Poeta padre Gastão Pereira da
Silva, filho do coronel Lysandro Pereira da Silva.
Fonte: Demes, Joselina. Floriano:
sua história, sua gente. Teresina: Halley, 2002. p.445-446 |
AS ORIGENS DA LITERATURA
CAMPO-MAIORENSE
Celson Chaves
Professor, historiador e escritor
Dr. Miguel de Sousa Borges Leal
Castelo Branco (1836-1887) foi o primeiro campo-maiorense consagrado no cenário
das letras e da intelectualidade piauiense. Sua atividade literária inicia-se
na década de 1860. Escrevia em verso e prosa. Publicou as seguintes obras:
Apontamentos biográficos de alguns piauienses ilustres e de outras pessoas
notáveis que ocuparam cargos importantes na província do Piauí (1878); o
Almanaque Piauiense (v.1, 1879; v.2, 1880; e v. 3, 1881) e a Revista Mensal
(1884).
Foi redator dos jornais Liga e
Progresso, A Imprensa e Theresinense.
Exerceu o cargo de professor de retórica, poesia e língua francesa no
Liceu Piauiense de Teresina. Fundou o Colégio Nossa Senhora das Dores. Escreveu
sobre diversos assuntos de interesse da província do Piauí.
O polígrafo dedicou boa parte de
sua vida intelectual a educação, ao jornalismo, a biografia e a pesquisa
histórica. Foi o primeiro poeta e historiador de Campo Maior. A escrita era sua
grande paixão. Segundo Félix Aires, Dr. Miguel “floresceu como poeta na fase
romântica da literatura piauiense, iniciada por José Coriolano de Sousa Lima
(1829-1869)”.
POR OCASIÃO DE UM CONSÓRCIO
Na profusão de luz enchendo as
salas
Domina, aqui, reunião brilhante!
Oh, quanto assenta bem – mundo
elegante
M ruidoso sarau – trajando galas!
Depois da polidez das meigas
falas,
Harmoniosos sons a cada instante!
É belo, assim, – o quadro
deslumbrante;
Quando na dança os pares formam
alas!
Destarte alegres horas vão
passando;
Até que o coração assaz repleto
Se sinta do prazer que vai
gozando…
E quando este sarau já for
completo,
Irão todos comigo, enfim,
pensando
Que um verdadeiro amor é mel
himeto.
AIRES, Félix. Antologia de Sonetos
Piauienses. Teresina-PI: Academia Piauiense de Letras, 1972.
A dedicação à escrita e a cultura
tornara Dr. Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco famoso pelo conjunto da
obra, aponto de ser lembrado no movimento de criação da Academia Piauiense de Letras,
em 1917, tornando-se Patrono da cadeira nº22. O pai do Dr. Miguel, Lívio Lopes
Castelo Branco e Silva (1811-1869) era advogado provisionado, homem culto,
apreciador de leituras e profundo conhecedor da civilização clássica
(greco-romana). Lívio foi o primeiro jornalista de Campo Maior. Fundou jornais
no Piauí e Maranhão. Escrevia artigos de opinião. Um liberal e revolucionário.
Chegou a produzir um livro de memórias (infelizmente não publicado) sobre sua
participação na Balaiada, movimento subversivo ocorrido no Piauí e Maranhão
entre os anos de 1838 a 1842.
No final do século XIX, eram
poucos os escritores campo-maiorenses. Além de Dr. Miguel, atuavam com certa
evidência os poetas Dr. Augusto Ewerton e Silva (1862-1939), padre Fábio José
da Costa (1863-1900), H. Castelo Branco e Antônio José da Costa Júnior.
Da passagem do século XIX para o
século XX, pouca coisa mudou em Campo Maior. As condições sociais e econômicas
permaneciam as mesmas. As famílias tradicionais monopolizavam o poder. A
pecuária continuava como a principal atividade econômica e o povo permanecia
excluído do processo político. Não havia melhoramento urbano, as ruas de chão
batido seguiam inalteradas, o comércio era reduzido e centrado no Largo da
Matriz. O repicar do sino da igrejinha de Santo Antônio cadenciava a vida
urbana.
A cidade chegou a possuir um
jornal local de propriedade de Francisco Figueiredo da Silva Duarte, contudo
não passou de três edições; uma banda de música de propriedade do mestre
alferes Raimundo Antônio Luiz da Paz; e uma biblioteca criada pelo Conselho
Municipal, organizada e administrada pelo poeta Moysés Maria Eulálio. Em Campo
Maior realizou-se algumas esporádicas conferências e eventos literários no
Conselho Municipal.
Diante do cenário de pouca opção,
atrações e instrução, sem nenhuma expectativa de crescimento literário. Numa
cidade pequena, com ares de vila, de vida quase rurícola, os escritores partiam
para Teresina em busca de graduação, fama ou talvez alguma visibilidade, mesmo
que secundária, entre os grandes nomes das letras piauienses do início do
século XX, temos como expoentes: Higino Cunha, Abdias Neves, os irmãos
Clodoaldo e Lucídio Freitas, Celso Pinheiro… Fora a capital, Parnaíba era uma
segunda opção dentro do Estado.
No início do século XX, a capital
urbanizava-se, civilizava-se. Teatros, cinemas, jornais, clubes, associações
literárias e a origem da Academia Piauiense de Letras (1917), atraíram pela
efervescência cultural, poetas e outros artistas. O espaço era um campo
bastante disputado na urbe Teresinense.
Primeira Geração de Escritores de
Campo Maior
Os poetas campo-maiorenses não se
dedicavam profissionalmente a literatura, publicavam esporadicamente nos
jornais de Teresina. Poucos eram membros de clubes e associações literárias.
Não militavam no mundo das letras, não buscavam polemizar, apenas colaboravam.
Uns ficavam no anonimato por não alcançar o almejado, outros por opção, a
exemplo do padre Gastão Pereira da Silva, ficava recluso com seus escritos.
Membro de uma família rica e
altamente influente em Campo Maior, entre o final do século XIX até a segunda
metade do século XX, padre Gastão Pereira da Silva, ao contrário de irmãos e
primos buscou a batina em vez da política. Foi ordenado padre em 1910. E durante
o sacerdócio prestou serviço nas paróquias de Campo Maior, Luís Correia, União,
Parnaíba, Altos e Floriano.
Apesar ter nascido em uma família
de políticos, crescido num ambiente de confabulações e tramas, o poder nunca
lhe atraiu. O gosto pelos estudos, pela
leitura certamente foi influência do tio, Agesilau Pereira da Silva, jornalista
e advogado formado na faculdade de direito de Recife-PE, uma das mais
conceituada do Império. Agesilau era uma
figura respeitada na sociedade piauiense pelos cargos políticos que ocupara.
Era um homem culto e de visão, apesar de algumas vezes levantar polêmica por
conta da política. O pai de Gastão possuía modesta formação intelectual.
As poesias do padre Gastão estão
reunidas num caderno, em que o próprio autor intitulou de “Escrínio de
Preciosidades”. São textos inéditos. O caderno contém 11 poemas, sendo quatro
sonetos. Os poemas versam sobre diversas pessoas, contemporâneas e conterrâneas
do padre escritor. Grande parte das poesias de Gastão foi escrita em Fortaleza.
As personalidades descritas nos poemas são de homens e mulheres, que o
influenciaram na poesia, caso do poeta simbolista Celso Pinheiro, pelo exemplo
de vida ou profissão de fé. Atividade literária do padre Gastão situa-se entre
as décadas de 1920 e 1940. Gastão despertou o gosto pela poesia e a escrita ao
ingressar no seminário. O período de formação eclesiástica foi de
amadurecimento poético.
Poeta padre Gastão Pereira da
Silva, filho do coronel Lysandro Pereira da Silva.
Fonte: Demes, Joselina. Floriano:
sua história, sua gente. Teresina: Halley, 2002. p.445-446.
As condições de impressão de
livros no Piauí eram precárias para não dizer inexistente. Gastão não chegou a
publicar seus poemas, preferiu o anonimato. Para os escritores campo-maiorenses
que buscavam o reconhecimento literário recorria-se aos jornais da capital.
Os literatos campo-maiorenses, do
final do século XIX e primeira metade do século XX, eram oriundos de famílias
abastadas, de forte tradição política. Eles tiveram formação educacional
esmerada e grande parte chegou à bacharela em direito, teologia, física e
matemática nas melhores faculdades do Brasil. A maioria residiam ou passava
temporadas em Teresina.
Os poetas tiveram atuações
efêmeras, abandonavam a poesia por conta do casamento, trabalho ou outros
afazeres (Valdivino Tito, Moysés Eulálio, Mário da Costa Araújo…). Mesmo sendo
amadores, determinados poetas campo-maiorenses, por conta das suas publicações
em jornais, conseguiam arrancar alguns comentários da exigente crítica
piauiense.
Os principais nomes da literatura
campo-maiorense, entre as décadas de 1900 e 1950 foram Mário da Costa Araújo
(1896-1971), Manuel Bernardes da Costa Araújo, Valdivino Tito de Oliveira
(1873-1925), Joel Genuíno de Oliveira (1880-1969), Moysés Maria Eulálio
(1871-1931), Otacílio Eulálio (1914-1992), Gastão Pereira da Silva (1886-1944),
Augusto Ewerton e Silva (1862-1939) e Domingos Monteiro (1870-1940). Dentre os historiadores, Joel Genuíno de
Oliveira e Joaquim Antônio de Oliveira (1907-1972) deram sua contribuição para
a cidade das carnaúbas. Artigos de opinião ficavam por conta de João
Crhysóstomo Genuíno de Oliveira. Entre os cronistas, vale citar, Octálio
Eulálio e Mário da Costa Araújo.
A maioria dos escritores atuava
fortemente em Teresina, publicando nos principais jornais da capital e
participando de clubes literários; na Parnaíba, eles editavam seus textos no
Almanaque da Parnaíba. Antônio Bona, membro da APL, residia em São Luís, sempre
que podia enviava seus escritos opinativos para os jornais da capital. As
gazetas de Campo Maior eram poucas e esporádicas. Os poetas campo-maiorenses
eram bem recepcionados pela crítica teresinense, bem aceito nos movimentos e
clubes literários. Moisés Eulálio e João Crhysóstomo Genuíno de Oliveira e Joel
Genuíno de Oliveira compõem o clube literário 12 de outubro, escreviam no
jornal Andorinha da referida associação literária.
Alguns buscavam fama literária em
Teresina, outros não. Uns conseguiram visibilidade e ingressaram em círculos
literários, outros não. Valdivino Tito
foi o de maior projeção cultural e intelectual, reconhecido pela crítica, não
por conta dos textos poéticos e nem pelos ensaios de crítica literária, mas
pelos brilhantes textos jurídicos publicados na Revista Litericultura.
Entre o final do século XIX e
início do século XX, estabeleceu-se o uso da poesia como arma política. Os
poetas denunciavam os defeitos dos adversários. O contexto era de
enfrentamentos, acusações e difamações. Os escritores usavam pseudônimos para
preservar a verdadeira identidade. O principal alvo dos versos ácidos dos
bardos era Lysandro Pereira da Silva, uma das maiores lideranças do município
desse período. Os ataques partiam de ambos os lados. Não havia inocentes. Era
constante a publicação de poesias satíricas, principalmente no jornal A
Legalidade. O poeta buscava convencer o leitor, apresentando os defeitos dos
adversários com o uso de versos maliciosos. Os versos satíricos intencionava
humilhar o adversário.
As brigas entre liberais e
conservadores no período do Império continuaram ferrenha mesmo com a
proclamação da República em 1889, afinal os atores eram praticamente os mesmos,
só que agora filiado a partidos republicanos. As poesias dispersas nos jornais
do século XIX e início do século XX alimentavam essas disputas e intrigas com
versos pejorativos e apelidos.
As origens da literatura
campo-maiorense não deixam dúvidas de que os arsenais de textos partem da
família Castelo Branco. Sua magnitude se expandiu a todas as atividades que
deram a Campo Maior a formação de cidade que vemos até hoje. Eles, sem sombra
de dúvidas mesclaram seus conhecimentos oriundos da Europa com os regionais,
estabelecendo assim uma identidade própria.
FONTES CONSULTADAS
AIRES, Félix. Antologia de
Sonetos Piauienses. Teresina-PI: Academia Piauiense de Letras, 1972.
BRASIL, Assis. A Poesia Piauiense
no século XX. Rio de Janeiro: Imago Ed/ Teresina: FCMC,1995.
CHAVES, Monsenhor. Obra Completa.
Teresina: FCMC, 2013.
DEMES, Joselina. Floriano: sua
história, sua gente. Teresina: Halley, 2002. p.445-446.
FREITAS, Clodoaldo. Vultos
Piauienses: apontamentos biográficos. Teresina: Academia Piauiense de Letras/EDUFIP,
2012.
LIMA, Reginaldo Gonçalves.
Geração Campo Maior: anotações para uma enciclopédia. Campo Maior-PI, edição do
autor, 1995.
QUEIROZ, Teresinha de Jesus
Mesquita. Os literatos e a República: Clodoaldo Freitas, Higino Cunha e as
tiranias do tempo. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1994.
Amigo Elmar, você sabe algum dado sobre Lisandro Tito de Oliveira, com relação à cidade de Campo Maior. Acredito que era irmão de Valdivino Tito.
ResponderExcluirAgradeço ao amigo se me imformar ao menos um breve biografia do Lisandro Tito.
Boa noite, um fraternal abraço.