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Idade
Paulo Véras (1953 – 1983)
Meu corpo antigo
é aquele que o limo dos anos
usou em sua corrida
Hoje ele é um bicho encardido
à sombra dos metais mais vulgares
Hoje ele é um bicho largado
à margem da água
que escoou dos ossos das frutas
depois de saciada a fome
que espremia o peito dos homens
e arrancava do colo das mulheres
o leite bom para decepar
a sede dos velhos
Hoje ele descansa
sobre as rugas crespas
de uma terra usada
pelo suor dos corpos
dos amantes
sob uma lua emparedada no céu
Hoje ele possui
a escama das marés fartas
e a respiração forte
das montanhas grávidas de verde
à beira das cidades pequenas
cheias de esperança
nas canções que escorrem
da boca do povo
Meu corpo antigo
ficou assim
manchado do pelo dos animais
que me emprestaram seu cio
na noite em que me tornei
animal do mundo
Meu corpo antigo
bebeu daquele cio feroz
e se tornou mais antigo ainda
Fonte: Poemágico – a nova alquimia, 1985
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