal com lotação no INSS, passando a ter Celso Barros como um dos colegas de trabalho: ele lotado na superintendência em Teresina; eu, na agência da previdência social em Parnaíba. Lá se vão 45 anos de amizade, com convivência reforçada a partir de 1996,  quando ingressei na Academia Piauiense de Letras-APL, onde ele é ocupante da Cadeira Nº 39.

      Durante todo esse tempo só tem crescido minha admiração pelo mestre, com quem em companhia do saudoso  procurador e colega de repartição Francisco de Assis Costa Bacelar curti inesquecíveis momentos de boemia.  Sinto-me, portanto, credenciado a prestar depoimento sobre o grande jurista, professor e escritor.

     Lembro-me que nos anos 70 patrocinei uma causa cível cujo advogado da outra parte era o dr. Celso. Meu cliente perdeu a questão, mas eu ganhei muito em experiência e aprendizado.

     No início de minha vida profissional como advogado e professor participei ativamente em Parnaíba da campanha eleitoral de 1972 apoiando a candidatura de Elias Ximenes do Prado a prefeito municipal pelo  MDB. Elias derrotou o deputado estadual Francisco das Chagas Ribeiro Magalhães, que teve o apoio dos governos federal (Emílio Garrastazu Médice), estadual (Alberto Tavares Silva) e municipal (Carlos Furtado de Carvalho). O apoio do advogado Celso Barros, deputado estadual cassado em 1964 pela Assembleia Legislativa do Estado do Piauí,  foi importantíssimo na campanha, especialmente pelos serviços profissionais que prestou ao candidato do MDB. No meu livro – POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS PARNAIBANOS -, a ser editado brevemente pela Universidade Federal do Piauí-UFPI, reporto-me a esse fato:

            Alguns seguidores  de Elias sofreram ameaças de prisão feitas pelo Delegado Geral  de                       Polícia em Parnaíba, o promotor de carreira Genez de Moura Lima.
O juiz de direito Walter de Carvalho Miranda, que não admitia arbitrariedades, concedeu vários habeas corpus preventivos em favor dos ameaçados.
Em depoimento transcrito no livro POLÍTICA: TEMPO E  MEMÓRIA, de Celso Barros Coelho (Teresina, Academia Piauiense de Letras/Bienal Editora, 2015), desabafa Elias Ximenes do Prado:
“ Durante a a puração, com a contagem nominal das cédulas pelo Juiz, o governo usou de todos os meios para alterar o resultado da eleição não conseguindo  em razão da corajosa posição do juiz e da defesa assumida prontamente pelo advogado Celso Barros Coelho. A luta não termina. Desesperados o Governador e o candidato iniciaram um processo  na Justiça Eleitoral para barrar a diplomação do candidato eleito. Na defesa mais uma vez se alteia aquele advogado, ocupando a tribuna daquele Tribunal para denunciar o embuste, com argumentos assentados na lei e na jurisprudência do Tribunal” (p.115/116).

     Recordo que nessa luta  cheguei a emprestar um exemplar do Código Penal ao dr. Celso, o qual  nunca me foi devolvido: sumiu nas comemorações etílicas pela grande vitória.

     Dentre os inúmeros trabalhos que publicou como jurista, destaca-se  o da sua atuação como relator na Câmara dos Deputados do projeto do Código Civil Brasileiro (Lei Nº 10.406, de 10-01-2002)  na parte relativa ao Direito das Sucessões, compreendendo quatro títulos: I. Da Sucessão em Geral; II. Da Sucessão Legítima; III. Da Sucessão Testamentária; IV. Do Inventário e da Partilha.

     Com esse trabalho Celso Barros coloca-se, na minha opinião, no patamar do ilustre piauiense e extraordinário jurista Coelho Rodrigues, que em 1890 foi incumbido de redigir o anteprojeto  do Código Civil Brasileiro que ficou pronto em 1893 e que, assim como o anteprojeto de Teixeira de Freitas, elaborado entre 1859 e 1872, o de Nabuco de Araújo, elaborado de 1873 a 1878 e  os apontamentos de Felício dos Santos (1881), não foi transformado em lei, que só se tornaria realidade com a aprovação do anteprojeto Clóvis Beviláqua (Lei Nº 3071, de 1º de janeiro  de 1916, assinada por Wenceslau Braz como Presidente da República, tendo entrado em vigor em 1º de janeiro de 1917).
            
     A biografia e a bibliografia de Celso Barros Coelho são riquíssimas, envolvendo atividades advocatícias, docentes, políticas, administrativas e acadêmicas, com dezenas de publicações nessas áreas. Sua fortuna crítica também é invejável, expressa em livros, anais, anuários, revistas, jornais, dicionários, enciclopédias, etc.

     O prestígio alcançado no Brasil pelo professor Celso Barros como jurista fez com que fosse convidado a escrever dezoito verbetes para a ENCICLOPÉDIA SARAIVA DE DIREITO (75 volumes), edição comemorativa do Sesquicentenário de Fundação dos Cursos Jurídicos no Brasil, 1827-1977.

     Seu livro mais recente e já citado neste artigo – POLÍTICA: TEMPO E MEMÓRIA – compõe, segundo o jornalista e escritor Zózimo Tavares, “um painel do Piauí e do Brasil, em seus aspectos econômicos, culturais e políticos. São páginas vivas e pulsantes  de suas  memórias. À narrativa envolvente são acrescidos discursos históricos no parlamento que põem em relevo episódios notáveis da história do país”.

     Hoje o dr. Celso Barros  é nonagenário e eu setuagenário, ambos em plena atividade mental. Sempre que vou a Teresina ou que ele vem a Parnaíba nos encontramos e nos abraçamos. Somos dois idosos que fizemos ao longo de quase meio século uma amizade sólida como o pão de açúcar como costuma dizer o velho amigo Lauro Andrade Correia, também professor emérito da UFPI e nonagenário que continua escrevendo regularmente.   

terça-feira, 18 de abril de 2017

O Urubu e o Sapo


O Urubu e o Sapo

Valério Chaves
Desembargador inativo

          Certo dia os animais da floresta amanheceram em grande euforia.
         O sapo que saia à procura de insetos para comer, perguntou ao urubu o motivo de tanta alegria.
         - Ah! você ainda não sabe?
         - Pois fique sabendo que hoje vai ter uma grande festa no céu oferecida a todos os animais da terra – respondeu o urubu enquanto se arrumava para voar rumo ao céu.
         - Neste caso, vou me arrumar também para ir junto com você – disse o sapo com ar de animação.
         O urubu olhou indiferente para o sapo, e disse-lhe em tom comovido:
         - Sinto muito amigo sapo, você não pode ir comigo.      
         - Mas por que não? - quis saber o sapo. Afinal de contas sou bicho igual aos outros.
         -Tenho todo direito de me divertir como qualquer um. Ou não tenho? - perguntou, demonstrando aborrecimento.
         O urubu, vaidoso e com olhar de desprezo, respondeu:
         - Amigo sapo, as coisas nem sempre são do jeito que a gente deseja.
         - Vejo que você tem a boca muito grande, e pelo que estou sabendo quem tem boca grande não entra na festa do céu. Só entra quem tem boca pequena.
         O sapo deu um salto, encheu os pulmões, ajustou a boca o máximo que pôde, e falou indignado:
         -Isso é uma injustiça. Oh  injustiça!  Oh   injustiça...!!!

         Moral da história:
         As virtudes não estão nas aparências, mas no que somos e no que fazemos.    

segunda-feira, 17 de abril de 2017

SONETO DO ANDARILHO FANTASMA


SONETO DO ANDARILHO FANTASMA

Alcenor Candeira Filho

     Trevas. Noite sem lua. Nenhuma estrela.
     Excêntricos caminhos.  Mil percalços.
     Andarilho fantasma. Pés descalços.
     Ninguém para dar-lhe as mãos na ínvia estrada.

     Qual o destino se traspassa pontes
     que não cruzam lagos rios ou fontes?
     Defronte montanhas altas – montanhas
     altíssimas de azul ataviadas.

     Passos lentos do andarilho incansável
     totalmente nu – sem roupa relógio
     documentos óculos automóvel

     a vagar pelas veredas da exótica
     estrada cada vez mais larga cada
     vez mais linda e cada vez mais longa.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

O Piauí na Confederação do Equador


O Piauí na Confederação do Equador

Reginaldo Miranda
Historiador, escritor e membro da APL

             Proclamada e consolidada a independência do Brasil do jugo português, em que o Piauí, ao contrário de outras unidades do novel país, galhardamente, pagara seu tributo de sangue, fez-se necessária a elaboração da nova Carta Magna, para a qual o país eufórico se reuniu em Assembleia Nacional Constituinte. Todavia, o imaturo e despótico Imperador em total revelia ao processo democrático, em 12 de outubro de 1823, houve por bem dissolver a citada Assembleia Nacional Constituinte outorgando uma carta constitucional a 25 de março do ano seguinte, sem legitimidade do apoio popular. Esse ato autoritário do Imperador recebeu total censura, sendo aceito a contragosto pelas mais diversas províncias brasileiras. Contudo, contra essa aberração democrática se levanta em luta a altaneira província de Pernambuco, levando consigo Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Sob a alegação de que D. Pedro I retornaria o Brasil ao decaído regime colonial era disseminada a propaganda revolucionária pelo jornal Typhis Pernambucano que contava com a briosa colaboração de frei Joaquim do Amor Divino. Então, a 2 de julho de 1824, rebenta a revolução republicana sob o comando do presidente da província, Manoel de Carvalho Paes de Andrade, herói de outras refregas. É proclamada a Confederação do Equador. A ela também aderiu Alagoas.

Por esse tempo o Piauí ainda se refazia dos estragos ocasionados pela Guerra da Independência. Porém, a litorânea vila de Parnaíba recebia emissários do Ceará, mandados pelo líder revolucionário cearense, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe. Não tardou, pois, aos idealistas da Parnaíba, que por primeiro abraçaram a causa da Independência, também aderirem à Confederação do Equador, cuja proclamação solene pela Câmara Municipal deu-se a 25 de agosto do mesmo ano sob a presidência do Dr. João Cândido de Deus e Silva, e a participação efetiva do tenente-coronel Domingos Dias da Silva Henrique, major Bernardo Saraiva de Carvalho, comandante do corpo de milícia da vila, major José Francisco de Miranda Osório, João Rodrigues Falcão, Veridiano Sousa, José Ferreira Meireles, José de Sales, João Cardoso Batista, Pe. Francisco de Paula Barros e outros insurretos. Insuflados por essa vila, também a Câmara Municipal da vila de Campo Maior aderiu à mesma revolução a 8 de setembro seguinte. É que haviam marcado essa data para jurarem a Constituição outorgada pelo Imperador. Porém, orientados pelos insurretos da Parnaíba, ao se reuniram nessa data, ao invés de jurarem a Constituição como pretendiam, também aderiram ao movimento secionando o norte da província em franca adesão ao regime pernambucano. Era a influência do Ceará, de onde chegavam notícias alvissareiras. Contudo as demais vilas permaneciam reticentes. Oeiras, sob o comando do presidente da Província, Manoel de Sousa Martins, agia com dubiedade, fazendo vista grossa aos insurretos do norte e se comunicando permanentemente com a imperial Bahia, em busca de notícias esclarecedoras. O velho político queria bem decidir e conservar seu poder. E ao saber pela Bahia que Pernambuco caíra, fato que desconheciam as duas vilas do norte porque se comunicavam apenas com os revolucionários cearenses se decidiu pelo partido do Imperador. Enquanto isso, os insurretos do norte despacharam o major José Francisco de Miranda Osório, para em missão melindrosa se dirigir até Oeiras em busca do apoio do presidente da Província, que com eles mantinha contato. Porém, este já sabedor do malogro pernambucano prendeu Miranda Osório na mesma noite em que chegara a Oeiras, 27 de outubro, e apreendeu toda a sua bagagem que, mais tarde, foi examinada publicamente pelo Ouvidor-geral. Nada encontraram e adversários acusaram Sousa Martins de retirar papéis comprometedores. De fato, parece que o silêncio de Miranda Osório interessava a Sousa Martins, pois ainda sob custódia foi nomeado selador da Alfândega de Parnaíba por provisão de 15 de janeiro de 1825.  A devassa posteriormente procedida concluiu que ele fora a Oeiras apenas tratar desse assunto.

E diante da frustração do movimento nas outras províncias, em 28 de outubro e 7 de novembro, respectivamente, as vilas de Parnaíba e Campo Maior abdicaram de suas anteriores proclamações e juraram a Constituição do Império do Brasil outorgada por D. Pedro I. Estava, assim, encerrada a participação do Piauí na Confederação do Equador, e que ficara circunscrita apenas às duas vilas nortistas. Contudo, essa participação ainda não foi devidamente reconhecida pelos historiadores pátrios. O historiador piauiense Anísio Brito, em 1920, publicou na Revista do Instituto Geográfico e Histórico Piauiense um artigo sobre esse tema sob o título Adesão do Piauí à Confederação do Equador (Teresina: Papelaria Piauiense, 1920. Tomo 1º. p. 241/248). Lamenta ele os erros e lacunas que existem sobre esse assunto. No ano seguinte, outro ilustre escritor piauiense, Abdias Neves(1876-1928), publica interessante livro com o título O Piauí na Confederação do Equador, reeditado em 1996. Também ele se insurge contra essa ignorância de alguns escritores à participação piauiense nesse movimento, acrescentando que, embora sem projetar heróis, sem os lances dramáticos das grandes paixões, se afirmou positivamente em atos de manifestações de rebeldia ao governo constitucional. Diz: “Convenho que o concurso do Piauí não foi ruidoso. Faltou-lhe o lado sugestivo das agitações das ruas – o fragor das refregas, a perturbação das derrotas, as surpresas alucinadoras do imprevisto. Não contribuiu, também, com o tributo de sangue, de enforcados e fuzilados. Mas, isto, se não desperta a sentimentalidade lírica do historiador, não condena a realidade histórica do fato” (p. 147). Faça-se justiça, pois, ao Piauí, o incluindo entre as seis províncias que participaram da histórica Confederação do Equador.   

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Noturno de Oeiras no hotel do SESC

Elmar Carvalho e Denise Barros, gerente do Hotel SESC-Oeiras


Fotos: Carlos Rubem

Noturno de Oeiras no hotel do SESC

Elmar Carvalho

Na quarta-feira, no final da tarde, a Destaque Comunicação Visual me informou, por telefone, que havia finalizado uma placa em que se encontrava estampado meu poema Noturno de Oeiras. No dia seguinte, retornei a ligação e fui vê-la. Media 1,20 metros por 60 centímetros, e fora confeccionada em metal inoxidável.

Além de minha assinatura, tinha uma bela imagem da catedral de Nossa Senhora da Vitória, que meu poema louvava. Destinava-se a ser colocada no prédio do hotel do SESC em Oeiras, que leva o nome do Dr. Moisés Reis, meu amigo e grande admirador do Noturno, desde mais de duas décadas.

Havia sido encomendada pessoalmente pelo Dr. Valdeci Cavalcante, em minha presença. Como a Destaque fica defronte ao seu escritório de advocacia, fui falar com ele. Dinâmico como é, perguntou-me se eu não desejava ir a Oeiras para escolher o local exato em que eu gostaria de afixar a placa. Disse que a pressa se devia ao fato de que na Semana Santa o hotel estaria lotado, o que seria bom para sua maior divulgação.

Não vacilei um segundo e lhe respondi que sim. Ele me conduziu até a sua secretária Sabrina, e disse para que combinássemos o dia e o horário em que o automóvel do SESC me apanharia em minha casa. Em seguida se despediu para cumprir seus inúmeros afazeres. Em virtude das diversas tarefas e compromissos da repartição, marcamos para o sábado, cedo da manhã.

Na sexta-feira, na caminhada da Raul Lopes, encontrei o médico Paulo de Tarso Ribeiro Gonçalves Filho, oeirense por nascimento e vocação. Falei-lhe de minha agradável missão cultural no dia seguinte. O ilustre amigo e esculápio me prometeu que no Sábado de Aleluia iria “fiscalizar” se a placa teria sido colocada em local apropriado.

Conforme o combinado, às seis e meia da manhã, em pontualidade britânica, o Neto, prestativo e educado motorista do serviço social, estava à porta de minha casa. Colocamos a placa no carro, e seguimos para nosso destino. Revi as paragens que semanalmente via, quando fui juiz em Regeneração e Oeiras.

Ao chegar ao lindo, novo e grande hotel, que administra imenso parque de lazer, com inúmeros equipamentos aquáticos e outros, além de churrascaria, liguei para o promotor de Justiça Carlos Rubem, para me ajudar a escolher o local mais adequado para a afixação da placa do Noturno de Oeiras. Optamos por colocá-la no hall, um pouco abaixo de onde estão afixadas as belas pinturas da grande artista piauiense Dora Parentes. Por sinal que essas magníficas telas retratam as mesmas paisagens e monumentos arquitetônicos que exaltei em meu poema.

Eu, Denise Barros, gerente da casa, e o Carlos Rubem terminamos por dar um singelo cunho solene ao evento, aproveitando as pessoas que se encontravam no local e alguns jovens que foram convidados pelo meu amigo, entusiasmado promotor de Justiça e também de Cultura. Carlos Rubem se encarregou de fazer a louvação de meu Noturno, assim como parabenizou o SESC pela feliz iniciativa. Falou sobre minha longa ligação afetiva com a velhacap. E ainda desafiou o compositor Herbert Vinicius, que se encontrava presente, a musicar os meus soturnos e noturnos versos.

Seguindo as suas pegadas, discorri sobre a minha vinculação à nunca assaz louvada antiga urbe, que remonta às minhas leituras de menino e a eventos culturais e literários de que participei. Assinalei que concluí minha carreira de julgador como titular do Juizado Especial da Comarca do Mocha. Aludi a diversos eventos em que o Noturno foi entoado e interpretado, inclusive no proscênio do Cineteatro Oeiras, entre as naves da vetusta catedral de N. S. da Vitória e no seu adro. No You Tube podem ser vistos dois audiovisuais desse poema.


Por fim, como não poderia deixar de ser, sob pena de ingratidão, fiz enfático agradecimento ao SESC e ao seu dirigente Valdeci Cavalcante, que foi meu professor no Curso de Direito (UFPI), pela aposição da bela placa do Noturno de Oeiras no prédio que leva o honrado nome do grande causídico e intelectual Moisés Reis.