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Francisco Miguel de Moura em 3 Tempos (*)
DESTEORIA DO POEMA
Objeto, paixão,
clareza,
autobiografia?
Jogue fora, é matéria sem graça...
Comece pelo começo ou pelo meio:
Luz sem espaço, na massa do vento...
Adjetivos, um-por-um, risque-os do mapa,
Cale a musa ante a feira da beleza.
Se conseguir um verso em linha dois,
Não é o poema ainda, é só um dueto
Donde seres desprendem pensamentos,
Pano sem fundos, cheio de remendos...
Mas se na ponta do lápis um borrão ressurge?
Heureca! Desse borrão nasce o começo.
Vomite suas palavras sobre as feridas
Da alma
Triturando-as, antes, uma-por-uma,
No pilão fundo de suas veias.
Dê mais uma volta com o “feito” na mão.
“Ele é um doido... Ou não?”
E seja um doido, um doido de palavras.
Mas se lhe descer a bruxa-inspiração,
Desista. Vista uma calça ou bermudão
E vá pescar num rio sem água,
Com tarrafa sem linha e anzol sem pontas,
Desde o pingo do sol do meio-dia.
Se voltar, mais outro dia,
Merece:
Vai citado num verso pelo avesso
Até o próximo dia, com sal a gosto.
Eis a dificuldade de fechar o poema,
Como acontece com o fim da vida:
Tudo o que era seu ficou decomposto.
VIDA E SEXO
O sexo é o único nexo
Com a vida e com a morte,
E é tão bonito esse amplexo
Que até me torna mais forte.
Seja ou não reconhecido
Por entidade oficial,
Apaga a dor do olvido...
O sexo é espiritual.
Perfeito se é com amor,
Espanta a dor e a tristeza;
Se alguém o vê com horror,
Desconhece a natureza.
Mulher tem mais sapiência,
Que uma fonte, que o mar,
Mas o homem põe a essência
Para Deus abençoar.
Não há coisa tão completa,
Doce na alma, paz no ar.
Seja de forma discreta
Ou como o casal se achar.
Por falar tão bem de sexo,
Tremo, é gostoso, é legal!
Só os tolos têm complexo,
Mesmo assim, nada por mal.
Se bem feito ou se mal feito,
A sua importância é tal
Que a consciência dá o jeito
De distinguir quanto val’.
Saúde, paz e alegria,
A alma leva aonde for...
Se é incapaz, por que
fia?
A QUEDA DAS FOLHAS
As folhas caem. Pelo verão,
Ninguém lhes ouve a queda,
Ninguém lhes ouve a queda,
A dor de coisas semimortas,
Quando o vento carregador
Vem e as leva pela várzea
Quando o vento carregador
Vem e as leva pela várzea
E ali se enterram no chão.
Algumas doidas se
soltam
Salvam-se, saem dançando
Com o vento, sobem o outeiro
Onde um poeta há tempo dorme.
Salvam-se, saem dançando
Com o vento, sobem o outeiro
Onde um poeta há tempo dorme.
O dorminhoco, aos acordes
Dos sons, saracoteios surdos
Das infelizes contra a porta,
Das infelizes contra a porta,
Ainda ressona.
Será tarde, bem tarde,
(Murmurarão...)
Para um carinho... Oh! Não!
Eis que o poeta transtornado sonha:
E quebra a eternidade do instante
(*) Francisco Miguel de Moura é poeta, romancista, cronista, historiador e membro da Academia Piauiense de Letras.
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