TRÊS IRMÃOS EM TRÊS TEMPOS
Elmar Carvalho
Recebi o livro “A Medicina, a Família e as
Letras”, da autoria de Paulo Ferreira, de caráter autobiográfico. Nele, o autor
conta a sua vida, desde o nascimento até a sua carreira vitoriosa de médico e
de empresário do setor de saúde. Conheci o Paulo e seus irmãos Clemilton e
Gilberto Ferreira, desde nossa adolescência e juventude. Com eles mantive
amizade e respeito recíprocos.
Gostava de ouvir a gargalhada reverberante e
altissonante do Clemilton, quando via ou ouvia alguma coisa engraçada. Certa
feita, ao chegar a uma bodega, cumprimentei os presentes, e dirigindo-me a ele
disse que ele era um gigante, um verdadeiro cavalo batizado. Ele, no mesmo
instante, respondeu-me que não, que apenas batizava os cavalos. Todos riram da
resposta, e o Clemilton mais que todos.
Não perdi o rebolado, como se diz, e
retruquei-lhe: - “Então corre, vai buscar água, e batiza-te primeiro a ti
mesmo, pois tu és o mais cavalo de nós”. Todos acharam graça do meu repente,
inclusive o Clemilton, que disse eu não ter mesmo jeito, e querer ganhar
sempre.
Ele, que nessa época, começo dos anos 70,
fazia o curso de Técnica Agropecuária no famoso Colégio Agrícola de Teresina,
foi abordado por um vizinho para fazer o diagnóstico de uma vaca que havia
morrido. Respondeu que não poderia fazer tal coisa, porquanto se o animal
estava morto só poderia fazer a necrópsia, e soltou o estardalhaço de sua
vibrante gargalhada.
Quando foi trabalhar como técnico em
agropecuária ganhou fama logo no início de sua carreira. Havia uma rês magérrima,
quase à morte, pois se recusava a comer. Outros técnicos e veterinários
examinaram a vaca e não conseguiram descobrir a doença. O nosso bravo Clemilton
também foi chamado para solucionar o problema. Logo ao chegar, pediu que
atravessassem um pau na boca do animal. Meteu-lhe a mão garganta a dentro, e
remexeu-a, atentamente e de forma circunspecta, de um lado para outro.
Descobriu um caroço de mucunã, mas o escondeu
na mão, para valorizar o seu trabalho. Logo que pode, guardou o caroço no bolso
da calça, de forma discreta, de modo que ninguém visse. Depois, aviou uma
receita para desinflamar a garganta bovina. E esperou o resultado. Depressa
soube que o animal voltara a comer e que se encontrava completamente
restabelecido. Ganhou fama de ser o maior “veterinário” da região e de ser
quase milagroso.
O Gilberto é mais sisudo, embora também tenha
senso de humor. De boa voz, rítmica entonação e de bom poder argumentativo,
tornou-se respeitado advogado criminalista. Foi atuante e dinâmico líder
estudantil, sendo um dos fundadores da AUCAM (Associação dos Universitários de
Campo Maior). Presidiu a Casa do Estudante Pobre do Piauí, situada na Rua Rui
Barbosa, em Teresina.
Em sua gestão foi inaugurado o anexo, que
fica por detrás do bloco antigo. Professor de História, certamente essa
disciplina lhe serve para enriquecer e ilustrar a sua retórica forense. Foi,
durante algum tempo, uma das lideranças proeminentes do PDT.
Quanto ao Paulo, veio para Teresina, onde
cursou o 2º Grau e se formou em Medicina. Graças a seu esforço e tino
administrativo e empresarial, construiu, aos poucos, mas sempre de forma
segura, sem endividamentos temerários, o Hospital das Clínicas de Teresina.
Dentro de seu planejamento e possibilidades, foi expandindo a área construída,
com novos anexos e melhoramentos, e hoje pode ser considerado um dos grandes
empreendedores de Teresina.
Já se prepara para construir um shopping na
zona norte da capital, mais precisamente num grande terreno que possui na
frente do HCT. Não duvido que esse empreendedor logo dará a Teresina um novo
centro comercial; coisa, aliás, de que a capital já está precisando. Não
deixou, contudo, de ser aquele rapaz simples, afetivo, amigo dos amigos, de
sorriso largo e franco, além de ser o médico humanitário e vocacionado que é.
29 de junho de 2010
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